Correio Braziliense
A bomba atômica nunca mais
foi utilizada, tamanho o horror testemunhado pelos sobreviventes. No entanto,
depois dos bombardeios e do fim da Segunda Guerra, as potências começaram uma
verdadeira corrida nuclear, sob o pretexto de autodefesa
Aconteceu há exatamente 80 anos. O bombardeiro Boeing B-29 Superfortress Enola Gay despejou a bomba atômica "Little Boy" a 600 metros sobre Hiroshima, no Japão, em 6 de agosto de 1945. A onda expansiva da explosão, aliada à temperatura que subiu a 3.873 graus Celsius, saiu arrastando e evaporando tudo pela frente, deslocando-se a 1.583km/h. Animais e pessoas simplesmente desapareceram, como se tivessem sido desintegrados. Os 12 tripulantes do Enola Gay encararam a missão como essencial e necessária para forçar a rendição dos japoneses. Ainda que tenham matado 70 mil pessoas de forma instantânea e outras 200 mil posteriormente, por causa dos efeitos da radiação. Em 2005, Theodore "Dutch" Van Kirk, o navegador do Enola Gay, me disse que aquela tinha sido a missão mais fácil da vida dele e que faria tudo de novo, sob as mesmas condições. "A bomba atômica salvou milhares de vidas", afirmou ao Correio, sem demonstrar nenhum arrependimento.
A bomba atômica somente foi
possível graças ao físico alemão Albert Einstein, que descobriu e elucidou a
fórmula matemática E = mc² (energia é igual à massa multiplicada pela
velocidade da luz elevada ao quadrado) — a base para a reação nuclear em cadeia
que potencializa o efeito destrutivo da arma. Imagino como Einstein reagiu ao
observar que contribuiu com a hecatombe de Hiroshima e Nagasaki. Como o também
físico americano Robert Oppenheimer, então com 41 anos, deve ter se sentido ao
perceber as mãos sujas do sangue de civis inocentes.
A bomba atômica nunca mais
foi utilizada, tamanho o horror testemunhado pelos sobreviventes. No entanto,
depois dos bombardeios no Japão e do fim da Segunda Guerra Mundial, as
potências começaram uma verdadeira corrida nuclear, sob o pretexto de autodefesa.
Atualmente, nove países detêm armas nucleares: Estados Unidos, Rússia, China,
França, Reino Unido, Índia, Paquistão, Israel e Coreia do Norte. Ao todo, são
12.331 ogivas atômicas — o suficiente para matar 7,1 bilhões de pessoas; quase
a população inteira do planeta, de 8 bilhões.
Até o mês passado, menos de
100 mil hibakushas (sobreviventes de Hiroshima e Nagasaki) estavam registrados
no Japão. No Brasil, são 57, segundo a Associação Brasileira pela Paz dos
Sobreviventes da Bomba Atômica, fundada em 1984 e sediada em São Paulo. No
domingo passado, o Correio publicou depoimentos de dois hibakushas e da filha
de Takashi Morita, um sobrevivente que se tornou símbolo da campanha contra a
proliferação nuclear e morreu em 13 de agosto de 2024.
É inadmissível — e
irracional — que países concentrem ogivas nucleares depois de tudo o que
aconteceu em Hiroshima e Nagasaki. Além de semearem mortandade e devastação, as
armas nucleares são um convite óbvio à autodestruição. Uma retaliação em cadeia
de um ataque nuclear coloca o planeta inteiro sob risco. Passou da hora de a
paz falar mais alto. Não precisamos de bombas atômicas. Precisamos de diálogo e
entendimento.
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