Há
um ano havia pouco mais de 132 mil casos confirmados de Covid-19 no mundo e
cerca de 5 mil mortes em todo o planeta. Hoje são 125 milhões de casos e as
mortes se aproximam de 3 milhões no mundo todo. A economia global perdeu cerca
de 8% da renda conjunta de todos os países, sendo que a distribuição de perdas
foi determinada, em grande medida, pelo controle da epidemia: países com
epidemias descontroladas sofreram mais do que aqueles que souberam agir rápido
para conter o desastre humanitário. A inação do G20, grupo que reúne países
avançados e emergentes, contribuiu para o quadro desigual, mas os países têm
diferentes graus de responsabilidade pelo estrago que os acometeu.
Uma ação global coordenada dos Estados poderia ter contribuído para salvar vidas caso tivesse sido adotada desde o início da crise, reconhecendo que um vírus que cruza fronteiras com tanta facilidade jamais seria contido por meio de ações individuais. No lugar de agir de forma coordenada, os Estados Unidos, em 2020, sob o comando de Donald Trump, decidiram sair da Organização Mundial da Saúde (OMS), enquanto praticamente todos os países membros do G20 impunham medidas de restrição às exportações de equipamentos médicos. Tais restrições desarticularam as cadeias de produção global, afetando a capacidade de resposta à pandemia no mundo todo. A fracassada cooperação nas áreas de saúde pública, comércio e ajuda financeira emergencial ceifou vidas e PIBs. A persistência desse fracasso na cooperação para a distribuição de vacinas continuará a ter um custo elevado.
Motivados
por essas enormes falhas e suas implicações para a saúde pública, a economia, a
geopolítica, bem como pelo surgimento de novas e perigosas variantes do vírus
causador da Covid-19, lançamos no Peterson Institute for International
Economics (PIIE) o projeto “Economic Policy for a Pandemic Age”. O projeto é
liderado por mim em conjunto com Adam Posen, presidente do PIIE, e por Maurice
Obstfeld, pesquisador do mesmo instituto e professor na Universidade da
Califórnia/Berkeley. O e-book, intitulado PIIE Briefing, reúne contribuições de vários
pesquisadores e será publicado na próxima semana, logo antes da reunião do G20.
O intuito é chamar a atenção para a urgência da cooperação internacional na
matéria e alertar para os riscos de complacência: ainda que tenhamos vacinas,
elas estão mal distribuídas mundo afora, e a pandemia não estará sob controle
no mundo enquanto houver algum país em que ela esteja descontrolada.
O
governo de Joe Biden tem demonstrado maior compreensão da natureza global da
resposta à Covid-19. Sob sua liderança, os Estados Unidos voltaram a integrar a
OMS e a financiá-la, o que é muito bem-vindo. Por outro lado, o país hoje
dispõe de 1 bilhão de doses de diferentes vacinas para uma população de 330
milhões de pessoas, ou seja, o apoio à coordenação global e à reconstrução do
multilateralismo, até aqui expresso em palavras, terá de contar com ações
concretas para a distribuição dessas vacinas.
O PIIE Briefing esmiúça as
principais lições que devem ser incorporadas ao se desenharem respostas a essa
e a outras pandemias. Cada capítulo desenvolve recomendações de políticas
públicas para evitar os erros cometidos no último ano e corrigir o rumo de
ações tomadas. Tratamos de ações multilaterais e de medidas estatais
individuais para que o mundo lide de forma mais justa e competente com a
inevitável realidade de pandemias recorrentes. As últimas décadas e o presente
nos fazem pensar que já não há mais espaço para deixar de lado a saúde pública.
Por isso, a saúde pública e a cooperação internacional são eixos centrais na
elaboração das diversas medidas econômicas que propomos.
A
pandemia de Covid-19 só não está perto do fim porque faltou ao mundo, além de
aos países individualmente, a compreensão de sua dimensão global.
Mas
ainda é possível corrigir trajetórias, sobretudo no que diz respeito à
vacinação. Não veremos o fim desta pandemia enquanto todos os países do mundo
não tiverem acesso às doses para imunizar suas populações e, em particular, a
ajuda para que possam fazê-lo o mais rapidamente possível.
*Monica de Bolle é Pesquisadora Sênior do Peterson Institute for International Economics e professora da Universidade Johns Hopkins
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