Por Fabio Murakawa | Valor Econômico
BRASÍLIA - O governador do Espírito Santo, Paulo Hartung (MDB), decidiu repensar sua decisão de não concorrer à reeleição. Ao ver sua base política se esfacelar, Hartung reuniu-se ontem com líderes governistas e provocou nova reviravolta na corrida eleitoral no Estado. Depois do encontro, aliados davam como certa a recandidatura.
O vaivém do governador provocou mal-estar no PSDB, seu principal parceiro, e o problema chegou ao presidenciável tucano Geraldo Alckmin. O vice-governador César Colnago é favorável à continuidade de Hartung. Já o senador Ricardo Ferraço, que tenta a reeleição, defende uma aliança com o ex-governador Renato Casagrande (PSB). Ambos se reúnem com Alckmin hoje, em São Paulo, para tentar uma definição.
Há duas semanas, Hartung surpreendeu os partidos que o apoiavam ao anunciar que não disputaria um novo mandato. A desistência provocou um racha em sua base abriu uma disputa pelo espólio do governador entre dois de seus maiores rivais locais. A eleição se polarizou entre Casagrande e a senadora Rose de Freitas (Podemos).
Rose deixou o MDB antes da desistência de Hartung e agora estava perto de fechar uma aliança com seu ex-partido. Na manhã de ontem, no entanto, ela encontrou o deputado federal Lelo Coimbra, presidente do MDB capixaba, que lhe informou a respeito do recuo do governador.
"[Lelo Coimbra] esteve aqui hoje de manhã, dizendo que teria uma reviravolta, que o pessoal [partidos da base] estava pedindo para o Paulo [Hartung] voltar", disse a senadora. "Será que algum dia saiu de verdade? A gente não sabe."
Rose negociava também com o PRB. Ligado à Igreja Universal, o partido vinha trabalhando, para o Senado, o nome do deputado estadual Amaro Neto, apresentador da edição local do programa "Balanço Geral", da TV Record. Agora, Neto é cotado para assumir a vice de Hartung. Com isso, Rose ficou isolada e pode reavaliar a sua candidatura. "Tenho que sentar com todo mundo, para ver o que vai acontecer", disse ela.
Caso se confirme o arranjo entre Amaro Neto e Hartung, abre-se espaço para Ferraço compor uma chapa governista. Ele não queria dividir o palanque com o deputado estadual por considerar a candidatura dele uma ameaça às suas pretensões de retornar a Brasília para mais um mandato. O outro postulante, o senador Magno Malta (PR), tem a reeleição praticamente assegurada.
Além de fechar com Casagrande, Ferraço ainda havia conseguido atrair para a aliança com o socialista o DEM, comandado no Estado por seu pai, Theodorico Ferraço. Até a noite de ontem, Theodorico se dizia a favor da manutenção do acordo.
"Para mim, não mudou nada. O partido está firme com o Renato Casagrande e vamos em frente", disse Theodorico ao Valor. "PSDB, PDT e DEM firmaram acordo de união em favor do Casagrande, com palanque para Ciro [Gomes] e [Geraldo] Alckmin."
Ele pediu ainda "juízo" ao filho sobre manter o acordo que costurou em torno do socialista.
"O PSDB, eu acredito que não voltará atrás, o que seria muito ruim para o partido", disse o deputado. "Espero que o partido tenha o necessário juízo de valor para mostrar aos Espírito Santo que os políticos têm vergonha na cara."
Divulgada na semana passada, uma pesquisa do instituto Futura colocou Casagrande como o grande vencedor com a possível saída de Hartung do páreo.
O pré-candidato do PSB tem 58,4% das intenções de voto, seguido por Rose de Freitas, com 12,8%. O tenente-coronel da PM Carlos Alberto Foresti (PSL), apoiado por Jair Bolsonaro, tem 4,3% nesse cenário. Colnago tem 4%. O vice-governador chegou a se oferecer para ser o candidato palaciano, mas seu nome não conseguiu unir os partidos que orbitam em torno de Hartung.
No cenário com Hartung, Casagrande segue liderando, com 42%, seguido pelo governador, que aparece com 32,9% das intenções de voto. Nesse cenário, Rose cai para 6,9%. No levantamento anterior, de abril, Casagrande e Hartung estavam tecnicamente empatados, com 36,9% e 36,1%, respectivamente.
A pesquisa foi registrada no Tribunal Regional Eleitoral (TRE-ES) sob o número ES-09041/2018. O instituto Futura entrevistou 800 pessoas, em 20 municípios do Espírito Santo, entre 10 e 13 de julho. A confiabilidade é de 95% e a margem de erro é de 3,5 pontos percentuais para mais ou para menos.
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