Governador se irritou com pressão para que decida se é candidato a presidente da República
Gustavo Uribe, Letícia Lins
SÃO PAULO e RECIFE - No momento em que a presidente Dilma Rousseff demonstra incômodo com a presença do PSB na Esplanada dos Ministérios, o presidente nacional da sigla, Eduardo Campos, desembarca na noite desta segunda-feira em Brasília, onde deve atuar para evitar uma ruptura do seu partido com o governo federal.
A expectativa é de que, além de cumprir agenda administrativa, o governador de Pernambuco se reúna com os ministros Fernando Bezerra Coelho, da Integração Nacional, e Leônidas Cristino, da Secretaria dos Portos, titulares das pastas controladas pelo PSB no governo federal. Um encontro com a presidente Dilma Rousseff ainda não está definido.
Nos últimos meses, a presidente Dilma Rousseff tem sido pressionada por um ala do PT que defende o desembarque do PSB da Esplanada dos Ministérios. O grupo recebe o apoio do PMDB, favorito para ocupar as duas pastas atualmente controladas pelo PSB.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva viajou na semana passada a Brasília para demover Dilma Rousseff de tomar uma decisão precipitada. A ordem dentro do PT é de, por enquanto, esperar os próximos passos do PSB.
Irritado com as cobranças do PPS e do PSDB para que defina logo se é candidato à sucessão presidencial, Campos reagiu nesta segunda-feira com um recado curto e grosso à pressão feita pelos deputados Sérgio Guerra (PSDB-PE) e Roberto Freire (PPS-SP):
— Ninguém precisa esperar o PSB — avisou Campos, ao final de uma cerimônia no Centro de Convenções de Olinda, sede provisória do governo do estado, onde assinou ordem de serviço para reconstrução da PE-63, uma rodovia de duas décadas, que corta a zona da mata de Pernambuco, e que se encontra em condições bem precárias.
Normalmente paciente e bem humorado, ele pareceu não ter ficado à vontade com os comentários feitos pelos dois parlamentares. Guerra cobrou posição política, pedindo que ele definisse se é da oposição ou da situação, na eleição presidencial. Freire afirmou no fim de semana que o PSB precisa, o quanto antes, resolver se vai lançar candidato próprio em 2014. E até sugeriu que Campos, que também é presidente nacional do PSB, o faça até o próximo dia 20. Freire afirmou, inclusive, que caso o PSB não se defina logo, seu partido deverá apoiar o candidato do PSDB à sucessão presidencial, Aécio Neves.
— O tempo do PSB é o tempo do PSB. E esse tempo já foi definido, já falei para vocês, não tem notícia — avisou o governador, irritado. — Vocês não têm notícia para fazer comigo? Vocês precisam fazer pergunta sobre notícia. Agora querer fazer notícia em cima de mim, a essa altura, não é o caso. Quando tiver, vocês fazem. Você pergunta sempre a mesma coisa. Vamos aos fatos, não vamos fazer fato do vento.
Campos disse que está falando a mesma coisa desde que foi eleito:
— Temos um tempo e respeitamos a posição de cada partido. Quem acha que deve decidir amanhã, define amanhã. Quem acha que define no próximo mês, define. Mas tem quem ache que precisa cuidar do Brasil.
Sobre a cobrança de Sérgio Guerra, disse que é amigo do tucano, que por sinal foi secretário do seu avô quando governador — o falecido Miguel Arraes — e já foi do seu partido, o PSB.
— Nossa amizade está preservada, mas ele sabe muito bem qual é a nossa posição. Desde 1984, estamos em palanques distintos.
Sobre as pressões que vêm aumentando por uma definição do PSB, o governador afirmou:
— Nada a comentar, nada a comentar. Não sei por que essas pessoas estão tão preocupadas. Eu não estou. Por que tanta preocupação? Essas pessoas tomem a posição que acham que devem tomar, conduzam as políticas dos seus partidos no ritmo que devem seguir. Eles têm liberdade para isso. O PSB tem dinâmica própria, tem uma discussão própria, um tempo próprio, e vai decidir na hora própria. Isso não quer dizer que ninguém precisa esperar o PSB. Absolutamente. Apenas respeitamos a posição de cada partido. Cada qual tem o seu tempo. Mas tem quem ache que é tempo de cuidar do Brasil. Cuidar de fazer escola, estrada, saúde. A população está muito mais preocupada com essas coisas do que com discussão política. Ela se sente muito mais atraída por notícias que falam de segurança, saúde, geração de emprego do que diálogo entre políticos, quem vai e quem não vai ser (candidato) — disse Campos.
Fonte: O Globo
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