Por Fernando Taquari | Valor Econômico
SÃO PAULO - A reforma política em discussão na Câmara dos Deputados ameaça os planos do Novo, partido que pretende eleger de 20 a 25 deputados federais no próximo ano. A preocupação maior é com a possibilidade de a Câmara aprovar o chamado distritão, cujos eleitos são os candidatos mais votados por circunscrição.
"Se essa proposta prevalecer, teremos que repensar nossa estratégia,principalmente em relação ao número de candidatos. Temos um voto ideológico. Nosso eleitor, primeiro, escolhe o Novo e depois procura alguém dentro do partido que ele quer apoiar. O distritão meio que acaba com isso", afirma o novo presidente da sigla, Moisés Jardim, que aposta na descrença da população com a classe política como um dos principais atrativos da sigla.
Como exemplo, o dirigente cita a pesquisa da empresa Ideia Big Data, feita com 10 mil eleitores entre os dias 11 e 25 de julho, em que 79% dos entrevistados afirmaram que gostariam de votar em candidatos sem vícios ou à margem da política. Trata-se do perfil de postulantes que o Novo pretende colocar à disposição do eleitorado.
Outras propostas da reforma política, como a criação de um fundo público de campanha e a divisão do tempo no horário eleitoral gratuito não são, segundo Jardim, motivos para preocupações. Sem representatividade na Câmara, a sigla terá um tempo irrisório na propaganda de rádio e TV, além de recursos escassos se comparados às demais agremiações.
"A questão financeira não nos afeta. Nossa ideia sempre foi trabalhar com recursos dos filiados e de nossos doadores", declara o dirigente. Até meados do ano, o Novo recebeu cerca de R$ 2 milhões do fundo partidário. O dinheiro, contudo, está aplicado em três contas no Banco do Brasil, sem uso.
"Em relação a pouco espaço na TV, apostamos em um movimento que está acontecendo e ainda é difícil de medir. Estou falando do impacto das mídias sociais na eleição. Acreditamos que pode ocorrer uma mudança de paradigma em relação às campanhas passadas", diz Jardim ao ressaltar que 35% dos apoiadores do Novo têm menos de 35 anos. "Essas pessoas não assistem quase TV. Elas se informam por meio de mídias sociais e do Youtube. É neste público que estamos tentando investir", afirma.
O foco nas redes sociais tem sido feito para novas filiações. O Novo registrou até julho 12,6 mil filiados, o que corresponde a um crescimento de 30% em relação a dezembro. Jardim estima que 60% e 25% deste montante esteja concentrado no Sudeste e Sul, respectivamente.
Com um discurso alinhado ao liberalismo econômico, o partido Novo estabeleceu como prioridade de 2018 as eleições proporcionais. A meta de eleger entre 20 e 25 nomes para a Câmara dos Deputados é considera ousada por seus próprios dirigentes e tem como base a pesquisa do Ideia Big Data do que mostra o eleitorado inclinado a votar em candidaturas de pessoas comuns, sem mandatos ou cargos públicos.
Formado em sua maioria por empresários empenhados na luta pela renovação política, o que incluiu a promessa de atrelar a gestão pública com princípios éticos, o Novo pretende lançar candidato próprio ao governo do Distrito Federal e de seis Estados (SP, RJ, MG, RS, SC, PR), além da candidatura presidencial do engenheiro e administrador de empresas João Dionísio Amoêdo, que participou da fundação do partido e o presidiu até julho deste ano. Pelas regras do Novo, o dirigente partidário que quiser se candidatar precisa se afastar do comando partidário.
"Nossa prioridade é a eleição proporcional. Somos realistas. Sabemos que a mudança não se faz de uma vez. Para um partido nascido em 2015, atingir esse patamar [de 20 a 25 deputados] no ano que vem seria uma bela largada", diz Jardim. Ele assumiu na semana passada a presidência do Novo em substituição a Ricardo Taboaço, que por questões de agenda volta para a vice-presidência após apenas um mês no cargo. "Tentamos ser o mais prático possível para evitar complicações lá na frente", explica Jardim.
Com atuação no setor privado, Taboaço concluiu que não teria tempo suficiente para o desafio de preparar o Novo para as eleições. Jardim assume o comando partidário com o desafio de criar uma estrutura de filiados e apoiadores que sirva de base para as candidaturas da sigla. Nesse papel terá a tarefa de coordenar o processo seletivo de candidatos, composto por quatro fases e com métodos similares aos usados por grandes empresas para contratar jovens talentos. Até dezembro serão conhecidos os nomes que serão apresentados na convenção de junho.
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