sábado, 15 de novembro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

E a estratégia? A lei é apenas um meio

Por Revista Será?  

Diante do impacto político gerado pela desastrosa invasão das favelas do Rio – Complexo do Alemão e da Penha – e da evidência do poder das facções criminosas nos territórios – a capacidade militar e logística e a produção própria de poderosos armamentos – os partidos, de direita e esquerda, se apressaram a mostrar serviço. Tinham que reagir. Como? Criando mais lei ou reformando as leis existentes. Não resolve nada, mas mostra que o governo e o Congresso estão preocupados, reagindo à crise de segurança pública do Brasil. Governo e oposição levam a disputa política para o conteúdo da legislação que possa lidar com o problema, divergindo em diferentes aspectos do projeto de lei que, supostamente, serviriam para conter a propagação do crime organizado no Brasil. Alguém já dizia: “se não quer enfrentar um problema, formule uma lei”. Não resolve e, em muitos casos ainda arrisca piorar. Como a proposta da direita e de alguns governadores, contida no primeiro relatório do PL Anti-facção apresentado pelo deputado Guilherme Derrite, enquadrando o crime organizado como terrorismo e tentando subordinar a atuação da Polícia Federal a autorizações dos governos estaduais. Todos concordam na introdução de penas mais elevadas e de maior rigor no regime prisional dos traficantes. Mas, como vão prender os chefões do crime organizado refugiados no quartel general das favelas ou nos presídios?

Lula perdeu a conexão com o povo? Por Thaís Oyama

O Globo

Quando o PT ancorava sua agenda na defesa dos direitos humanos em 1980, o cenário da criminalidade no país era outro

‘Reage, D’Alema, responde! Diz qualquer coisa de esquerda!’ A frase é de Nanni Moretti no filme “Abril”. Na cena, o italiano grita para a TV ao ver seu candidato, Massimo D’Alema, tomar um baile do populista de direita Silvio Berlusconi num debate eleitoral. No longa de 1998, Moretti faz uma versão ficcional dele mesmo — um cineasta de esquerda frustrado com a tibieza de seu campo político.

Lula, para alívio de seus Morettis, disse uma “coisa de esquerda” — aliás, duas — sobre a Operação Contenção, no Rio, e a consequência, como mostrou a pesquisa Quaest desta semana, foi a queda na sua popularidade. As frases do presidente — a operação “foi desastrosa do ponto de vista da ação do Estado” e traficantes são “vítimas dos usuários”, esta última dita e depois desdita — mereceram franca rejeição da maior parte dos brasileiros. Estaria Lula em Marte e os eleitores em Vênus?

Sociedade organizada, por Flávia Oliveira

O Globo

A conferência em plena Amazônia brasileira é também sinal da importância da democracia

A COP30 já é a segunda maior em número de participantes, 56,1 mil, ao todo — e isso tem muito a ver com a mobilização da sociedade civil organizada. As três últimas edições do encontro da ONU aconteceram em países sob regimes autoritários: Egito (2022), Emirados Árabes Unidos (2023) e Azerbaijão (2024). A conferência em plena Amazônia brasileira, portanto, é também sinal da importância da democracia. Belém está tomada por ações de organizações e movimentos sociais. E não apenas nos espaços oficiais; por toda a capital paraense, ao menos 80 endereços abrigam iniciativas sobre os impactos dramáticos da crise climática. Um conjunto robusto de estudos, relatórios, pesquisas, denúncias, inciativas, reivindicações e manifestações compõe o repertório a que as delegações diplomáticas pareciam desacostumadas.

Genealogia é carma? Por Eduardo Affonso

O Globo

O identitarismo inventou o pecado, mas, como na canção de Chico Buarque, se esqueceu de inventar o perdão

Pelos critérios da 36ª Bienal de arte de São Paulo, você não leria esta coluna. Haveria um conflito entre os temas abordados (quaisquer que fossem) e o trágico passado colonial mineiro.

É que um dos meus tetravôs foi o major José Luís da Silva Vianna. Pelos serviços prestados na Guerra do Paraguai, ele ganhou de D. Pedro II a patente militar e as terras onde mais tarde mandou erguer uma capela. No entorno, formou-se uma aldeia de indígenas catequizados, que deu origem à Vila de São Sebastião de Pedra do Anta, hoje um pacato município da Zona da Mata mineira.

O major não só participou do etnocídio no Paraguai e em Minas, como se valia de trabalho escravo em suas lavouras de café. Cinco gerações depois, ainda deve respingar sangue no teclado em que digito — motivo suficiente para que este texto não deva ser lido.

Quando a maioria é injusta, por Juliana Diniz

O Povo (CE)

A espetacularização das operações policiais rende votos porque alimenta a sede de justiçamento de uma sociedade cansada da insegurança. O cadáver do bandido gera gozo: os cidadãos de bem se sentem "vingados" pela eliminação desse inimigo personificado no corpo abatido pela polícia

A operação policial que ocorreu há dias nos Complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro, ficou marcada como a mais letal de todas as já realizadas. As imagens dos cadáveres não foram suficientes para impactar a opinião pública: pesquisas indicam que a maioria aprovou o ato. Os números influenciaram a movimentação dos políticos de direita, assim como contiveram instituições como Poder Judiciário e Ministério Público, que reagiram timidamente.

A espetacularização das operações policiais rende votos porque alimenta a sede de justiçamento de uma sociedade cansada da insegurança. O cadáver do bandido gera gozo: os cidadãos de bem se sentem “vingados” pela eliminação desse inimigo personificado no corpo abatido pela polícia. Pouco importa se o morto é inocente ou não; se havia mandado de prisão ou denúncia formal.

Jogo ainda aberto, por Carlos Andreazza

O Estado de S. Paulo

Estamos na quarta versão do relatório de Guilherme Derrite para o projeto Antifacção. Iremos à quinta, pelo menos. A estratégia de seu assessor parlamentar Hugo Motta – de atropelar à la Lira – fracassou. O governo, desapropriado, que teve tomada a autoria-gestão sobre proposta originalmente sua, provocou e colhe o desgaste do relator. Ganhou tempo e ar; e investe em que tenhamos as sexta, sétima, oitava versões como expressões de improviso.

Se não tem mais a propriedade sobre o que criara, trabalha para que o projeto ao menos não tenha a cara da oposição. Gestão de danos, depois da trairagem fundamental de Motta, que pegou a proposta de Lula para segurança pública – para 2026 – e deu na mão da oposição, precisamente na de Tarcísio de Freitas, o provável desafiante. Assim foi posta a mesa, em função da qual o Planalto organizou o seu jogo. Reagir imediatamente ao relatório da hora para lhe apontar “fragilidades e inconsistências”.

Prisão, rotina dos presidentes, por André Gustavo Stumpf

Correio Braziliense

Prisão é um risco permanente para quem se lança na política. O normal é cumprir um curto pedaço da pena, depois encontrar o caminho para a liberdade

A luta parlamentar que ocorre no Congresso em torno da aprovação do Marco Legal do Combate ao Crime Organizado é apenas uma faceta da disputa entre governo e oposição pela apropriação da narrativa sobre quem combate melhor o crime organizado ou desorganizado. Os brasileiros já manifestaram em diversas pesquisas de opinião que o maior problema brasileiro na atualidade é a criminalidade. E a administração do PT é percebida como leniente com os meliantes, considerados pessoas perseguidas pelo sistema econômico injusto. Essa curiosa visão da sociedade coloca toda comunidade em risco, porque a dona de casa que vai ao supermercado está ameaçada pela bandidagem. Ninguém gosta disso.

Planalto aplaude queda da inflação e Haddad critica Galípolo, por Adriana Fernandes

Folha de S. Paulo

Ministro da Secom, o marqueteiro Sidônio Palmeira tem batido bumbo para os resultados de outubro

Haddad hoje é um ministro carente de elogios e afagos

Com o ano eleitoral se aproximando, o Palácio do Planalto começou a exaltar a queda da inflação —um ativo importante na busca de votos dos eleitores na tentativa de reeleição do presidente Lula, em 2026, para o seu quarto mandato.

O marqueteiro de campanhas vitoriosas do PT e ministro da Secretaria de Comunicação Social, Sidônio Palmeira, já começou a explorar a queda. Ele tratou de divulgar nesta semana uma nota para alardear que a inflação registrou o menor índice para outubro em 27 anos. O IPCA fechou em 0,09%, a mais baixa variação para o mesmo mês desde 1998, quando o índice foi de 0,02%.

