O papa Francisco pediu ontem "reabilitação" da política, a defesa da ética e apela para que dirigentes e manifestantes "dialoguem de forma construtiva", para erguer uma sociedade mais justa. O pontíficie alertou que não há como pensar uma nação democrática sem a contribuição das "energias morais", em referência à pressão das ruas. O papa deu seu recado à classe política no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Estavam presentes ministros Gilberto Carvalho (Secretaria Geral da Presidência) e Moreira Franco (Secretaria de Aviação Civil), alguns deputados estaduais e ex-ministros. O prefeito do Rio, Eduardo Paes, e o governador, Sérgio Cabral, não compareceram
Papa defende reabilitação da política e pede diálogo com manifestantes
Jamil Chade
RIO - O papa Francisco pede a "reabilitação" da política, a defesa da ética e apela para que dirigentes e manifestantes "dialoguem de forma construtiva" para erguer uma sociedade mais justa. O pontífice falou a políticos e empresários, ontem, no Tfieatro Municipal do Rio, e alertou: não há como pensar uma nação democrática sem a contribuição das "energias morais" - uma referência direta à pressão das ruas.
"Temos de reabilitar a política, que é uma das formas mais altas da caridade. O futuro exige de nós uma visão mais humanista da economia e uma política que realize cada vez mais e melhor a participação das pessoas, evitando elitismos e erradicando a pobreza", afirmou Francisco. No local estavam o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, o ministro da Secretaria de Aviação Civil, Moreira Franco, políticos e empresários. Mas nem o prefeito do Rio, Eduardo Paes, nem o governador Sérgio Cabral foram ao encontro.
O evento havia sido originalmente planejado como uma oportunidade para que políticos se encontrassem com o papa, quando a viagem ainda estava sendo organizada no pontificado de Bento XVI. Mas Francisco, ao assumir o Vaticano, optou por abri-lo a todos os dirigentes da sociedade. Em seu discurso, ele evitou endossar as políticas de combate à pobreza do governo, como Brasília esperava.
Mas, de uma forma diplomática, também não deu espaço para que a oposição o utilize como uma espécie de cabo eleitoral. "A mensagem foi para todos", dizia um dos cardeais que acompanham o papa. Ele insistiu em falar de ética aos políticos nacionais, pedindo "humildade social". Para o Vaticano, ess foi a forma diplomática que ele encontrou para tratar da corrupção, sem ter de citar a palavra. "Somos responsáveis pela formação de novas gerações, capacitadas na economia e na política, e firmes nos valores éticos", apontou. Ele ainda pediu um país que se desenvolva "no pleno respeito dos princípios éticos fundados na dignidade transcendente da pessoa".
Francisco, que chegou a colocar um cocar, foi além: "Quem atua responsavelmente, submete a própria ação aos direitos dos outros e ao juízo de Deus". Em outra palavras, quem não segue essa linha será julgado por Deus. Na avaliação do santo padre, uma real liderança tem de ser "justa". "A liderança sabe escolher a mais justa entre as opções, após tê-las considerado, partindo da própria responsabilidade e do interesse pelo bem comum; esta é a forma para chegar ao centro dos males de uma sociedade e vence-los com a ousadia de ações corajosas."
Diálogo. O papa ainda foi claro em relação ao momento de protesto que o Brasil vive e defendeu o diálogo. "Entre a indiferença egoísta e o protesto violento, há uma opção sempre possível: o diálogo", declarou Francisco, em uma referência às manifestações nas ruas. "O diálogo entre as gerações, o diálogo com o povo, a capacidade de dar e receber, permanecendo abertos à verdade", indicou. "Um país, cresce quando dialogam de modo construtivo as suas diversas riquezas culturais: cultura popular, cultura universitária, juvenil, artística e tecnológica, cultura econômica e cultura familiar e cultura da mídia", apontou.
Sua simpatia em relação aos manifestantes também ficou clara no discurso. "É impossível imaginar um. futuro para a sociedade sem uma vigorosa contribuição das energias morais numa democracia que evite o risco de ficar fechada na pura lógica da representação dos interesses constituídos."
Laico. Num trecho do discurso muito aplaudido, o pontífice ainda defendeu o caráter laico do Estado, como maneira de garantir que todos possam praticar sua fé. "Será fundamental para a sociedade a contribuição das grandes tradições religiosas, que desempenham um papel fecundo de fermento, da vida social e de animação da democracia. Favorável à pacífica convivência entre religiões diversas é a laicidade do Estado. Só assim pode crescer o bom entendimento entre as culturas e as religiões."
Recado
"O futuro exige de nós uma visão humanista da economia e uma política que realize cada vez mais e melhor a participação das pessoas, evitando elitismos e erradicando a pobreza."
Francisco
Fonte: O Estado de S. Paulo
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