Às vésperas de condenação,
ex-presidente tenta melar julgamento e transformar juízes em réus
“Um dos melhores lugares
para viver na capital federal.” Assim se apresenta o condomínio Solar de
Brasília, endereço de Jair Bolsonaro desde 2023. O capitão vive numa casa de
cerca de 400 metros quadrados, com piscina e área gourmet. Agora terá mais tempo
para desfrutá-la: está em prisão domiciliar.
O ex-presidente plantou o
que colheu. No domingo, afrontou o Supremo ao participar, à distância, de duas
manifestações contra o tribunal. No ato do Rio, discursou por viva-voz pelo
celular do filho Zero Um. No de São Paulo, fez chamada de vídeo com o aliado
Nikolas Ferreira, que usou a ligação para inflamar o público contra o
Judiciário.
O deputado tiktoker foi autor do discurso mais agressivo da tarde. Do alto do trio elétrico, atacou o Supremo e pregou a prisão do ministro Alexandre de Moraes. “Tenho um recado para te dar, ministro. Você, sem a toga, não sobra nada”, provocou.
Bolsonaro já havia sido
advertido por descumprir as cautelares impostas em julho, quando foi obrigado a
calçar a tornozeleira eletrônica. Ao reincidir na prática, assumiu o risco da
prisão. O ex-presidente sabe que não escapa da condenação pela tentativa de
golpe. Sem saída, tenta radicalizar os seguidores, na esperança de melar o
julgamento e transformar juízes em réus.
A campanha contra Alexandre
de Moraes faz parte dessa estratégia, que não é nova. Enquanto esteve no poder,
Bolsonaro usou a máquina para ameaçar o tribunal e incitar o ódio contra seus
ministros. A ofensiva culminou na intentona de 8 de Janeiro, quando o edifício
da Corte foi o mais depredado pelos golpistas.
Ontem os bolsonaristas
organizaram um piquete para impedir o funcionamento do Congresso. Dos Estados
Unidos, Eduardo Bolsonaro avisou que os presidentes do Senado e da Câmara podem
ser os próximos alvos de sanções americanas se não atenderem às exigências da
extrema direita. A ver se os dois aceitarão se dobrar à chantagem.
Nas redes sociais, o
deputado em fuga se declarou indignado com Moraes. O discurso não combina
com o
que ele postava anos atrás. “Dá para levar a sério um país onde existe
prisão domiciliar? O condenado é carcereiro dele mesmo!”, tuitou o Zero Três,
em 2018. A julgar pelo que ele dizia, o castigo ao pai saiu barato.
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