Não são auspiciosos, para dizer o mínimo, os mais recentes movimentos de Michel Temer às vésperas de, conforme tudo indica, assumir a Presidência, assim que se consumar o afastamento de Dilma Rousseff. No instante em que grande parte do País deposita suas esperanças na capacidade de Temer de articular um novo governo em bases muito diferentes das atuais, em que prevalece a cavilação dos espertalhões em detrimento dos interesses nacionais, o líder peemedebista tem se permitido associar seu nome a situações e arranjos que frustram, desde já, as expectativas a seu respeito. Cria-se a indesejada sensação de que os articuladores do novo governo, com a participação de notórios encalacrados em escândalos presentes e pretéritos, pretendem mudar tudo para, na verdade, tudo ficar como está. Ele está cometendo muitos dos erros que levaram Dilma Rousseff ao triste ponto a que ela chegou.
Foi decepcionante observar, por exemplo, a desenvoltura da “tropa de choque” do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na residência oficial de Temer, o Palácio do Jaburu, justamente no momento em que o Supremo Tribunal Federal (STF)votava a suspensão do mandato do notório parlamentar.
Perguntaram-se todos os brasileiros de bem: que fazia ali, na casa de Temer, a turma dos que se empenharam, nos últimos meses, em procrastinar o andamento do processo contra Cunha e fazer da Câmara uma “comuna de intocáveis”, como anotou o ministro do STF Teori Zavascki? E mais: por que Temer permitiu que essa mesma turma elaborasse uma nota para contestar a decisão do Supremo e ameaçasse até mesmo descumprir a ordem?
Segundo informou o Estado, Temer não apenas consentiu que tudo isso acontecesse em sua sala de estar, como deu palpites na elaboração da nota que manifestou a “indignação” daqueles deputados, conforme as palavras de Paulinho da Força (SD), fidelíssimo companheiro de Cunha. Menos mal que Temer tenha dissuadido os parlamentares de desobedecer ao STF, mas essa cautela melhora pouco a sua imagem, uma vez que o peemedebista foi o anfitrião de tão descabida reunião e ainda colaborou, junto com outros articuladores de seu futuro governo, para que dela se tirasse uma posição que afronta o Supremo.
Diante da desagradável surpresa que a notícia causou, Temer tratou de mandar sua assessoria dizer que ele “não avalizou ou apoiou” o documento, embora tenha manifestado respeito pela ação dos deputados. Ademais, esclareceu a assessoria, é comum que políticos usem o Palácio do Jaburu para se reunir – algo cuja extravagância supera qualquer explicação razoável.
É evidente que Temer, na árdua tarefa de montar uma confortável maioria no Congresso para aprovar as urgentes medidas contra a profunda crise no País, tem de dialogar com políticos das mais variadas extrações. Não está escrito em lugar nenhum, porém, que ele tenha de dar guarida àqueles que só estão interessados em se proteger da Justiça e em continuar livremente a mercadejar seus votos, perpetuando o nefasto toma lá dá cá que marcou a trevosa passagem do PT pelo governo.
Foi a essa situação reprovável, aliás, que se referiu o advogado Antonio Cláudio Mariz de Oliveira ao declinar o convite para ser ministro da Defesa. Antes escolhido por Temer para ser ministro da Justiça, Mariz de Oliveira acabou sendo preterido em razão de suas críticas à Operação Lava Jato – e a pasta da Defesa seria uma espécie de “prêmio de consolação”. Mas Mariz de Oliveira considerou estranho que suas opiniões sobre a Lava Jato o tenham desqualificado para a Justiça, enquanto entre os nomes sondados para cargos no governo estão alguns implicados na mesma Lava Jato.
É importante que Temer tenha em mente que o Brasil já decidiu, nas gigantescas manifestações contra o desgoverno corrupto do PT, que não quer esse modelo de País – que enriquece os ladravazes, pune os cidadãos de bem e condena a coletividade ao atraso. A Nação deseja firmemente dos novos titulares do poder que simplesmente digam não aos que pretendem continuar sua farra obscena, pois o fisiologismo não é uma necessidade incontornável. Temer não pode abrir as portas nem do Jaburu nem do governo para essa gente. Deve reunir auxiliares em torno de ideias e competências – e não satisfazer interesses de pessoas e grupos que fatalmente o deixarão falando sozinho. O toma lá dá cá não faz maioria parlamentar para patrocinar reformas. Faz lambanças.
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