quarta-feira, 25 de julho de 2018

Posto de vice na chapa de Alckmin provoca divisões no Centrão e no PSDB

Por Raphael Di Cunto, Vandson Lima, Fernando Taquari e André Guilherme Vieira | Valor Econômico

BRASÍLIA E SÃO PAULO - Com a possibilidade praticamente descartada de o empresário Josué Gomes, do PR, compor como vice na chapa do presidenciável de Geraldo Alckmin (PSDB), o posto ficou vago a dois dias da data em que o "Centrão" pretendia oficializar o apoio à candidatura do tucano e começaram a surgir movimentos para indicar outros nomes para a vaga.

As cúpulas dos partidos do Centrão (DEM, PP, PR, PRB e SD) se reunirão num jantar hoje em Brasília para discutir o cenário após Josué, indicado por eles, deixar Alckmin "à vontade" para escolher outro candidato a vice. O empresário é filho do ex-vice-presidente José Alencar (1931-2011) e tem uma relação muito próxima com o PT e com o ex-presidente Lula.

O PR faz um esforço para convencer o empresário a recuar e aceitar a vaga, mas os tucanos e integrantes do Centrão já estudavam e articulavam outros nomes ontem. Um dos que surgia com mais força era do ex-deputado e ex-ministro Aldo Rebelo, defendido pelo SD e parte do DEM pelo bom trânsito com vários partidos e que tem o perfil desejado pelo PSDB, de um político respeitado do Nordeste.

Os tucanos, contudo, fazem ressalvas a Aldo por ser um nome muito identificado com a esquerda - ele foi filiado ao PCdoB por 40 anos e ministro da presidente cassada Dilma Rousseff (PT) e de Lula - e discutem outras possibilidades: a senadora Ana Amélia (PP-RS), o empresário Flávio Rocha (PRB) e o ex-ministro da Educação e deputado Mendonça Filho (DEM-PE).

O Valor apurou com pessoas próximas a Josué que ele ainda não tinha descartado totalmente a oferta e disse que decidiria até amanhã, data em que o Centrão deve anunciar a aliança com o tucano. Nessas conversas, o empresário garantiu que não tem um plano B, como, por exemplo, concorrer a vice de Minas Gerais na chapa de Fernando Pimentel (PT).

Em respeito a um pedido de Valdemar Costa Neto, que comanda o PR, Alckmin disse ontem de manhã que ainda apostava na composição com o empresário, apesar dos indicativos de que ele não aceitaria concorrer. O tucano e Josué se encontraram duas vezes na segunda-feira. "Continuo apostando. Se não for Josué, vamos buscar outro nome", disse o pré-candidato.

Alckmin afirmou que a conversa entre ele e Josué "foi muito boa". "Ele já está na campanha, trabalhando, empenhado. Se vai ser candidato a vice ou não, vamos aguardar", disse o tucano, que acrescentou que, independentemente da decisão, Josué se comprometeu a apoiá-lo.

O PR também divulgou nota ontem para negar uma definição. "Ainda não há registro de qualquer decisão do republicano Josué Gomes, convidado para ser o vice da chapa encabeçada por Geraldo Alckmin", disse o partido, que não admite a discussão de uma alternativa para a chapa antes de um esforço final.

Questionado sobre um plano B, o presidenciável do PSDB desconversou e evitou até informar se o Centrão terá a prerrogativa de indicar o novo nome, mas garantiu espaço para o grupo na coordenação política da campanha e na elaboração do programa de governo. Apesar das críticas do DEM, o ex-governador Marconi Perillo (PSDB), adversário do senador Ronaldo Caiado (DEM) em Goiás, continuará à frente da coordenação geral, afirmou Alckmin.

Embora o tucano tenha negado, a prerrogativa da escolha do vice é do Centrão, reforçam integrantes do PSDB. Há alguns pré-requisitos que precisam ser preenchidos: um nome que agregue em algum aspecto (regional, por exemplo), sem citações em casos de corrupção e que seja "previsível" do ponto de vista do discurso - ou seja, não cause embaraços com declarações polêmicas.

Outro pré-requisito citado é que o vice precisa passar "segurança" para eventualidades. Lembram que, desde a redemocratização, o Brasil já teve três vices assumindo a cadeira: José Sarney, por conta da morte de Tancredo Neves; Itamar Franco e o atual presidente, Michel Temer, por processos de impeachment de Fernando Collor e Dilma.

Senadora pelo Rio Grande do Sul, Ana Amélia agregaria votos no Sul, onde Alckmin têm perdido espaço com a candidatura de Álvaro Dias (Podemos) e é mulher. Mas ela própria tem rechaçado a possibilidade e prefere concorrer à recondução ao Senado. A cúpula do PP também prefere eleger uma bancada forte no Senado para disputar a presidência da Casa contra o MDB.

Flávio Rocha, dono da Riachuelo, é pouco conhecido e avaliado com pouco potencial para trazer votos. Ele tentou concorrer à Presidência este ano, mas o PRB preferiu a aliança com Alckmin. Já no caso de Mendonça Filho, o DEM não gostaria de "desbalancear" a aliança. A sigla tem clara preferência, na futura divisão de poder, por ter o apoio para a reeleição de Rodrigo Maia (DEM) no comando da Câmara dos Deputados e pode deixar a vice para os outros parceiros. Além disso, Mendonça foi ministro de Temer, o que pode causar questionamentos, e é um candidato com potencial para a eleição ao Senado em Pernambuco.

O apoio do Centrão deve ser oficializado amanhã, ainda não se sabe se num ato desses partidos ou apenas por nota oficial. A chapa precisa estar formada até o dia 15 de agosto, quando é feito o registro da candidatura, mas os tucanos gostariam de anunciar a composição até dia 4, quando ocorrerá a convenção para oficializar Alckmin como candidato ao Palácio do Planalto.

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