Ênio Silveira, 100, por Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Ênio Silveira ganha biografia no centenário de seu nascimento

A Civilização Brasileira foi alvo de incêndio criminoso e atentado a bomba

Durante a ditadura militar, o editor Ênio Silveira teve os direitos políticos cassados. Seus livros foram recolhidos, confiscados e queimados; sua livraria na rua Sete de Setembro, no Rio, e a editora Civilização Brasileira, alvos de incêndio criminoso, atentado a bomba e estrangulamento econômico. Um de seus principais autores, Carlos Heitor Cony, foi preso seis vezes pelo regime. Ênio conseguiu superar a marca: preso em oito oportunidades, acusado de "subversão cultural" e "propaganda comunista".

Segurança não é só repressão, por Oscar Vilhena Vieira

Folha de S. Paulo

Políticas estritamente repressivas apenas aumentam a demanda por mais violência

É preciso integrar as políticas de segurança às demais políticas públicas

A Câmara dos Deputados ofereceu nesta semana mais um espetáculo de irresponsabilidade política e desprezo pelo destino de milhões de brasileiros submetidos cotidianamente à tirania do crime organizado.

O despreparo do deputado indicado para a tarefa de relatar a proposta do chamado Marco Legal do Combate ao Crime Organizado ficou patente pelas sucessivas e contraditórias versões dos relatórios apresentadas ao longo da semana. Até restringir a competência da Polícia Federal para investigar o crime organizado aventou-se, sabe-se lá com que objetivo.

Um dos paradoxos das políticas de segurança, como destacado por Theo Dias e Carolina Ricardo em recente artigo nesta Folha, é que a ineficácia de políticas estritamente repressivas apenas aumenta a demanda por mais repressão, criando um enorme mercado para o populismo penal.

Lições para a universidade, por Cristovam Buarque

Veja

O ensino superior é atalho para a democracia e o humanismo

O Congresso do Futuro, liderado há quinze anos pelo ex-senador chileno Guido Girardi, se reuniu na semana passada em Madri. Dezenas de pensadores debateram o fundamental: para onde caminha a civilização. O rumo atual indica desequilíbrio ecológico e agravamento da desigualdade social. Um desenvolvimento harmônico entre os seres humanos e deles com a natureza não será concebido por partidos políticos, comprometidos em atender aos eleitores no curto prazo; nem por igrejas, cuja preocupação é com o mundo espiritual; ainda menos por sindicatos, cuja visão se limita aos interesses de sua categoria profissional na próxima data-­base. A universidade é a instituição capaz de formular ideias para retomar a aliança quebrada entre democracia nacional e humanismo planetário.

A política da crueldade, por Luiz Gonzaga Belluzzo e Nathan Caixeta

CartaCapital

A ideologia fascista não aflora imediatamente nas elites, ela desliza via positivismo e racionalismo

Para ilustrar a complexidade da quadra histórica que atravessamos, consideramos pertinente a visita ao último artigo de Paul ­Krugman, intitulado “The Big Smirk”, ou O Grande Sorriso.

Krugman cuida de investigar a dinâmica política do trumpismo, que mora no coração do movimento Make America Great Again e tem replicado exemplares ao redor do mundo. As figuras de Javier Milei, Jair Bolsonaro, suas proles e aspirantes à replica não nos deixam mentir.

A suntuosa festividade de Halloween promovida por Donald Trump, inspirada em O Grande Gatsby, exibiu como símbolo cuidadosamente escolhido uma modelo seminua dentro de uma gigantesca taça de martini. No mesmo dia, relata Krugman:

“…42 milhões de americanos perderam o auxílio alimentar federal, enquanto 1,4 milhão de funcionários federais estão sem receber salário”.

Para muitos comentaristas, o evento expressou a alma de playboy de ­Manhattan que sobrevive no presidente norte-americano. A imagem entrega, à primeira vista, a ideia de insensibilidade em relação à condição de milhões de americanos em situação precária e falimentar. Nada novo no cotidiano de um ricaço de Nova York, ou de um bem-nascido dos Jardins paulistanos.

