Cotado para substituir Lula na eleição, Haddad parece mais preocupado em agradar à militância
Ainda não se sabe quem aparecerá na urna eletrônica quando simpatizantes digitarem o número do PT em outubro. Mas talvez o mais difícil seja adivinhar o que os petistas farão se vencerem a eleição e voltarem a ocupar o Palácio do Planalto.
Na semana passada, o partido divulgou um esboço da plataforma que defenderá na campanha presidencial. Com apenas seis slides e linguagem telegráfica, a apresentação oferece um resumo pífio da plataforma, cuja íntegra a sigla promete divulgar em uma semana.
Em entrevistas concedidas a esta Folha e a outros veículos nos últimos dias, o ex-prefeito Fernando Haddad, que coordena a elaboração do documento, detalhou algumas das suas propostas, mas o resultado se revelou igualmente frustrante.
Ele é um dos cotados para substituir o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como candidato ao Planalto se a Justiça barrar, como se espera, a indicação do líder petista, preso há mais de três meses.
Ao falar do programa de governo, a impressão que Haddad passou foi a de quem está mais preocupado em agradar à militância do que em propor soluções para os desafios que o país enfrenta.
Segundo o ex-prefeito de São Paulo, uma das prioridades seria reduzir a concentração da propriedade de veículos de comunicação no Brasil, com o objetivo de aumentar a diversidade, especialmente nos meios eletrônicos.
Não se discute a relevância do tema, mas é fácil perceber que sua inclusão no programa petista só serve para animar quem culpa a Rede Globo pela prisão de Lula e os que sonham com mecanismos de controle da liberdade de expressão.
Haddad também adiantou que, para persuadir os bancos a reduzir os juros cobrados em seus empréstimos, o PT proporá um novo regime tributário. A ideia é onerar as operações em que o crédito for mais caro, oferecendo vantagens para quem cobrar taxas menores.
É difícil entender como a proposta contribuiria para uma solução, num mercado em que cinco bancos controlam quase toda a oferta de crédito. Mas banqueiros são alvo fácil em campanhas eleitorais, e os petistas querem falar grosso.
Questões essenciais parecem ter sido deixadas de lado. Consultados sobre a expansão dos gastos com a Previdência Social, os petistas tergiversam. Haddad fala em atacar privilégios de servidores, mas não diz como exatamente isso seria feito.
Mesmo assim, há espaço no programa para defender a recuperação dos investimentos públicos e a retomada de obras da Petrobras, sem que se vislumbrem os mecanismos que permitiriam financiá-las.
Pode ser um jeito de fugir do acerto de contas com o passado. Em vez de assumir sua responsabilidade pela crise que o país atravessa e apontar saídas, o PT parece apostar na nostalgia e no proselitismo.
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