Em
dia de cortes no Orçamento de 2021, presidente sai em campanha pela reeleição
Menos de 24 horas depois de Bolsonaro ter anunciado na Cúpula de Líderes sobre o Clima que mandaria duplicar os recursos destinados a ações de fiscalização ambiental no Brasil, o Diário Oficial da União publicou o Orçamento de 2021 assinado por ele que cortou RS 240 milhões da verba do Ministério do Meio Ambiente. A duplicação não tem mais data para acontecer.
Na
quinta-feira, em live nas redes sociais, Bolsonaro apareceu ao lado de Marcos
Pontes, ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, convidado por ele para
falar sobre a vacina brasileira contra a Covid-19 que está sendo desenvolvida
por cientistas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. Ontem, Bolsonaro
vetou R$ 200 milhões que seriam usados para financiar a vacina.
“Marcão, vamos lá. Como é que ‘tá’ a nossa vacina brasileira? Essa é 100% brasileira, não é aquela ‘mandrake’ de São Paulo, não né”, perguntou Bolsonaro a Pontes na live. Referia-se à Butanvac, a vacina apresentada pelo Instituto Butantan de São Paulo como sendo 100% nacional e que está em fase de testes. A vacina patrocinada pelo governo federal ficará para depois.
Jamais
faltou e jamais faltarão recursos para combater a pandemia, Bolsonaro repete
como se fosse um mantra. Mesmo com a crise sanitária do coronavírus batendo
novos recordes nos primeiros quatro meses deste ano, o Orçamento de 2021
reservou menos recursos para o Ministério da Saúde do que no ano passado. Foram
R$ 210 bilhões em 2020. Agora serão R$ 157 bilhões.
Foi
praticamente zerada no Orçamento deste ano a verba para dar continuidade às
obras da faixa 1 do programa Minha Casa, Minha Vida, rebatizado pelo governo de
Casa Verde e Amarela. Houve um corte de R$ 1,5 bilhão nas despesas que
estavam reservadas ao Fundo de Arrendamento Residencial (FAR), que banca as
obras do programa habitacional voltadas às famílias de baixa renda.
Ao
jornal O Estado de S. Paulo, o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da
Construção, José Carlos Martins, classificou de “loucura” o corte total nas
verbas para a continuidade das obras do programa habitacional do governo e
disse que quem ordenou o veto “não tem noção do que está fazendo”. O
corte, segundo ele, põe em risco 250 mil empregos diretos no setor da
construção.
Para
não ouvir choro nem ranger de dentes, Bolsonaro manteve-se distante de Brasília
durante boa parte da sexta-feira. Saiu em campanha para reeleger-se com tudo pago
pelo governo, naturalmente. Em Manaus, inaugurou um centro de convenções
inacabado com capacidade para 10 mil pessoas, reuniu-se com evangélicos e
entregou cestas básicas aos seus devotos.
Fez
um discurso de apenas cinco minutos, o suficiente para exaltar o general
Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde demitido por ele, que passou a
acompanhá-lo em viagens; repetiu a ladainha de que o país “começou a sair das
garras nefastas da esquerda brasileira”; e disse que se Haddad (PT) tivesse
sido eleito haveria um lockdown nacional. “Graças a Deus não aconteceu”.
Foi
a primeira vez que Bolsonaro visitou Manaus desde o colapso do sistema local de
saúde em janeiro devido à segunda onda da epidemia. Nada comentou sobre a
morte, ali, de 6.600 pessoas no primeiro trimestre deste ano, um dos índices de
óbito per capita mais altos do mundo. Muitos morreram asfixiados porque não
havia cilindros de oxigênio disponíveis.
De
Manaus, Bolsonaro foi a Belém entregar 468 mil cestas básicas do programa
Brasil Fraterno para serem distribuídas em todo Estado. Dezenas de pessoas com
fome o aguardavam desde cedo. A solenidade foi na Base Aérea. Apoiadores de
Bolsonaro, carregando bandeiras, chegaram ao local em ônibus escuros com
logotipo do Primeiro Comando Aéreo Regional.
Outra
vez, Bolsonaro discursou como se tivesse em um comício, e de fato estava.
Cercado de deputados, disse: “Estamos atendendo essas pessoas, diferente
daqueles que retiraram os empregos e não fizeram quase nada por aqueles que
estão desempregados e passando fome”. O governador do Pará, Helder Barbalho
(MDB), recepcionou Bolsonaro na descida do avião, mas logo foi embora.
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