Fusão fatal, por Aldo Fornazieri

CartaCapital

Nixon fracassou na “guerra às drogas”. George W. Bush, na “guerra ao terror”. Trump tenta unir as duas, com a adesão da direita no Brasil. O resultado é previsível

A matança promovida pelo governo do Rio de Janeiro nas comunidades da Penha e do Alemão, a operação policial mais letal da história do País, desencadeou uma intensa ­disputa política em torno da segurança pública. Com 121 mortos, a incursão revelou-se desastrosa, já que a função da polícia é prender e levar os suspeitos a julgamento. Agora, a conduta dos próprios agentes estatais está sob investigação do Supremo Tribunal Federal.

Há fortes indícios de que a ação determinada pelo governador Cláudio Castro foi deliberada, com o objetivo de se apoderar e de entregar para a direita a bandeira da segurança pública, nos termos de ações violentas como modus ­operandi. As articulações que Castro fez com os governadores bolsonaristas no pós-massacre evidenciam a manobra eleitoral.

Segundas intenções, por Jamil Chade

CartaCapital

A proposta de Derrite visava enquadrar movimentos sociais como organizações terroristas

Se hoje a extrema-direita busca formas para transformar grupos criminosos e o narcotráfico em facções terroristas, a ofensiva pode ser apenas o início de um processo que ameaça movimentos sociais. Um documento preparado pelo Executivo ao qual CartaCapital teve acesso aponta uma das preocupações em relação às mudanças no PL Antifacção apresentadas pelo deputado Guilherme Derrite: o risco de criminalização de entidades como o MST. Sob pressão, as alterações de Derrite acabaram desidratadas, mas o fato de terem sido propostas revelou a muitos a intenção de criar uma brecha para classificar como terroristas basicamente qualquer protesto, manifestação e a atuação de diversos movimentos sociais, entre eles o MST e o MTST, ou manifestações legítimas, como aquelas de trabalhadores de aplicativos, caminhoneiros ou professores.

A nova PEC da Bandidagem, por Cláudio Couto

CartaCapital

O presidente da Câmara associou-se a Tarcísio de Freitas e Guilherme Derrite para desidratar o PL Antifacção

Hugo Motta, o Débil, parece não aprender com os próprios erros. Depois da lambança da PEC da Bandidagem, volta a aprontar. Desta vez, contudo, é outro o instrumento legislativo: em vez de uma Proposta de Emenda Constitucional, um Projeto de Lei. Agora, Motta nem sequer se deu ao trabalho de propor um projeto próprio ou encomendado a um de seus aliados na Câmara. Em vez disso, pegou carona na proposta do Executivo sobre as facções criminosas, optando por ­desfigurá-lo. Nessa sabotagem, articulou-se com seu colega de partido no Republicanos, o bolsonarista moderado (sic) governador de São Paulo. Tarcísio de Freitas liberou seu secretário de segurança, o deputado licenciado Guilherme Derrite, para reassumir momentaneamente sua cadeira em Brasília, com a única e exclusiva tarefa de levar a cabo a empreitada e, assim, simultaneamente, atrapalhar o governo federal e se autopromover para a disputa por uma cadeira no Senado em 2026.

Na mão grande, por André Barrocal

CartaCapital

Com o apoio de Motta, o bolsonarismo se apropria e insiste em desfigurar o PL Antifacção. Mas o plano tem furos

Furto custa quatro anos de cadeia. A pena dobra quando o autor se aproveita da confiança da vítima. A Lei Antifacção proposta pelo governo Lula contra o crime organizado foi surrupiada metaforicamente na Câmara dos Deputados. Enquanto bandeira política, foi parar nas mãos do bolsonarismo. Seu nome e teor­ de momento não lembram em nada a proposta presidencial. O líder do PT, ­Lindbergh Farias, citou nas redes sociais a acusação de furto com abuso de confiança. E culpou Guilherme Derrite, o deputado PM que é secretário de Segurança Pública do estado de São Paulo. Derrite encaixa-se melhor no papel de receptador. O verdadeiro culpado, aquele que afanou a lei lulista e entregou ao receptador, é outro, o presidente da Câmara, Hugo Motta.

