De onde o general
Braga Netto tirou que as Forças Armadas devem proteger a democracia e a
liberdade do povo? Foi o que ele disse no discurso de posse dos novos
comandantes das Forças Armadas. “Marinha, Exército e Aeronáutica se mantêm
fiéis às suas missões constitucionais de defender a pátria, os poderes
constitucionais e as liberdades democráticas”, acrescentando em seguida: “Neste
dia histórico, reforço que o maior patrimônio de uma Nação é a garantia da
democracia e da liberdade de seu povo”.
Pode-se até aceitar
como razoável que Exército, Marinha e Aeronáutica trabalhem pela manutenção da
democracia, mas não é este o seu papel constitucional. O artigo 142 da
Constituição estabelece que as Forças Armadas destinam-se à defesa da pátria,
dos poderes constitucionais, da lei e da ordem. Não faz, em tempo ou canto
algum, referência a garantias da liberdade do povo brasileiro. Nem menção à
democracia. Quem cuida do povo e do regime de governo são os poderes
constituídos, não as Forças Armadas.
Parecia
pegadinha,
ou talvez fosse apenas mais um carinho no chefe. Sabe-se muito bem do apreço
exagerado do general pelo capitão. O fato é que Braga Netto usou democracia e
liberdade do povo com a mesma lógica que a sua colega Damares Alves tratou dos
direitos humanos na terça-feira passada. Damares foi explícita. Enviou ofício
ao procurador Augusto Aras pedindo “providências” contra supostos abusos na
decretação de restrições de estados e municípios para conter a pandemia de
coronavírus.
Não ria, a ministra acha que é crime contra os direitos humanos impedir as pessoas de irem a restaurante, praia ou clube. Braga ficou na retórica, mas seu discurso pode ser entendido da mesma maneira. Como se dissesse estar pronto para empregar as Forças Armadas se a liberdade do povo de ir a restaurante, praia ou clube for ameaçada.
Bobagem, claro. Nem Braga,
nem Bolsonaro têm as Forças Armadas. O Exército não é do capitão. Mas o
general, que diz saúde ao presidente mesmo quando ele não espirra, não dá ponto
sem nó.
Naquele
discurso repetiu duas vezes que os homens ali perfilados foram nomeados pelo
“comandante em chefe das Forças Armadas, o excelentíssimo senhor presidente
Jair Bolsonaro”. O excelentíssimo, sabe-se muito bem agora, foi obrigado a
engolir general, almirante e brigadeiro. Sobretudo o general Paulo Sérgio
Nogueira de Oliveira.
Fora o discurso camuflado, o general tentou demonstrar, logo que assumiu o Ministério da Defesa, uma autoridade que não tem sobre o Alto Comando do Exército, nem jamais terá. E, antes disso, correu para endossar a orientação do presidente de celebrar o 31 de março.
Foi
tão afoito que soltou a nota esdrúxula no dia 30. Não preciso reiterar o que
todos já escreveram sobre celebrar aniversários de ditaduras.
DIA D
O
Centrão espera ansioso o Dia D, que será o 5 de julho, data em que o ministro
Marco Aurélio Mello se aposenta no Supremo Tribunal Federal. Lira e companhia
querem que o presidente nomeie mais um
ministro garantista. Ele pode ser terrivelmente evangélico,
cristão, judeu ou ateu, não importa. O importante é que reze na cartilha de
Gilmar Mendes. O futuro de Bolsonaro será então lançado, mas claro que ele
sempre poderá oferecer mais vagas na Esplanada para se proteger. Saudades do
Rodrigo, capitão?
RENAN
TAMBÉM
Jornalistas
têm recebido mensagens de leitores surpresos com o que chamam de boa vontade da
imprensa com Lula. A queixa não é justa. Mas é importante observar que as
pancadas que Bolsonaro recebe pelos seus permanentes ataques contra a vida e suas
seguidas ameaças à democracia fazem com que o tratamento dispensado a gente
como Aécio Neves e até o sumido Renan Calheiros pareça gesto de simpatia.
MEA
CULPA JAMAIS
Aliás,
Lula não consegue mesmo fazer um mea culpa. Na entrevista que deu para Reinaldo
Azevedo, na Band News, o ex-presidente disse que os diretores do PT que colocou
na Petrobras não
roubaram da estatal, quem subtraiu da empresa foram os
funcionários de carreira. Francamente. Faltou dizer que o dinheiro que estes
desviaram foram para os partidos da base, inclusive o PT. Não falou, mas também
não foi perguntado.
PAVOR
O
valentão do Palácio do Planalto está morrendo de medo da eleição do ano que
vem. E não é só por causa do Lula.
RACIONAMENTO
A
ideia do ministro Marcelo Queiroga de racionar oxigênio nos hospitais só
é pior do que a de Janaína Paschoal
de adotar uma “solução final” para os idosos. Mas esta também já não tem mais
cura.
KISS ME,
BABE
Merece
um beijo do Fabrício Queiroz quem acreditou na promessa de campanha de Bia
Kicis para a presidência da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. Ela
jurou que depois de eleita iria se pautar pelas regras democráticas. Era
lorota, claro.
SÉRIE
IMPERDÍVEL
São
apenas três episódios, mas mostram com clareza cristalina como uma pessoa
consegue se autodesintegrar apenas fazendo bobagem. No primeiro capítulo, o
protagonista, um capitão reformado, perde feio para o antagonista da calça apertada que
quer salvar a comunidade enquanto ele tenta matar todo mundo. No segundo, um
grupo do Centro de Autoajuda enquadra o personagem e o obriga a jogar amigos ao
mar. No terceiro episódio, o capitão fracassa ao tentar se recuperar usando a
força. Só que a força não era sua, como ele vai descobrir ao final da saga.
Chama-se “As derrotas do capitão” e está disponível em todos os canais. Em
alguns, contudo, foram feitas edições para amenizar o impacto das tontices do
personagem, o que acaba tornando a série meio incompreensível.
GRAÚNAS
Dois
deles têm mais de 60 anos, o terceiro esconde a idade, mas deve estar por aí
também. O curioso é que os três novos comandantes das Forças Armadas não
possuem sequer um fio
de cabelo branco. Não sei se isso é coisa do seu passado de
atleta, da boa genética, do Grecin ou do Koleston.
JUSTIÇA
MILITAR
Está
mais do que provado que o Superior Tribunal Militar é uma anomalia e deveria
ser extinto. Bolsonaro, por exemplo, fez até croquis para explodir bombas em
quartéis e saiu ileso de julgamento militar. Se é para inocentar, já temos o
STF, oras.
CUSTO
ZERO
Excelente
e corajoso o plano de US$ 2,3 trilhões do presidente americano Joe Biden para
transformar e modernizar os Estados Unidos. Para modernizar o Brasil, que é
mesmo um país abençoado por Deus, desnecessário qualquer dinheiro, basta que se
remova o presidente da República. O Brasil sai dos anos 1970 e volta
imediatamente para a década de 2020.
RAMIRO
Errei no sábado passado. Chamei o chanceler Ramiro Saraiva Guerreiro de Raimundo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário