O Estado de S. Paulo
O investidor torce para que agosto não seja, como prega o dito popular, o ‘mês do desgosto’
O investidor está cruzando
os dedos para que o calendário astral esteja bagunçado e que o azar que
caracteriza a crença popular de que “agosto é o mês do desgosto” tenha ficado
para trás em julho, quando a Bolsa e o câmbio sofreram forte correção. Mas, até
o fim deste mês, há um campo minado de riscos nos cenários externo e interno da
política e da economia, além da tensão na geopolítica mundial.
Em julho, o Ibovespa recuou 4,17%, pior desempenho desde dezembro passado, enquanto o dólar subiu 3,07% em relação ao real, maior alta em oito meses. Em contraste, nos EUA os índices de ações S&P 500 e Nasdaq registraram ganhos de 2,17% e 3,70%, respectivamente.
Um dos principais motivos
para o mau humor com o Brasil foi a tarifa de importação de 50% anunciada pelo
presidente Trump em 9 de julho. Essa decisão gerou repercussões econômicas e
movimentou o cenário político, mexendo no tabuleiro da eleição presidencial de
2026. O investidor ficou ressabiado com o aumento da popularidade do presidente
Lula após a crise tarifária. Os estrangeiros, por exemplo, retiraram mais de R$
6 bilhões da Bolsa brasileira no mês passado.
Para agosto, no cenário
doméstico, a volta do recesso do Congresso e do Judiciário pode trazer
volatilidade. Do ponto de vista do Legislativo, o investidor vai monitorar a
apreciação de medidas que podem afetar as contas fiscais, como eventual socorro
aos setores da economia atingidos pelo tarifaço.
No Judiciário, o temor do
mercado é com decisões envolvendo Jair Bolsonaro e todos os processos que
tramitam contra ele no Supremo Tribunal Federal, especialmente após o ministro
Alexandre de Moraes ter decretado a prisão domiciliar do ex-presidente. Se for
acelerado o julgamento de Bolsonaro na acusação de golpe de Estado, o humor do
investidor pode azedar de vez?
A guerra tarifária, aliás,
ainda é um risco latente apesar do recuo de Trump, com as exceções de vários
setores à alíquota de 50% para o Brasil. E se houver outro revés? No cenário
externo, dados mais fracos do que o esperado na criação de empregos em julho
nos EUA aumentaram a probabilidade de o Federal Reserve cortar os juros em
setembro, o que poderia animar o investidor neste mês, mas o temor de
ingerência política de Trump no Fed gerou alta ansiedade. Sem falar no envio de
dois submarinos nucleares americanos para próximo da Rússia, em meio a afrontas
verbais de lado a lado.
Após a queda de julho, há
quem diga que os preços das ações brasileiras ficaram atrativos. Mas agosto
ainda pode fazer jus ao ditado popular. •
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