• Crise, porém, favorece negociação entre proprietários e inquilinos para evitar repasse integral do IGP-M
Ronaldo D’Ercole, Lucianne Carneiro - O Globo
-SÃO PAULO E RIO -O Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) desacelerou em dezembro e teve variação de 0,49%, abaixo do 1,52% de novembro. Mesmo assim, o indicador, que é a principal referência para os reajustes de contratos de aluguel de imóveis no país, fechou o ano com alta acumulada de 10,54%, seu maior nível desde 2010, quando havia subido 11,32%.
A variação do IGP-M neste ano foi quase três vezes superior à alta do índice em 2014, que foi de 3,69%. Depois de acumular alta de 8,35% nos 12 meses encerrados em outubro, o índice bateu em 10,09% em outubro, chegando a 10,69% no mês passado.
Apesar da volta do indexador dos aluguéis ao patamar dos dois dígitos, a boa notícia para os inquilinos é que, com a recessão econômica e a queda na renda, combinada com a retração dos negócios no mercado imobiliário, os proprietários têm se mostrado mais flexíveis nas negociações dos reajustes dos aluguéis.
O resultado foi a queda de preços médios tanto da locação quanto do valor de compra na maioria das regiões do Rio de Janeiro. Segundo o vice-presidente do Sindicato de Habitação (Secovi-Rio), Leonardo Schneider, a oferta de imóveis para locação na cidade do Rio subiu de 50% a 60% em um ano. Com isso, fica mais difícil para o proprietário repassar a inflação pelo IGP-M.
— Nem todos os proprietários vão conseguir aplicar o reajuste de 10,54%. Há mais imóveis vazios e, para o locador, não é interessante ficar com o imóvel vazio. Por isso, o melhor é flexibilizar e negociar o aumento — diz ele.
Para se ter uma ideia, o valor do metro quadrado de locação de imóveis residenciais na cidade caiu em 16 dos 18 bairros pesquisados pelo Secovi Rio em novembro deste ano, frente ao mesmo período de 2014. As únicas exceções foram os preços dos aluguéis em Bangu e no Méier.
A taxa de queda chegou a dois dígitos em oito dessas regiões. A maior variação ocorreu em Ipanema, que registrou redução de 14,99%, seguida por Ilha do Governador, com 11,76%.
Especialista vê limite em redução de aluguel
O preço de venda dos imóveis também recua na maioria dos bairros pesquisados: 11 das 18 regiões. Nesse caso, no entanto, as taxas são menores. A maior queda ocorreu em Jacarepaguá, de 4,92%, seguida por Leblon, de 4,43%. A maior taxa de crescimento foi na Ilha do Governador, de 3,91%.
Edson Kitamura, gerente do Departamento Econômico do Secovi São Paulo, avalia que a alta de 10,54% do IGP-M continuará pressionando os reajustes dos aluguéis residenciais, mas a conjuntura econômica ruim ainda joga a favor dos inquilinos na negociação com os proprietários.
Pesquisa mensal do Secovi-SP mostra que desde junho os valores dos aluguéis novos contratados em São Paulo estão em queda em relação aos preços de 12 meses anteriores. Em novembro, por exemplo, a retração atingiu 2,1%.
— O IGP-M acumulado em 12 meses até novembro era de 10,69%, e deu uma abaixadinha, agora, para 10,54%. Mas ainda está muito alto e, por isso, há muita negociação entre as partes. E a pesquisa de novembro mostra isso: apesar do IGP-M estar no pico, houve redução de preços nos aluguéis — diz Kitamura.
Para o gerente do Secovi-SP, contudo, não dá para prever até quando os proprietários continuarão aceitando diminuir os aluguéis.
— Vai ter um momento em que os locadores não vão mais negociar. Mas na atual situação o quadro é bem favorável para o consumidor em geral — diz ele, observando que o índice que mede a velocidade de locação de imóveis em São Paulo, que está entre 17 e 43 dias, não varia há alguns meses.
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