Se não bastasse a recessão, o desemprego e a crise nos vizinhos, os
espanhóis vivem um drama particular: os efeitos do estouro de uma bolha
imobiliária. Há quase 1 milhão de moradias vazias à venda. Isso derruba o preço
dos imóveis e cria um ciclo perverso: o mutuário que não paga a prestação vê
sua dívida subir e o valor da residência cair. Os despejos colocam mais imóveis
à venda e o problema se realimenta.
A coluna entrevistou economistas espanhóis. Paula Papp, especializada em bancos
e seguros, dá a dimensão do problema: o mercado de crédito hipotecário é de
mais de ¬ 600 bilhões, o que representa, aproximadamente, 35% do total de
empréstimos do sistema financeiro, ou 60% do PIB espanhol.
O valor dos imóveis já caiu 30%. Os bancos sofrem perdas pesadas por dois
caminhos: inadimplência alta e revisão para baixo dos ativos, já que os imóveis
que recuperam valem menos. As cifras são altas demais até para o governo, que
já pediu ajuda internacional para recapitalizar os bancos.
Como aconteceu no Brasil, a Espanha terá uma espécie de Proer. Em dezembro,
começa a funcionar o banco que vai reunir todos os ativos podres, como as
carteiras de crédito que não foram pagas. Manuel Romera, diretor do setor
financeiro do IE Business School, de Madri, explicou que o banco malo receberá
quase ¬ 90 bilhões em ativos imobiliários tóxicos das quatro entidades
financeiras que foram nacionalizadas.
Há uma contradição inexplicável para os espanhóis: os bancos recebem ajuda
do governo, mas mantêm o direito, perante a Justiça, de executar as ordens de
despejo.
- A moradia é a garantia do empréstimo e, se uma família não é capaz de
pagar as prestações, a entidade que concedeu o crédito tem o direito de
executar essa garantia, independentemente de o banco ter recebido ou não ajuda
do governo - disse a economista Paula Papp.
Segundo o jornal espanhol "El Mundo", desde o começo da crise,
foram quase 400 mil execuções hipotecárias. Cerca de 200 mil famílias perderam
suas casas e isso pode acontecer com outras 160 mil nos próximos dois anos.
Nos últimos dois meses, houve dois suicídios relacionados a despejos e a
polícia espanhola investiga um terceiro caso. Só agora foram criadas regras que
poupam, por exemplo, famílias pobres e com crianças de perderem seus imóveis.
Como quase toda reação da Europa à crise, a solução parece estar vindo tarde
demais para muitos espanhóis.
Resistência alemã. O economista Fernando Fernández, do IE Business School, de Madri, diz que a
economia alemã é muito dinâmica e tem forte resistência à crise. Mas se o
problema nos vizinhos persistir, o contágio ao principal motor da Europa será
inevitável. "Vai demorar mais alguns trimestres, mas se a crise do euro
continuar, a Alemanha também cairá em recessão", afirmou.
Prejuízos com a Argentina. No Brasil, o setor de carnes sente os efeitos do protecionismo comercial da
Argentina. As exportações de carne suína para lá caíram 43% de janeiro a
setembro. O país saiu da lista dos cinco principais destinos do produto.
"Isso é resultado das dificuldades em se obter autorização do governo
argentino para o embarque da nossa carne suína", disse Pedro de Camargo
Neto, presidente da Abipecs.
Boas e más notícias para a inflação. A queda do preço dos alimentos, que já acontece no atacado, deve começar a
se refletir nos índices de inflação ao consumidor nesta semana, quando o IBGE
divulgar o IPCA-15 de novembro. Uma boa notícia. Por outro lado, há economistas
receosos de que o efeito da redução da conta de luz só chegará aos índices no
final de 2013, caso as empresas não aceitem antecipar a renovação dos contratos
de energia.
Fonte: O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário