Folha de S. Paulo
Com a redução das tarifas de Trump,
ex-presidente foi preso assistindo ao fracasso de seu último grande crime
Imaginem o tamanho do desastre que seria uma
fuga de Bolsonaro
Jair Bolsonaro foi
preso mais cedo do que se esperava. Preso sem estardalhaço, sem
sensacionalismo, sem algemas, nos termos da lei. Preso preventivamente, por
tentar fugir poucos dias antes do início do cumprimento da pena a que foi
condenado por tentar roubar o voto da maioria dos brasileiros em 2022.
Jair tentou quebrar sua tornozeleira
eletrônica para fugir em meio à confusão que seria criada pela vigília
que Flávio
Bolsonaro convocou. Estava a 15 minutos das embaixadas de
Brasília.
Se tivesse que apostar para qual embaixada Jair fugiria, cravaria alguma das monarquias absolutistas árabes.
Em 13 de novembro de 2021, por exemplo,
durante uma viagem presidencial aos Emirados Árabes, o UOL publicou uma matéria
com o título "Bolsonaro diz que conversou com Emir sobre ‘troca de presos políticos’".
Jair preocupado com o bem-estar de presos políticos? Desde quando? Pode apostar
que o preso político era ele.
Nessa mesma viagem, Bolsonaro abriu a primeira
embaixada brasileira no Bahrein,
outra monarquia do golfo. Quer dizer, abrir, abrir, não abriu. Nenhum
embaixador para o Bahrein foi indicado durante o governo Bolsonaro.
Segundo matéria de Jamil Chade no UOL em 10 de março de 2023,
"o gesto de deixar o posto sem embaixador foi interpretado por alguns dos
principais diplomatas brasileiros como uma manobra para impedir que o órgão de
Estado [o Itamaraty] ficasse informado sobre a natureza das relações entre o
Palácio do Planalto e o país do Golfo".
E na semana passada, vejam só, Eduardo
Bolsonaro deixou os Estados Unidos para visitar o Bahrein.
Postou uma foto com o xeique Khaled bin Hamad Al-Khalifa, membro da família
real do país. Em março de 2022, o ano da tentativa de golpe, Eduardo fez uma
visita "de poucas horas" ao Bahrein, cuja natureza nunca foi
explicada.
Agora imaginem o tamanho do desastre que
seria uma fuga de Bolsonaro.
O Brasil, que se tornou exemplo internacional
de defesa da democracia por tê-lo condenado nos termos da lei, sofreria uma
imensa desmoralização internacional. A maioria do eleitorado, especialmente os
eleitores pobres, descobririam que a polícia foi incapaz de manter preso o
marginal que tentou roubar seus votos. Novos golpistas seriam encorajados pela
impunidade, e a crença no Estado de Direito se enfraqueceria em todos os lados
da disputa política. O governo americano encontraria um Brasil desmoralizado nas
próximas rodadas de negociação.
Com a redução de parte importante das tarifas
de Trump, Jair Bolsonaro foi preso assistindo ao fracasso de seu último grande
crime contra o Brasil, e torcendo para que Trump ao menos aceite sustentar seu
filho encostado na Disney de alguma maneira.
Mesmo assim, Jair pode morrer sem ser
condenado pelo pior crime que cometeu, o asfixiamento em massa de brasileiros
por falta de vacina durante a pandemia de Covid-19. Por alguns meses, em 2021,
mais de um terço das mortes por Covid no mundo aconteceram no Brasil, onde vive
2,7% da população mundial. Sem as vacinas de João Dória, teria morrido ainda
mais gente, e não por crise de soluço.
Enquanto você, leitor, estiver assistindo à
chegada de Jair na cadeia, lembre-se: ali vai o maior criminoso da história da
República.

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