Bolsonaro
jamais teve ascendência sobre o Parlamento nem excedeu 40% de aprovação
Li
nos jornais da quinta-feira (22) dois bons artigos dizendo mais ou menos o
contrário um do outro. Na Folha, Fernando
Schüler sustenta que Jair Bolsonaro foi enquadrado pelo sistema
político (um pedacinho das famosas instituições) e se encontra agora em modo
sobrevivência, sem constituir ameaça maior ao regime democrático.
Em
O Estado de S. Paulo, Eugênio Bucci afirma não estar tão seguro de que o
presidente não tentará um golpe, mas, mesmo que não promova nenhuma ruptura
formal, ele, comendo pelas beiradas, já provocou tamanha deterioração em tantas
instituições e esferas do Estado que a democracia brasileira está hoje bem pior
do que no passado.
Por paradoxal que pareça, acho que os dois têm razão. Bolsonaro se vê politicamente enfraquecido, com pouca chance de desferir com êxito um golpe, mas já causou um estrago tão grande em tantas áreas que, se tudo der certo, levaremos anos para nos recuperar.
Mas
por que Bolsonaro não deu um golpe,
seja no estilo clássico, tão ao gosto dos militares, seja à moda húngara,
desfigurando as instituições de controle até que elas percam a função original?
Não foi por falta de pendor autoritário. Isso ele tem de sobra. O que não teve
foi apoio político para aventuras mais ousadas.
Com
efeito, a maioria dos autocratas modernos, como Viktor Orbán, Vladimir Putin,
Recep Erdogan, chegou a essa condição porque soube aproveitar momentos de alta
popularidade, em geral proporcionados por bonanças econômicas, para aprovar
leis que lhes permitiram consolidar o poder.
Bolsonaro
nunca chegou nem perto dessa situação. O presidente jamais teve ascendência
sobre o Parlamento (agora é refém dele) nem excedeu os 40% de aprovação popular.
Não há milagre econômico à vista para redimi-lo. Com seu arsenal, Bolsonaro
consegue baixar decretos, segurar verbas, mover pessoal.
Dá para fazer um estrago formidável, mas não para redesenhar o Estado.
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