A segurança pública e a política, por Marcus Pestana

Todos nós ficamos perplexos e alarmados com os acontecimentos ocorridos semanas atrás no Rio de Janeiro. A megaoperação nos Morros do Alemão e no Complexo da Penha foi a mais letal até hoje, com 117 mortos e 2.500 policiais mobilizados. O nível de sofisticação das facções criminosas ficou demonstrado com drones despejando granadas; fuzis, metralhadoras e pistolas de última geração; um moderno sistema de vigilância eletrônica do território dominado, como um Estado paralelo instalado (inclusive “poder judiciário e penal” próprio para a comunidade dominada); e uma capacidade inequívoca de retaliação evidenciada no caos gerado, logo após, em artérias principais da capital fluminense. Foi revelado também que a região funciona como QG nacional do Comando Vermelho, e ponto de acolhimento de membros refugiados da organização vindos de diversos estados brasileiros.

Conquistar, perder e recuperar territórios, por Marco Aurélio Nogueira

Revista Será?

O controle sobre o território é a base do Estado moderno e da soberania nacional. Ao controlar um território, as nações controlam também as populações que nele habitam. Como garantia, organizam sistemáticos serviços de vigilância das fronteiras territoriais e de repressão aos rebeldes.

Nas melhores situações, tomam providências para prestar serviços essenciais (educação, saúde, cultura) e investir em melhorias na infraestrutura, com o que incentivam o desejo de pertencimento e a lealdade dos habitantes. Materializam, assim, a ideia de que quem manda em um território é quem o controla.

Os Estados valeram-se de vários argumentos para postular a posse de um território. A ancestralidade, a identidade étnica, a religião, a presença de uma população homogênea, o interesse econômico, a geopolítica. Mas foi sobretudo por meio de guerras, de conquistas violentas e disputas diplomáticas que limites territoriais se estabeleceram.

Poesia | Na véspera de não partir nunca, de Fernando Pessoa

 

Música | Jair Rodrigues - Disparada

 

sexta-feira, 14 de novembro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

PF faz bem em apertar cerco por fraude no INSS

Por O Globo

Operação prendeu ex-presidente do instituto, acusado de atuar em favor de confederação sindical

A Polícia Federal (PF) apertou o cerco contra os suspeitos da fraude bilionária que lesou aposentados e pensionistas por meio de descontos indevidos. Prendeu nesta quinta-feira o ex-presidente do INSS Alessandro Stefanutto, demitido após o escândalo vir à tona. Ele é acusado de ter atuado para liberar descontos a favor da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura depois de parecer contrário da procuradoria do INSS e de receber propina de uma das entidades investigadas (a defesa dele considerou a prisão “completamente ilegal” e alegou que Stefanutto tem colaborado com as apurações).

A operação da PF, em parceria com a Controladoria-Geral da União (CGU), cumpriu dez mandados de prisão e 63 de busca e apreensão em 14 estados e no Distrito Federal. Entre os alvos estavam José Carlos Oliveira, ministro do Trabalho e Previdência no governo Bolsonaro (ele terá de usar tornozeleira eletrônica), o deputado federal Euclydes Pettersen (Republicanos-MG) e o deputado estadual do Maranhão Edson Araújo (PSB). São investigados os crimes de inserção de dados falsos em sistemas oficiais, constituição de organização criminosa, estelionato previdenciário, corrupção ativa e passiva, além de atos de ocultação e dilapidação patrimonial. As medidas foram autorizadas pelo ministro André Mendonça, relator do caso no Supremo.

O protagonismo ambiental dos invisíveis, por José de Souza Martins

Valor Econômico

Pequenas iniciativas mostram uma insurreição e o germe de um imenso movimento social em favor do planeta e do que ele representa para a condição humana

“Seu” Joãozinho, um antigo morador de favela que existia à margem de um córrego, hoje ladeado pela avenida Escola Politécnica de São Paulo, nos fundos da Cidade Universitária, viu ali um terrenão que poderia ser aproveitado para o bem comum.

Nas margens plantou árvores, especialmente árvores frutíferas que alimentassem os pássaros que buscassem refúgio na cidade, expulsos das matas devastadas do entorno. “Seu” Joãozinho se aposentou e retornou à sua localidade do interior. Deixou o pomar que civiliza a avenida.

