A presidente Dilma
Rousseff (PT) enfrenta a fase de menor apoio na Câmara desde que tomou posse,
informam José Roberto de Toledo e Daniel Bramatti. A taxa média de governismo
dos maiores partidos da base está no nível mais baixo nos 23 meses de Dilma no
Planalto: 65%. Das últimas 10 votações nominais, ela perdeu 4. A fidelidade a
Dilma vem caindo semestre a semestre. É menor agora do que foi no início de
2012, segundo o Basômetro, ferramenta online de acompanhamento de votações do
Estadão Dados
Taxa de governismo
na Câmara cai ao nível mais baixo desde a posse de Dilma
José Roberto de Toledo, Daniel Bramatti
A presidente Dilma Rousseff (PT) enfrenta sua fase de menor apoio na Câmara
dos Deputados desde que tomou posse. A taxa média de governismo dos maiores
partidos de sua base parlamentar está no patamar mais baixo dos 23 meses de
Dilma no Planalto: 65%. Das últimas dez votações nominais, ela perdeu quatro.
A fidelidade a Dilma vem caindo semestre a semestre. É menor agora do que
foi no começo de 2012. E 2012 é pior do que 2011. Segundo o Basômetro -
ferramenta online de acompanhamento das votações no Congresso desenvolvida pelo
Estadão Dados -, a grande maioria, 306 deputados, votou com o governo em 90%
das vezes ou mais em 2011. Neste ano, o núcleo duro de apoio ao governo caiu a
menos da metade disso.
Nas 43 votações ocorridas em 2012, apenas 126 dos 513 deputados votaram 90%
das vezes ou mais seguindo a orientação do líder governista. Desses, 85 são do
PT. Logo, apenas 41 deputados de outras legendas estão com Dilma para o que der
e vier: 11 do PP, 10 do PSB, 9 do PC do B, apenas 4 do PMDB, 2 do PDT, 2 do PV,
1 do PTB, 1 do PSD, 1 do PTC - e nenhum do PR e do PRB, apesar de as duas
legendas terem cargos no governo.
Interesses regionais. Com exceção do PT, a taxa de apoio ao governo na
Câmara caiu para todos os principais partidos da base de Dilma em 2012. Nessas
dez votações mais recentes, os deputados do PTB votaram em média apenas 51% das
vezes segundo a orientação do líder do governo - um patamar quase igual ao do
maior partido de oposição, o PSDB, cuja taxa de governismo foi de 46%.
Não foi uma infidelidade só dos petebistas. No PSD, os deputados seguiram o
governo em apenas 56% das votações. No PP, a média foi de 60%; no PRB, de 67%,
e no maior de todos, o PMDB, a taxa de governismo recente está em 68%.
Para o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), as divergências
entre governo e base alcançaram o ápice nas diversas votações do Código
Florestal, quando a chamada bancada ruralista enfrentou - e venceu - o Palácio
do Planalto.
Outro motivo da queda das taxas de governismo na Câmara, segundo o
peemedebista, são os interesses eleitorais. "Em ano eleitoral, os
deputados votam as questões que dizem respeito a Estados e regiões mais de
acordo com os interesses de suas bases, independentemente da orientação do
governo."
"Aliado não quer dizer atrelado", disse o líder do PSB na Câmara,
Ribamar Alves, que também citou pressões locais ao explicar votos contrários ao
governo em sua bancada. "Nós nos sentimos desobrigados de votar em
projetos que vão de encontro a nossos princípios socialistas", afirmou.
Entre 2011 e 2012, a taxa de governismo do PSB caiu de 94% para 87%, segundo
o Basômetro. Questionado sobre um projeto que teria contrariado os princípios
do partido, o líder Alves citou o do Código Florestal. "O projeto
defendido pelo governo dificultava avanços na área agrícola."
Para o cientista político e professor da FGV-SP Marco Antonio Teixeira, o
problema é conjuntural, e não estrutural, e está ligado aos projetos que mexem
com interesses regionais, como o da divisão dos royalties do petróleo.
"São temas turbulentos porque governadores e prefeitos - principalmente os
prejudicados - fazem pressão enorme sobre os parlamentares e deixam a
presidente numa saia-justa."
"A volatilidade do voto é estrutural, mas não é permanente. Logo,
resolvidas as questões conjunturais, nova tranquilidade deve se
estabelecer", aposta o professor de Ciências Políticas do Insper, Carlos
Melo. Ele se refere ao descontentamento provocado pelo resultado da eleição
municipal, à pressão dos partidos para ganhar espaço na anunciada reforma
ministerial e à disputa pelo comando da Câmara dos Deputados em 2013.
Petróleo e repasses. A maior perda recente de apoio da presidente na Câmara
aconteceu entre as bancadas do Norte e, principalmente, do Centro-Oeste. Na
votação sobre redistribuição dos royalties do petróleo, o governo perdeu por 28
a 55 entre os deputados dessas duas regiões. Se votassem só os deputados do
Sudeste, Dilma teria ganhado por 99 a 58, graças aos deputados do Rio de
Janeiro e Espírito Santo, que votaram em peso contra a mudança.
Há um terceiro problema que afeta os prefeitos e, por tabela, os deputados:
a diminuição de repasses ao Fundo de Participação dos Municípios. "Há
prefeituras suspendendo o expediente em Pernambuco alegando falta de
recursos", lembra Teixeira. Na semana passada, cerca de 1.500 prefeitos
foram a Brasília para tentar obter aumento de repasses do governo federal, mas
saíram frustrados. Se a razão da perda de apoio a Dilma for essa, o problema
tende a se prolongar em 2013.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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