Depois de deixar PV, ex-ministra tem dificuldades para criar novo partido
Fernanda Krakovics
BRASÍLIA - Dois anos depois de obter 20 milhões de votos na disputa pela
Presidência da República e, na sequência, deixar o PV, Marina Silva participou
de forma periférica de algumas campanhas municipais e ainda não tem rumo
definido para as próximas eleições. Ela não sabe se quer ser apenas uma
personalidade da sociedade civil ou voltar à política partidária, disputando as
eleições de 2014.
Depois de chegar em terceiro lugar na disputa de 2010, a ex-senadora e
ex-ministra do Meio Ambiente no governo Lula lançou o "Movimento por uma
Nova Política", suprapartidário e embrião para a formação de um novo
partido. Pessoas próximas a ela, no entanto, estão descrentes e cada vez mais
desmobilizadas. Afirmam que a ex-senadora não tem mostrado apetite e nem teria
perfil para viabilizar a legenda. A própria Marina expõe dificuldades.
- Isso está em discussão, as pessoas estão pressionando, mas tenho muita
dúvida quanto a esse desfecho. Um partido não se faz só em função de eleição, e
sim de um projeto, e só tem sentido se esse projeto estiver à altura dos
desafios do século 21 - afirmou Marina ao GLOBO. - Quando digo que não sei, é
porque não sei. Quero ver onde minha contribuição pode ser mais efetiva.
Marina passou primeiro pelo PT, depois pelo PV, e agora pensa em fundar um
novo partido enquanto critica os já existentes e os trata com desprezo. Seu
desafio é não só viabilizar uma nova sigla, mas garantir sua sobrevivência à
margem do modelo político que tanto ataca.
- Há uma borda que está se descolando desse núcleo estagnado do poder pelo
poder, do dinheiro pelo dinheiro, focado somente no presente, nas agendas
imediatistas que pautaram a discussão do Código Florestal e do dinheiro do
pré-sal. Precisamos de políticas de longo prazo - diz Marina.
Um outro obstáculo é o projeto de lei em tramitação no Congresso que impede
que novos partidos tenham acesso pleno ao dinheiro do fundo partidário e ao
tempo na propaganda eleitoral de rádio e TV, antes de disputarem uma eleição.
A proposta foi apresentada depois que os partidos perderam dinheiro e tempo
de propaganda para o PSD do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, que
conquistou o direito no Supremo Tribunal Federal (STF).
Marina tem pesado as dificuldades de reunir assinaturas necessárias para a
criação de um novo partido, os trâmites burocráticos e quem embarcaria com ela
nessa empreitada. Ela andou conversando com a vereadora Heloísa Helena
(PSOL-AL), sua amiga; com o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP); e com os
deputados federais Reguffe (PDT-DF) e Alessandro Molon (PT-RJ).
Nas conversas, Marina tem avaliado que haveria espaço para sua candidatura
em 2014, pois não considera que o governador de Pernambuco, Eduardo Campos
(PSB), possa se apresentar com uma terceira via.
- Ela diz que o Eduardo Campos é uma bolha da mídia. O que pensa? O que
defende? Para ela, o Eduardo Campos está ocupando o espaço que o Aécio não
ocupou - disse um dos interlocutores de Marina.
Nas análises feitas com seu grupo, Marina afirma que a presidente Dilma
Rousseff estará mais forte do que em 2010 e pode conquistar a reeleição já no
primeiro turno. Mas para ela, como o PSDB está mais fraco, ela teria chance de
ir a um eventual segundo turno.
A ex-senadora tem pelo menos uma certeza: não voltará ao Congresso. Ela
acredita que pode fazer do lado de fora, com mais liberdade, o que faria no
Senado. E depois de dois mandatos de senadora, o Legislativo não a instiga
mais.
- Não serei candidata ao Senado, já dei minha contribuição para o Acre, e
não mudarei meu domicílio eleitoral.
Nas eleições municipais, Marina apoiou candidatos de diferentes partidos,
como Marcio Pochmann (PT), em Campinas; Gustavo Fruet (PDT), em Curitiba; e
Serafim Corrêa (PSB), em Manaus.
Fonte: O Globo
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