segunda-feira, 3 de junho de 2013

Em rota de colisão

Pezão e Lindbergh travam batalha nos bastidores e protagonizam impasse na aliança PT-PMDB

Cássio Bruno, Marcelo Remigio

A eleição de 2014 no Estado do Rio se transformou no maior impasse para a manutenção da aliança nacional entre PT e PMDB. Bombeiros dos dois partidos saíram em campo para tentar selar a paz e buscar um acordo entre os pré-candidatos Lindbergh Farias (PT) e Luiz Fernando Pezão (PMDB). Por enquanto, conseguiram apenas promessas de não agressão pública. Mas longe dos olhos dos eleitores, o senador petista e o vice-governador peemedebista agem de modo agressivo na costura de apoios para a disputa do Palácio Guanabara.

Em entrevista ao GLOBO, Pezão, que critica a antecipação da campanha, detalhou a estratégia de fortalecimento de sua candidatura, que vai de investimentos do governo do estado nos municípios com maior potencial eleitoral a cooptar petistas de correntes adversárias de Lindbergh. Já o senador petista, que não concedeu entrevista seguindo recomendações do PT nacional para estancar a crise, busca apoio no primeiro escalão da presidente Dilma Rousseff e se vale de aliados para criticar a administração Cabral. Ele tenta a aproximação com o ministro da Pesca, Marcelo Crivella (PRB), que se distanciou do PMDB fluminense e ensaiou uma pré-candidatura. Aliados do cacique do PRB já participam da caravana de Lindbergh pelo estado. O ministro fortaleceria os laços do petista com os evangélicos.

Enquanto a manutenção da aliança PT-PMDB patina no Rio, Pezão tira as primeiras cartas da manga. O vice-governador decidiu pôr nas ruas a conhecida e eficaz política do asfalto, que ajudou Sérgio Cabral a se reeleger, assim como o ex-governador Anthony Garotinho a passar o cargo para sua mulher, Rosinha.

Ainda este mês, Pezão anuncia o início das obras do programa Bairro Novo, que vai injetar R$ 800 milhões em obras de pavimentação e urbanização em 20 municípios da Baixada Fluminense e Região Metropolitana, além de um amplo projeto de recuperação de estradas no interior.

O asfalto chega como resposta às promessas de infraestrutura que Lindbergh tem feito a prefeitos em sua caravana. A região beneficiada pelo Bairro Novo abriga a maior concentração de eleitores. O programa prevê 750 quilômetros asfaltados.

No mesmo compasso, Lindbergh segue em sua caravana pelo estado com a orientação do ex-presidente Lula para que evite ataques a Pezão. Lula teria se irritado com o senador depois que ele participou de um evento do PT, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, há duas semanas. No encontro, organizado para comemorar os dez anos dos governos Lula e Dilma, Lindbergh atacou Pezão e Cabral, contrariando o ex-presidente.

Após o episódio, Lindbergh tem evitado dar declarações que possam alimentar ainda mais a crise PT-PMDB. E se vale de assessoria especializada para cuidar de sua imagem. Nos bastidores, porém, ele trabalha para minar o governo Cabral. Coordenadores da pré-campanha preparam um programa de governo, e determinaram que um grupo de especialistas vasculhe deficiências em setores da administração peemedebista, especialmente em áreas como Transportes, Educação e Saneamento básico. Os problemas encontrados serão usados, mais tarde, por Lindbergh em discursos públicos e em programas do PT na TV e no rádio.

Pezão ainda aposta na interferência do PMDB nacional para manter a aliança com o PT. A retirada da candidatura de Lindbergh eliminaria o principal obstáculo para o projeto político peemedebista no estado. Também facilitaria a composição de uma extensa aliança partidária nos moldes da construída pelo governador Sérgio Cabral e o prefeito do Rio, Eduardo Paes. Cabral e Pezão defendem o discurso de que o rompimento da parceria PT-PMDB limitaria o palanque da presidente Dilma Rousseff no Rio e acabaria com a "aliança que mais deu certo no país".

Pezão afirma que o PMDB cumpriu todos os acordos previstos na negociação nacional. No Rio, abriu mão da disputa em oito cidades nas eleições municipais de 2012 e mantém o PT em cargos no estado e na prefeitura. A negociação vai incluir a cobrança da fatura da disputa municipal.

- O Rio atingiu um grau de maturidade política que garante a aliança. A questão não é ter esperança em manter a coligação, mas garantir a participação na aliança nacional, pensar num projeto nacional para o Brasil. O PMDB trabalhou para a eleição da presidente Dilma e vamos lutar até o último momento pela aliança. O PT continua no governo do estado e com duas pastas importantes.

