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Lula livre
O presidente Jair Bolsonaro fez de conta que não viu. Natural que tenha sido assim. O dia, ontem, era de Lula. E ele, Bolsonaro, nada ganharia se tentasse disputar os holofotes com um adversário que deixava a prisão depois de 580 dias e na condição de mártir.
Bolsonaro pode ser bom de bico nas redes sociais onde mesmo assim, vez por outra, costuma derrapar. É bom também nas entrevistas diárias à saída do Palácio da Alvorada onde fala o que quer e se recusa a responder a perguntas incômodas.
Faltavam-lhe, porém, imaginação, versatilidade e domínio da língua para encarar debates ao vivo e de improviso. Teve a sorte de escapar ao confronto com os demais candidatos à presidência da República na reta final da campanha do ano passado. Muita sorte.
Sem a experiência do pai, os moleques Eduardo e Carlos, embora aconselhados a guardar silêncio, rangeram os dentes. O deputado atirou no seu alvo preferido, o Supremo Tribunal Federal. E o fez, por hábito, valendo-se de uma fakenews. Escreveu no Twitter:
“Cagam na cabeça da sociedade, ignoram o risco de botar em liberdade 160.000 presos. Não esqueçam que latrocidas, por exemplo, cometem seus crimes independente da vítima ser de direita ou esquerda”.
O número de presos a serem postos em liberdade é de menos de 5 mil. E nem todos sairão do cárcere. Eduardo sabe disso. Mas o que importa é tocar terror entre os devotos do pai. Lula livre é uma oportunidade imperdível para reunir a tropa dispersa.
Estranhamente, o vereador reagiu como se tivesse perdendo o jogo. Para variar, foi curto e grosso. Enalteceu o pai que, por sua vez, havia enaltecido o ex-juiz Sérgio Moro ao admitir que deve a ele a sua eleição. E tascou no Twitter:
“Não tenho dúvidas que esse jogo virará! O Brasil não aceita mais o show dos bandidos do PT, PCdoB, Piçóu (PSOL) etc! Paciência e inteligência! Sei que o jogo virará rapidamente”.
Para o bem ou para o mal, só agora o show vai começar. Há 10 meses que os Bolsonaros governavam sem dispor de algo chamado oposição. Não havia sequer um arremedo dela. O PT navegava desnorteado. Os demais partidos batiam cabeça no Congresso.
Faltava alguém para dizer: “É por aqui”. Não falta mais, goste-se ou não dele. O governo dos números será obrigado a enxergar que por trás deles escondem-se pessoas. Ciro Gomes será obrigado a repensar seu papel. E o chamado Centro a apressar o passo.
As ruas ficarão mais coloridas porque, para muita gente que se refugiou desanimada em casa e no trabalho, a esperança voltou. E, com ela, a retomada das discussões sobre os problemas que dilaceram o país e a construção de alternativas não contempladas.
É fato que, vencidos os primeiros dias de alumbramento, Lula ficará frente a frente com a realidade de ser um ficha suja impedido de se candidatar a qualquer coisa, e um condenado por corrupção que responde a uma penca de processos.
Mesmo que se livrasse de todos eles, ainda dependeria de uma decisão do Supremo para resgatar o sonho de presidir o país pela terceira vez a partir de 2023– e desta, com o discurso de que lhe imputaram crimes que jamais cometeu. Será possível?
Por ora não importa. Sextou. Façam a festa. Desde ontem o Brasil respira melhor.
Lula é inocente
Até que sentença transite em julgado
Não se pode escrever mais que Lula é culpado no caso do Triplex do Guarujá. O então juiz Sérgio Moro o condenou a 9 anos e 6 meses de prisão. Depois a pena foi aumentada para 12 anos e 1 mês de prisão pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, e reduzida a 8 anos, 10 meses e 20 dias pelo Superior Tribunal de Justiça.
Ocorre que o Supremo Tribunal Federal, anteontem, restabeleceu a exigência de que é preciso que a sentença transite em julgado para que um réu possa ser considerado um criminoso e, assim, ser preso. Como ainda não se esgotaram os recursos de defesa de Lula, ele continua sendo inocente.
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