A coisa encrencou em infraestrutura, custo da energia, petróleo, educação e
investimento público
Por quanto tempo o Brasil pode crescer "politicamente" antes de o
caldo econômico entornar?
Crescimento "político", por assim dizer, é o que temos visto nos
últimos dois anos. As pessoas consomem mais, há emprego, o governo é popular.
Mas não há investimento, mais produtividade, inovação. O investimento, aliás,
vai encolher neste 2012.
A pergunta é apenas mais ou menos retórica. Não dá para responder que o
caldo vai entornar em tanto ou quanto tempo. Mas entorna. A conta do consumo
crescente sem produção adequada vai aparecer em algum lugar: na inflação, no
deficit do governo, no deficit externo.
Além do desperdício mais óbvio, o crescimento baixo, estamos perdendo anos
de um período de boas condições demográficas para crescer. Isto é, há menos
crianças e ainda poucos idosos: temos, por ora, relativamente mais gente em
condição de trabalhar.
No biênio 2011-12, teremos crescido algo entre 2% e 2,2%. Não é lá muito
difícil crescer entre 3,5% e 4%. O ideal seria crescer uns 7% a fim de dobrar a
renda média em uma década, com o que nossos problemas materiais estariam mais
ou menos resolvidos.
Sim, a situação da economia mundial não nos ajuda. Ajuda mais nossos
vizinhos, mais dependentes de commodities -nós temos uma indústria, ainda que
avariada. Eles, não. Mas alguns de nossos vizinhos puseram a cabeça para
funcionar.
Nós paramos de pensar faz quase uma década. Afora a ampliação do mercado
interno, sob Lula, quase não aconteceu mais nada. O consumo não pode crescer
mais, de modo duradouro, se não tomarmos outras providências.
Onde está o programa de passar para empresas privadas a construção e a
operação de estrada, porto, ferrovia, aeroporto, que já veio tarde e a
contragosto?
O programa de redução do custo da energia elétrica está emperrando. O
governo não consegue aumentar o seu já miúdo investimento desde o final de
2010.
A exploração de petróleo não anda desde 2008. A lei dos royalties, de
distribuição de parte da renda do petróleo para União, Estados e municípios,
foi aprovada no início do mês, mas vai dar em confusão e atraso. O programa de
desenvolvimento do setor que o governo impôs à Petrobras revela-se caro e
lerdo.
Em suma: infraestrutura, energia e regulação do mercado estão emperradas.
A maior invenção brasileira nas últimas quatro décadas, se não a única, o
etanol, vai mal por excesso de intervenção do governo nos combustíveis (o
governo tabela a gasolina, vende-se pouco etanol e a coisa encrenca nas
usinas).
Depois do Bolsa Escola, lá ainda no primeiro governo FHC (1995-1998), nada
mais se inventou em educação básica. Sim, há o Prouni, mas o analfabetismo
funcional no Brasil está na casa dos 30%. Mas a presidente e os governadores
mais importantes mal tocam no assunto.
Provavelmente vamos crescer pelo menos uns 3% em 2013. Mas como podemos
crescer mais e por mais tempo se o mercado de trabalho está no osso, a inovação
é marginal, a infraestrutura está emperrada, a regulação está cada vez mais
confusa etc. etc.?
Parece que pouca gente nota, mas o país está emperrado.
Fonte: Folha de S. Paulo
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