Ainda faz parte da estratégia pré-eleitoral de Pezão a não agressão a adversários. Pezão tem dito "não esperem um discurso de ataque ao senador Lindbergh, pelo menos agora".

Com pesquisas qualitativas nas mãos, ele identifica como algo positivo o que seria uma barreira para sua candidatura: o desconhecimento de seu nome por parte do eleitorado. O atual vice quer tirar proveito do que, hoje, pesa contra:

- Dos nomes que estão na disputa, sou o menos conhecido. Mas os que me conhecem me identificam com o trabalho. Mais de 70% dos entrevistados relacionam meu nome ao trabalho. Cabe aos marqueteiros explorarem essa marca.

Petista busca apoio de prefeitos do PMDB

Além de Crivella, de evangélicos e de ex-aliados de Cabral e Pezão, como o deputado estadual Domingos Brazão (PMDB) e seu grupo, Lindbergh prioriza um entendimento com dois partidos de sua preferência: o PSB, do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, pré-candidato à Presidência, e o PDT, que anunciou a possibilidade de candidatura do deputado federal Miro Teixeira ao estado. Os dois partidos pertencem às bases aliadas de Cabral e de Paes, inclusive com indicações a cargos no primeiro escalão. Na semana passada, em evento no Rio, Campos declarou que a manutenção da aliança do PSB com o PMDB no Rio ainda não está garantida.

A pré-candidatura de Lindbergh tem o peso do apoio de Dilma e de Lula, apesar do impasse com o PMDB. O ex-presidente, por exemplo, já disse publicamente que o petista tem o direito de ser candidato ao governo do Rio. Enquanto isso, Dilma reduziu as suas idas ao estado e, consequentemente, as aparições ao lado de Cabral e Pezão. Dentro do grupo de Lindbergh, o pensamento não é romper como todo o PMDB. O petista também tem se aproximado de prefeitos da legenda e de outros partidos aliados de Cabral.

O senador já dedica a maior parte do tempo à pré-campanha. Ele só fica em Brasília três vezes por semana (terça, quarta e quinta-feira). O restante dos dias é usado para encontros com prefeitos e vereadores.

- Com a caravana, conheceremos as necessidades de cada região. Não é uma caravana eleitoral. É apenas um diálogo com moradores e empresários - afirmou o deputado federal Jorge Bittar (PT-RJ), coordenador da pré-campanha e do programa de governo de Lindbergh.

PMDB tem mais prefeituras; PT negocia alianças

PDT, PR e DEM apresentam pré-candidatos; PSDB e PSOL estudam nomes para 2014

Além de comandar a máquina estadual, o PMDB de Luiz Fernando Pezão está à frente de 24 prefeituras no Estado do Rio, incluindo a capital. Em seis municípios indicou o vice-prefeito e, em pelo menos 12, Pezão tem prefeitos aliados. Entre os partidos mais fiéis está o PP do senador Francisco Dornelles. O vice-governador costura o apoio de PSD e PSB, também assediado pelo senador Lindbergh Farias e aliado dos petistas nacionalmente.

A composição de um leque de alianças por Pezão preocupa caciques do PMDB. Duas barreiras precisam ser vencidas: a boa aceitação do nome de Lindbergh nas pesquisas de intenções de voto e o não cumprimento de acordos com partidos aliados por parte do prefeito Eduardo Paes. Ele reuniu 19 legendas em torno de sua reeleição. No entanto, não conseguiu acomodar todos em sua administração, provocando críticas. Pelo menos nove estariam descontentes com a pouca - ou nenhuma - oferta de cargos na prefeitura do Rio, como retribuição ao apoio.

Já o PT de Lindbergh soma 11 prefeituras e mantém boas relações com os prefeitos do PSB. Do total de municípios administrados por petistas, Lindbergh ajudou a construir a candidatura de pelo menos sete, que devem retribuir com a máquina municipal. Lindbergh financiou a maior parte das campanhas petistas a prefeito.

O senador ainda tenta contornar resistências a seu nome dentro do PT, lideradas por adversários internos. Entre as prefeituras petistas, a mais importante, Niterói, é administrada por Rodrigo Neves, aliado de Cabral e Pezão e que, em vários eventos do PT, se mostrou contrário a candidatura de Lindbergh. Neves é ex-secretário estadual de Assistência Social e Direitos Humanos de Cabral.

Além de Pezão e Lindbergh, são pré-candidatos ao Palácio Guanabara o deputado Miro Teixeira, do PDT, e o vereador Cesar Maia, do DEM. O PR ainda não decidiu entre o deputado Anthony Garotinho e sua mulher, Rosinha, prefeita de Campos. PSDB e PSOL também estudam candidaturas.

Fonte: O Globo

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