Presidente é maior perdedor, mas não há ganhador claro, por César Felício

Valor Econômico

Recuo generalizado do presidente só encontra explicação no impacto da operação policial do Rio

Se antipetismo se dividir, sobrenome Bolsonaro não é passaporte para segundo turno

A pesquisa de cenários eleitorais divulgada na quinta-feira (13) pela Genial/Quaest mostra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva perdendo terreno e competitividade de forma generalizada. Sinaliza pouco, contudo, sobre quem poderá enfrentá-lo em 2026. Lula está em situação de empate técnico no segundo turno, contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, inelegível e às portas da prisão. Três pontos percentuais os separam, em outubro eram 10.

A vantagem de Lula cai nas simulações que o contrapõem a Ciro Gomes (PSDB), Tarcísio de Freitas (Republicanos), Michelle Bolsonaro (PL), Eduardo Bolsonaro (PL), Romeu Zema (Novo), Ronaldo Caiado (União Brasil), Eduardo Leite (PSD) e Ratinho Júnior (PSD). Ou seja, todos.

Se nove adversários se saem melhor contra Lula nesta rodada do que se saíam há um mês, a notícia está no enfraquecimento do incumbente, uma paradoxal variável constante; e não no fortalecimento dos rivais. Uma prova está no fato de que a queda de Lula nas simulações foi maior do que a subida do oponente em cinco dos nove casos e igual em outros três. O único que teve ganho líquido em relação a Lula foi Leite, mas o governador gaúcho é uma espécie de plano D do PSD, que aposta primeiro em Tarcísio, depois em Ratinho, depois em não ter candidato. Lula batia Leite por 47% a 22%. Agora, por 41% a 28%.

A direta piscou, o ‘pato-manco’ bateu asas e decolou, por Andrea Jubé

Valor Econômico

Num cenário em que a maioria dos brasileiros aplaude a ação no Rio contra o crime, mesmo sob suspeita de excessos, é preciso prestar atenção em Cláudio Castro

Algumas máximas do poder de tão reiteradas, viram chavões, como a de que a política é como nuvem, cada hora está de um jeito. Ora atribuem a lição a Ulysses Guimarães, ora a uma raposa mineira, o ex-governador Magalhães Pinto. Outro clichê é de que não existe lugar vazio na política, logo uma raposa felpuda fareja o abate e ocupa o território. A autoria é desconhecida, mas a inteligência artificial sugere que a origem remonte a trecho de um dos “Sermões” do Padre Antônio Vieira: “A natureza não admite vácuo, nem a política o deve admitir”.

Raposa é outro chavão, usado para políticos sagazes e com faro para o poder. Condenado pelo envolvimento na tentativa de deslegitimar a eleição presidencial de 2022, em que saiu derrotado, o ex-presidente Jair Bolsonaro exibe um repertório de erros inclusive anteriores à trama golpista, como a conduta temerária na pandemia, e as agressões às instituições democráticas. Equívocos admitidos até mesmo por seus aliados, e que não autorizam considerá-lo uma “raposa”.

Anísio Teixeira: missão educação, Silvestre Gorgulho

Correio Braziliense

Anísio Teixeira defendeu uma educação universal e a implantou em Brasília. Seu objetivo era, com a educação, gerar uma revolução social

A vida ensina sempre. E, em 1665, em São Luís do Maranhão, o Padre Antônio Vieira ensinou que a "educação e a humildade são moedas de ouro. Valem muito em qualquer lugar e em qualquer tempo". A essas duas virtudes, quando se fala do professor Anísio Spínola Teixeira, temos que acrescentar pelo menos mais uma: visionário. 

Anísio Teixeira defendeu uma educação universal e a implantou em Brasília. Seu objetivo era, com a educação, gerar uma revolução social. Não defendia uma meia revolução, mas uma revolução total. Tinha um propósito certeiro: "Educação não é privilégio. É valor universal. Tem que ser gratuita, interativa e acessível a todos". 

