Silêncio
como resposta
Fora países de regime totalitário como China, Rússia, Coreia do Norte e Cuba, por exemplo, onde mais seria possível ao presidente da República ou ao chefe de Estado demitir o ministro da Defesa e substituir os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica sem dar nenhuma satisfação aos seus governados?
Foi
o que aconteceu por aqui esta semana. Cobra-se desde então que o presidente
Jair Bolsonaro explique por que assim de repente, sem prévio aviso, despachou o
general Fernando Azevedo e Silva, da Defesa, durante uma conversa de cinco
minutos, e forçou em seguida a saída dos comandantes das Forças Armadas.
A resposta tem sido o silêncio. Na melhor tradição das ditaduras, aconteceu uma troca de peças servida como reforma ministerial e Bolsonaro se recusa a dizer por quê. O ex-presidente Lula afirmou que não vê nada demais nisso. Mas sua opinião não deve ser lida ao pé da letra. Lula quer que Bolsonaro se estrepe.
Tudo o que se sabe a respeito até agora deriva de informações vazadas a conta-gotas por gente próxima a Bolsonaro, e de deduções feitas por quem se dedica a analisar a trajetória do governo. Desconsidera-se a força do acaso na História. O ser humano depende de narrativas para entender o mundo.
A
narrativa mais comum é que acuado pela pandemia, o Centrão atrás de mais
cargos, o medo do impeachment e da traição de quem antes o apoiava, e o
desastre da economia que só faz aumentar o número de desempregados, Bolsonaro
procurou consolo junto aos fardados e não obteve. Aí chutou o pau da mesa.
O
que ele batizou de “meu Exército” não pareceu disposto a bancar a aventura de
entornar o caldo para que governasse com poderes discricionários. O general
Edson Leal Pujol, comandante do Exército, não era o general Eduardo Villas
Bôas, ex-comandante e conselheiro de Bolsonaro quando candidato.
Villas
Bôas não teve vergonha de pressionar o Supremo Tribunal Federal para que
negasse um habeas corpus que permitiria a Lula disputar as eleições de 2018
onde o favorito era ele, não Bolsonaro. Pujol cumprimentou Bolsonaro presidente
tocando com o seu o cotovelo dele e disse que política não combinava com farda.
Com
a farda do brigadeiro novo comandante da Força Aérea Brasileira, combina, sim.
O brigadeiro é bolsonarista, e apressou-se a tratar o presidente como supremo
comandante das Forças Armadas, o que o deixou empolgado. Mas o general Paulo
Sérgio, novo comandante do Exército, faz mais o estilo de Pujol.
O
Estado Maior do Exército deu um jeito de empurrá-lo goela abaixo de Bolsonaro
que, se confrontado, costuma miar fininho. Vida que segue, por ora.
Ressalte-se: por ora. O desespero do presidente só tende a crescer com os
resultados negativos colhidos no desempenho no cargo e a conduta errática do
seu governo.
Outubro
de 2022 é logo ali e, no entanto, ainda está tão longe.
Candidato a virar jacaré
O
presidente e a vacina
Nas
últimas 24 horas, correu em Brasília a notícia de que o presidente Jair
Bolsonaro deverá ser vacinado hoje contra a Covid. Arrisca-se a virar um
jacaré, a se levar em conta a advertência que fez quando pressionado a
comprar vacinas. Bem, mas e daí?
A
coerência não é o forte dele. Nada lhe custa dizer uma coisa amanhã e seu
oposto depois de amanhã. É uma maneira de confundir as pessoas. Revela também
seu desconhecimento sobre a maioria dos assuntos que é obrigado a tratar.
Ninguém
mais do que Bolsonaro sabotou a importação de vacinas com os argumentos mais
desvairados. Para quê tanta pressa? Morreriam os que tivessem de morrer. A
pandemia estava no seu finalzinho. As vacinas não são inteiramente seguras.
Deu
de se exibir nos últimos dias usando máscara. Mas enquanto seu novo ministro da
Saúde, apesar dos pesares, tenta fazer algo de útil no combate ao vírus,
Bolsonaro ainda se esforça em deixar a pandemia continuar rolando sem freios.
Marcelo
Queiroga, o ministro que sucedeu ao general Eduardo Pazuello, de triste
memória, avisou aos secretários estaduais de saúde que tentará formular uma
série de orientações para padronizar nacionalmente a guerra à Covid.
Isso
deveria ter sido feito há mais de um ano, mas tudo bem que se faça. Resta saber
se o ministro combinou com seu chefe. Bolsonaro insiste em recomendar aos
brasileiros que circulem pelas ruas à vontade, sem ligar para medidas de
isolamento.
A essa altura, como é possível que ainda se comporte assim? No caso dele, tudo é possível.
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