quarta-feira, 6 de agosto de 2025

A marcha da insensaz - Aylê-Salassié Filgueiras Quintão*

Não bastassem os cenários apocalíticos, cada vez mais frequentes, as erupções vulcânicas, os terremotos, tsunamis, inundações, o covid deixando para trás marcas de destruições catastróficas, os homens, mesmo assim, insistem em fazer guerra. É a "marcha da insensatez” de um grupo de meia dúzia de líderes empoderados pelas próprias ambições. Essa vaidade pessoal, transferida para os Estados Nacionais, extingue vagarosamente a vida no Planeta. Desorganiza países, economias, cidades, promove a morte de populações inteiras, fecham escolas, hospitais, explodem pontes     e destroem     terras agrícolas. Diante da dimensão que essas coisas estão tomando, perguntaria, se haverá tempo para um novo Plano Marsall, destinado a recuperação agora da Ucrânia, da Rússia, de Gaza, da Síria, do Líbano, do Iêmem, de Israel mesmo e até para uma reorganização do mundo.

Tem-se de admitir que esta geração política do Planeta é representada por lideranças paranóicas.  Até fevereiro deste ano, a aventura de invadir a Ucrânia    teria custado aos russos US$ 211 bilhões de suas reservas, de acordo com estimativas do Pentágono, já que a Rússia se recusa a tornar público  este tipo de informação .  Para os ucranianos, em fevereiro, os gastos aproximavam-se de US$ 320 bilhões. Mas eles receberam perto de US$ 100 bilhões de ajuda externa do mundo ao seu redor (Instituto Kiel da Economia Mundial). A Ucrânia mesmo teria investido em sua defesa entre US$ 150 a 200 bilhões.

 No Oriente Médio, a guerra de Israel contra o Hamas, já levou a perdas físicas  globais, projetadas para  próximo de US$ 600 bilhões, incluindo a Síria, o Irã, o Líbano e o Iêmen, que vinham abrigando as guerrilhas revolucionárias do Hezbolah, do Hamas, dos Houtís, e outros grupos radicais clandestinos . Tiveram bombardeados campos de petróleo, fábricas e depósitos de armas. O Irã perdeu ainda unidades de geração de energia nuclear. Mas, a salvação da região está ainda no óleo combustível cru extraído.

Esta, contudo, não é ainda a guerra dos sonhos de Vladimir Putin - há 20 anos   tentando   expandir-se para territórios dos vizinhos. Da mesma forma, de Ali Kameini, Líder religioso Supremo do Irã que, sem muito sucesso, parece ter pretendido contaminar hegemonicamente o Oriente Médio. O mesmo se pode dizer de Kim Jong-un, da Coréia do Norte, que tem feito demonstrações de Poder para os países que estão à sua volta. Não teve, entretanto, coragem de testar sua capacidade militar com a Coréia do Sul e com o Japão. Nas primeiras tentativas de entrar na briga contra a Ucrânia, Kim perdeu em batalha a maioria dos seus homens e armamentos.

A impressão que se tem é que os líderes das superpotências parecem estar se aproveitando desses conflitos para treinar seus exércitos, assegurar prestígio no cenário político internacional e fazer testes com artefatos militares de última geração. Esta guerra está sendo travada, sobretudo, com foguetes de longa distância e famílias de “drones" que, projetados no espaço, se autodirigem, rastreaiam o inimigo, fotografam e lançam bombas. Apesar de voarem solitários, sem pilotos, os drones contabilizam a morte de mais de um milhão de combatentes e civis, conforme   a OTAN- Organização do Atlântico Norte. 

Os   "senhores da guerra" tem dificuldade ainda de realizar seus sonhos paranoicos de uma   "guerra total", esforçando-se em vão para atrair potencias ambíguas como a China e os Estados Unidos, bem como todos os 49 países europeus para conflitos bélicos que eles inventaram. O balanço das perdas físicas que essas guerras insanas estão provocando é dramático:  crianças, idosos e mulheres, fugindo, como refugiados,  desabrigados pelo  mundo.  

Essa geração de líderes   surgidos na década de 50 eram infantes   ou nem haviam nascidos quando ocorreu a Segunda Guerra Mundial, provocada por Hitler na expectativa de expandir território alemão e Poder pessoal. A aventura teria custado só para a Alemanha US$ 7,1 trilhões, para o Japão, 4,1 trilhões e para a Itália, 2, 5 trilhões. Perdida a guerra os alemães tiveram de indenizar países, vilas e pessoas  , incluindo uma soma inicial de 20 bilhões de dólares o que fez em  máquinas, matrizes tecnólogicas  e fábricas.  Morreram mais de 80 milhões de cidadãos. Até hoje os gregos cobram dos alemães indenizações pelos danos. Os cientistas alemães foram redistribuídos entre a Rússia e os Estados Unidos.

A França estimou o montante de suas perdas a três vezes o PIB nacional. A Bélgica e os Países Baixos sofreram danos em proporções semelhantes. A destruição física alcançou 40% das 49 das maiores cidades alemãs e 39% das habitações familiares, seguida de pilhagens retaliatórias    de dimensões incalculáveis. As maiores cidades europeias registraram danos urbanos   entre 20% a 30 % incluindo escolas, hospitais, universidades, os distritos comerciais centrais, e sistemas de transportes foram interrompidos.  Locomotivas, vagões, barcaças, ônibus e até carros particulares foram confiscados. Pontes, estações ferroviários, aeroportos sofreram danos graves.   A agricultura em todos os países ocupados teve destruídos milhões de hectares de terras de cultivo. Animais, fazendas, máquinas agrícolas, fertilizantes e   mão de obra desapareceram.   O abuso contra mulheres e crianças atingiu limites impensáveis.

Na Europa Oriental, a devastação foi ainda mais grave. A Polônia relatou que 30% de seus edifícios foram destruídos, bem como 60% de suas escolas, instituições científicas e instalações da administração pública; 30 a 35% de suas propriedades agrícolas e 32% de suas minas, sistemas de  energia  e indústrias foram danificados . A Iugoslávia teve destruídas 20,7% de suas moradias . Nos campos de batalha a Ucrânia e Rússia passaram por uma a destruição devastadora. 

O mundo não merece isso. Viver é um privilégio. Passa-me pela cabeça que, de uma maneira geral, quem opta pela carreira política tem algum problema de adaptação aos modelos sociais e de trabalho vigentes ou tem dupla personalidade. Poucos resistiriam a testes psicológicos sérios. Recordo do meu amigo, Laerte Rimoli, segundo o qual estamos diante de uma hegemônica “Marcha da Insensatez".  Não tivemos ainda ataques nucleares, mas já se fala em mísseis` lançados contra usinas nucleares espalhadas pelos territórios. Nelas se processa o urânio e produz-se o plutônio.  Perguntas que não querem calar: Depois dessas guerras, haverá algo a ser recuperado por um novo Plano Marshall?  Desta vez, com a inflação acusando picos e os correntistas bancários batendo às portas dos bancos russos, será que o Kremlim concordaria ?!

*Jornalista e professor

Nenhum comentário: