Ao
confirmar suspeição de Moro, STF reabilitou política e moralmente o
ex-presidente autorizando-o a se candidatar e muito provavelmente se eleger
outra vez em 2022
Ao confirmar a suspeição
do ex-juiz Sergio Moro depois de tê-lo considerado incompetente para julgar
Lula, o Supremo Tribunal Federal reabilitou política e moralmente o
ex-presidente autorizando-o a se candidatar e muito provavelmente se eleger
outra vez em 2022. Não, não haverá tempo para que uma candidatura de centro ou
centro-direita surja e cresça a ponto de superar Lula e conseguir vaga no
segundo turno. Apenas João Doria pode surpreender. Luciano Huck ficou no
espaço. Luiz Mandetta não se consolidou. Moro se dissolveu. E os demais
pré-candidatos que apareceram neste espectro eram apenas balões que nem sequer
ensaiaram uma alternativa.
A centro-esquerda e esquerda tinham Fernando Haddad e Ciro Gomes. Haddad é Lula. Ciro não deve ser páreo para um Lula que volta revigorado pelo STF. À direita o candidato será mesmo Bolsonaro? Talvez sim. Talvez não. A direita liberal pode encontrar em Lula argumentos para fugir do capitão que muito prometeu em 2018 e pouco entregou. As reformas neste governo não avançaram. Mesmo a reforma da Previdência, aprovada em 2019, foi muito mais mérito de Rodrigo Maia e da Câmara do que de Bolsonaro e do Palácio. Além disso, as constantes ameaças às instituições atrapalham o capitão muito mais do que o ajudam.
O
presidente ficará
com a extrema-direita, isso com certeza. Neste espaço, só resta ele. Trata-se
de uma área tão árida do campo que somente olavistas convictos e puxa-sacos
rematados conseguem por ela transitar à vontade. Com eles seguirá parte do
eleitorado que se enrola em bandeiras do Brasil e pede o fechamento do
Congresso, do Supremo. São minoria, mais velhos e saudosistas ou mais
ignorantes e menos informados. Serão acompanhados também pelos que ainda olham
para Lula e para o PT e só enxergam corrupção. São muitos, mas as pesquisas
revelam que a maioria já percebeu que a alternativa é pior.
O
cenário não
deixa muita dúvida. O desgaste de Bolsonaro, que deve seguir e ser ainda
ampliado pela CPI da Covid, o debilitará política e eleitoralmente, mas
dificilmente a ponto de tirá-lo do segundo turno. Esta talvez seja a única
forma de Lula não conquistar um terceiro mandato. Se houver um segundo turno
entre ele e qualquer outro candidato que não seja o capitão, suas chances de
vencer diminuem muito. Como é pouco provável que isso ocorra, Lula e Bolsonaro
deverão ir para o segundo turno. E aí, antes de dizer com quem vai o eleitor, é
importante observar como se guiarão as forças políticas, os partidos e seus
líderes.
Mesmo os
partidos que
hoje apoiam o governo no Congresso terão de fazer cálculos para decidir com que
seguir num segundo turno entre os dois. Se Bolsonaro não estiver muito isolado
em 2022, talvez tenha uma meia dúzia de partidos coligados em sua campanha. Mas
nesta contabilidade, não se pode dar por certo nem mesmo o apoio do PSL, que só
existe por obra do presidente. O Centrão, de DEM, PP, MDB e outros, sabe muito
bem para qual canoa deve pular se a sua estiver fazendo água. E a canoa de Lula
já abrigou o Centrão antes. Os partidos que formam esta amálgama podem se
dividir até o limite do primeiro turno, depois seguem com quem for vencer.
À
esquerda, nenhuma
dúvida. Talvez Ciro Gomes viaje outra vez a Paris, como já disse que fará na
hipótese de ter como opção o PT. Ciro vai, mas o seu partido, o PDT, fica. Seus
eleitores também, ou alguém imagina que na ausência de Ciro pedetistas votarão
por descuido em Bolsonaro? Os demais partidos que contam, PSOL, PSB, Rede,
PCdoB, devem ir com Lula já no primeiro turno. Os demais desaguarão no PT em
seguida. Mesmo que Doria anteveja um provável fracasso e prefira disputar um
segundo mandato em São Paulo, o PSDB deve ter candidato próprio. Mas no segundo
turno não piscará ao emprestar seu apoio à Lula contra Bolsonaro.
Ninguém, a não ser as
forças mais retrógradas do país, quer dar mais um mandato ao capitão
baderneiro. A experiência foi desastrosa politicamente e trágica do ponto de
vista sanitário. O Brasil precisa recuperar sua saúde, sua economia, sua
autoestima, o prestígio que um dia teve no mundo. Estes objetivos certamente
seriam alcançados, em escalas diferentes, por Doria, Ciro ou Haddad. Os três
são melhores, muito melhores do que Bolsonaro, sob qualquer ângulo que se olhe,
e o derrotariam num segundo turno. Mas pelo que se desenhou com a decisão do
STF, caberá a Lula a tarefa.
