Nos últimos trinta anos, a agenda do desenvolvimento sustentável ganhou papel central no planejamento e nas ações de governos, da sociedade e das empresas. A consciência ecológica ganhou corações e mentes a partir do esgotamento de um modelo de crescimento urbano-industrial baseado em energias vindas dos combustíveis fosseis (carvão mineral, petróleo, gás natural, xisto betuminoso) e na intensa poluição do ar, das águas e da terra.
Para
o Brasil se abre uma enorme oportunidade, mas há também riscos e ameaças. Tudo
dependerá das escolhas que fizermos. Até a pouco, nosso país era protagonista
no jogo político e diplomático na arena de discussão sobre o desenvolvimento
sustentável. Não foi à toa que a Cúpula Mundial, a RIO-92, se deu em terras
brasileiras. Temos uma das matrizes energéticas mais limpas do globo. Temos um
dos melhores arcabouços legais na área ambiental. Temos um verdadeiro tesouro
ecológico com uma das maiores biodiversidades do mundo e a maior floresta
tropical do Planeta.
O
atual governo, que chegou a namorar com o negacionismo ambiental de Trump,
parece estar processando uma mudança de rota. Apresentou na Cúpula de Líderes a
proposta de acabar com o desmatamento ilegal até 2030 e antecipar em dez anos o
compromisso de zerar as nossas emissões de gases poluentes. Na carta enviada à
Biden, Bolsonaro falou em fortalecer os mecanismos de comando e controle,
trabalhar na regularização fundiária, implementar o pagamento por serviços
ambientais, trabalhar no zoneamento ecológico-econômico e promover a
bioeconomia, transformando nossa fantástica biodiversidade em atividades geradoras
de emprego e renda sustentáveis.
As
palavras precisam agora encontrar consequências práticas. Não é “passando a
boiada” tendo a pandemia como biombo ou nos alinhando com madeireiros e
garimpeiros ilegais que chegaremos lá.
A
transição para uma nova matriz energética não é nada fácil. Os países ricos
dependem em 79% dos combustíveis fósseis. China, EUA, União Europeia, Índia e
Rússia são responsáveis por 59% das emissões poluentes, o Brasil por 2,19%. As
estratégias globais não podem passar por negar oportunidades aos países pobres
e em desenvolvimento e nem pela taxação de importações que gerem barreiras
comerciais. A parceria tem que ser pra valer, um jogo de ganha-ganha. E o
Brasil pode ser um grande captador de investimentos ambientais se superar a armadilha
ideológica do falso dilema entre soberania nacional e cooperação internacional.
Para
quem quiser se aprofundar no diagnóstico e na agenda do desenvolvimento
sustentável recomendo o artigo do ex-ministro do meio ambiente José Carlos
Carvalho e da socióloga Aspásia Camargo, “Meio Ambiente e Sustentabilidade” (disponível
em psdb.org.br/wp-content/uploads/2020/12/BRASIL-PÓS-PANDEMIA-FINAL.pdf).
*Marcus Pestana, ex-deputado federal (PSDB-MG)
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