quarta-feira, 6 de agosto de 2025

Hiroshima nunca mais! - Rodrigo Craveiro

Correio Braziliense

A bomba atômica nunca mais foi utilizada, tamanho o horror testemunhado pelos sobreviventes. No entanto, depois dos bombardeios e do fim da Segunda Guerra, as potências começaram uma verdadeira corrida nuclear, sob o pretexto de autodefesa

Aconteceu há exatamente 80 anos. O bombardeiro Boeing B-29 Superfortress Enola Gay despejou a bomba atômica "Little Boy" a 600 metros sobre Hiroshima, no Japão, em 6 de agosto de 1945. A onda expansiva da explosão, aliada à temperatura que subiu a 3.873 graus Celsius, saiu arrastando e evaporando tudo pela frente, deslocando-se a 1.583km/h. Animais e pessoas simplesmente desapareceram, como se tivessem sido desintegrados. Os 12 tripulantes do Enola Gay encararam a missão como essencial e necessária para forçar a rendição dos japoneses. Ainda que tenham matado 70 mil pessoas de forma instantânea e outras 200 mil posteriormente, por causa dos efeitos da radiação. Em 2005, Theodore "Dutch" Van Kirk, o navegador do Enola Gay, me disse que aquela tinha sido a missão mais fácil da vida dele e que faria tudo de novo, sob as mesmas condições. "A bomba atômica salvou milhares de vidas", afirmou ao Correio, sem demonstrar nenhum arrependimento.

A bomba atômica somente foi possível graças ao físico alemão Albert Einstein, que descobriu e elucidou a fórmula matemática E = mc² (energia é igual à massa multiplicada pela velocidade da luz elevada ao quadrado) — a base para a reação nuclear em cadeia que potencializa o efeito destrutivo da arma. Imagino como Einstein reagiu ao observar que contribuiu com a hecatombe de Hiroshima e Nagasaki. Como o também físico americano Robert Oppenheimer, então com 41 anos, deve ter se sentido ao perceber as mãos sujas do sangue de civis inocentes.

A bomba atômica nunca mais foi utilizada, tamanho o horror testemunhado pelos sobreviventes. No entanto, depois dos bombardeios no Japão e do fim da Segunda Guerra Mundial, as potências começaram uma verdadeira corrida nuclear, sob o pretexto de autodefesa. Atualmente, nove países detêm armas nucleares: Estados Unidos, Rússia, China, França, Reino Unido, Índia, Paquistão, Israel e Coreia do Norte. Ao todo, são 12.331 ogivas atômicas — o suficiente para matar 7,1 bilhões de pessoas; quase a população inteira do planeta, de 8 bilhões.

Até o mês passado, menos de 100 mil hibakushas (sobreviventes de Hiroshima e Nagasaki) estavam registrados no Japão. No Brasil, são 57, segundo a Associação Brasileira pela Paz dos Sobreviventes da Bomba Atômica, fundada em 1984 e sediada em São Paulo. No domingo passado, o Correio publicou depoimentos de dois hibakushas e da filha de Takashi Morita, um sobrevivente que se tornou símbolo da campanha contra a proliferação nuclear e morreu em 13 de agosto de 2024.

É inadmissível — e irracional — que países concentrem ogivas nucleares depois de tudo o que aconteceu em Hiroshima e Nagasaki. Além de semearem mortandade e devastação, as armas nucleares são um convite óbvio à autodestruição. Uma retaliação em cadeia de um ataque nuclear coloca o planeta inteiro sob risco. Passou da hora de a paz falar mais alto. Não precisamos de bombas atômicas. Precisamos de diálogo e entendimento.

 

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