A
BELEZA DA CPI
Há
muitos céticos quanto ao resultado da CPI da Covid. Tantas deram em nada e a
coisa agora pode ir pelo mesmo caminho, dizem. Acho que esta não, sobretudo
porque o objeto da investigação são os inequívocos malfeitos do presidente e de
ministros. As que ficaram no caminho, até sem relatório final, não tinham a
gravidade desta. Mesmo que fique menor do que o esperado, a beleza desta CPI
é a abundância de luz que ela
jogará sobre a tragédia patrocinada pelo governo
Bolsonaro. De terça-feira em diante este será o assunto número 1 do país. Os
olhos da Nação estarão virados para o Senado. A exposição sobre os membros da
comissão será de uma grandeza solar. Qualquer bobagem será anotada. Todos os
acertos serão contabilizados. A CPI é política. Seus membros também.
O
QUERIDINHO
Engana
bem o general Braga Netto.
No
período em que comandou as forças de intervenção no Rio, em 2018, foi tratado
como o queridinho da cidade por empresários, políticos e mesmo alguns
jornalistas. Braga já tinha
feito amigos civis em 2016, quando chefiou a segurança da
Olimpíada. Aos olhos de muitos parecia um general arejado, moderno, gente dos
novos tempos. Bagagem, aquilo era apenas uma fantasia que o general usou
temporariamente no lugar da farda.
RESPEITO
É BOM
O
ex-queridinho disse no nefasto discurso feito na posse do novo comandante do
Exército que “o projeto escolhido pelos brasileiros merece respeito”. Boa
general, correto. O problema é que o projeto escolhido foi abandonado pelo
governo que radicalizou para atender apenas aquela parcela de malucos embandeirados que
vão para a rua pedir a intervenção militar. Para que serviriam os ditados se
não houvessem verborragias como esta do general? Por isso, caro Braga Netto,
“não merece respeito quem não se dá ao respeito”.
LIBERDADE
Além
da ameaça dissimulada à CPI da Covid, o general Braga Netto voltou a falar em
liberdade. Disse estarem enganados os que acreditam que podem “colocar em risco
a liberdade conquistada por nossa Nação”. Se não tivesse outro destino, diria
que a mensagem de Braga foi
acertada,
já
que o Brasil não está disposto a devolver a liberdade que conquistou quando se
livrou de outros generais que tomaram o poder pela força.
DOUTOR
ZERINHO
Flávio
Bolsonaro botou
banca. Vai advogar no Distrito Federal. Uma maravilha,
gente. Seu primeiro cliente poderia ser a rede LavLev, que em Brasília tem
filiais na Asa Norte, no Sudoeste, na Octogonal e no Cruzeiro.
MARINA
E A PERERECA
Lula
tem razão. Ele e Gleisi assinaram artigo na “Folha” mostrando sua preocupação
com o meio ambiente e batendo na política criminosa de Bolsonaro para o setor.
Mas é bom não esquecer que o maior ícone ambientalista nacional, a ex-senadora
Marina Silva, pediu demissão do Ministério do Meio Ambiente no governo Lula por
falta de “sustentação política” para tocar sua pauta. Também não custa lembrar
que Lula sempre se queixou da “poderosa
máquina de fiscalização” ambiental. Por isso disse, no
longínquo 2010, que o Brasil não podia “ficar a serviço de uma perereca”.
Criticava a paralisação das obras do Arco Metropolitano do Rio em favor da
preservação de um anfíbio que habitava um charco por onde passaria a estrada.
BLABLABLÁ
De
qualquer modo, não dá para comparar os pecados ambientais de Lula com os crimes
que os vilões mentirosos Jair Bolsonaro e Ricardo Salles cometem diariamente
contra o meio ambiente brasileiro. Por isso, aliás, pouca gente levou a
sério o discurso hipócrita do
presidente na Cúpula do Clima. Na prática, o governo faz
exatamente o contrário do blablablá pronunciado. Anitta tem razão, difícil
explicar no exterior esse que ela chamou de “desgoverno de bosta”.
CHAUVIN
Se
o assassinato de um homem negro por sufocamento tivesse sido cometido no Brasil
há um ano, o policial Derek Chauvin a esta altura já estaria de volta à ativa
ou, no máximo, cumprindo alguma função burocrática numa delegacia ou num
quartel. Logo após o crime, sobretudo se ele tivesse sido filmado, Chauvin
seria afastado das ruas e mantido em casa ou detido no quartel, mas com
remuneração garantida. Mesmo que a nossa bondosa Justiça visse dolo na ação do
policial, se o assassino tivesse bons advogados, usaria os inúmeros recursos
disponíveis e permaneceria na boa até o crime prescrever.
QUESTÃO
DE AGENDA
Ernesto
Araújo alegou ter um “compromisso inadiável” para não participar de uma live organizada na
quarta-feira por olavistas
notáveis, se é que isso existe. Talvez tivesse que buscar
um filho no colégio ou restaurar uma obturação. Fora isso, agenda vazia.
NÃO
MANDA NADA
Em
razão de nota publicada aqui na semana passada, o presidente executivo da
Fetranspor, Armando Guerra, ligou para explicar que a entidade não manda
patavina nenhuma na desordem do setor no Rio. Se mandasse, 20 empresas não
teriam fechado as portas entre março e dezembro do ano passado, não teria
havido R$ 2,8 bi em perda de
receitas e R$ 1,5 bi de prejuízos no mesmo período.
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