Oposição pauta agenda negativa na Câmara para impedir reeleição de Lula, por Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

A inflexão no cenário eleitoral não está apenas no escândalo do INSS ou na disputa sobre segurança pública. Inflação, deficit fiscal e juros altos se tornaram munição da oposição

A oposição conseguiu abalar a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva mais uma vez, com uma agenda negativa focada nas bandeiras da ética e da ordem. O resultado está explícito nas intenções de voto dos brasileiros: em todos os cenários para a corrida eleitoral de 2026, a vantagem de Lula sobre os adversários voltou a diminuir, e a rejeição aumentou, conforme levantamento da Genial/Quaest divulgado nesta quinta-feira. Fazem parte dessa agenda, entre outros temas, a questão da segurança pública e o escândalo do INSS.

A crise com os Estados Unidos, depois do encontro da Malásia, entre Lula e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, desescalou, mas isso não tem impacto no cotidiano da população. O êxito da realização da COP30 em Belém, no Pará, sem embargo das eventuais críticas à organização do evento, também não teve grande repercussão na avaliação do governo por parte dos que não vivem na Amazônia.

O fator Derrite, por Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Derrite veio para relatar o PL Antifacções ou enfraquecer Lula e fortalecer a oposição?

O que o discurso da soberania fez, a operação contra traficantes no Rio desfez e o presidente Lula enfrenta duas rebordosas que se retroalimentam: sua recuperação de popularidade estancou e sua vantagem despencou num eventual segundo turno com pelo menos seis adversários, inclusive o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que sai propositalmente dos holofotes.

Esse é o sumo da nova pesquisa Quaest, derrubando a previsão de que Lula atingiria a esta altura aprovação maior que a desaprovação e já estaria em condições até de sonhar com vitória em primeiro turno. Nada disso. As curvas de popularidade não se inverteram, não há vitória possível na primeira rodada com tantos candidatos e até o segundo turno ficou bem mais apertado.

O alerta do STF a Derrite, por Raquel Landim

O Estado de S. Paulo

Gilmar e Moraes também avisaram do perigo de tirar atribuições da Polícia Federal

No início da semana, o presidente da Câmara, Hugo Motta, foi ao Supremo visitar os ministros Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes. Guilherme Derrite, relator do PL Antifacção, conversou com Gilmar por telefone.

Motta e Derrite queriam o aval dos ministros para o projeto de lei, que ainda estava na primeira versão. O diagnóstico foi duro: era inconstitucional. Igualar facções criminosas a organizações terroristas, disseram os ministros, poderia ter consequências graves. Permitiria que o americano Donald Trump fizesse intervenções como já ocorre no México, na Venezuela e na Colômbia. E isso seria dor de cabeça não só para Luiz Inácio Lula da Silva, mas para qualquer presidente que suba a rampa do Planalto em 2027.

O legado de Ruth Cardoso, por Simon Schwartzman

O Estado de S. Paulo

Ruth e Fernando Henrique Cardoso vinham ambos de uma tradição de compromisso com as questões sociais, mas por caminhos distintos

O livro Comunidade Solidária: Memória e Legado – homenagem a Ruth Cardoso, publicado pela Fundação Fernando Henrique Cardoso, é importante não só pela homenagem e registro que fica, como também por chamar a atenção para um momento importante de inflexão na história das políticas sociais brasileiras. Professora de antropologia da Universidade de São Paulo desde a década de 50, casada com seu colega Fernando Henrique, Ruth se vê, em 1995, alçada subitamente à situação de “primeira-dama”, cujo lado cerimonial procurava evitar, sem com isso deixar de estar ao lado do marido e buscar um lugar próprio de atuação conforme suas próprias ideias.

Ruth e Fernando Henrique Cardoso vinham ambos de uma tradição de compromisso com as questões sociais, mas por caminhos distintos. Aluno de Florestan Fernandes e Roger Bastide, a tese de doutorado de Fernando Henrique foi sobre o negro na sociedade escravocrata do Rio Grande do Sul, em que combinava o olhar antropológico sobre a população escravizada com a interpretação crítica marxista do capitalismo. Seu envolvimento com as questões sociais leva à perseguição pelo governo militar, e, no final dos anos 60, no exílio, torna-se célebre com o livro Dependência e Desenvolvimento na América Latina, em que interpreta os problemas de pobreza e subdesenvolvimento como consequências das assimetrias do sistema capitalista internacional. No final dos anos 70 começa sua carreira política em defesa da democracia, tornando-se, depois, o presidente do Plano Real, responsável pelo fim da inflação e pela modernização da economia.

Lula precisa mudar de assunto, por Raphael Di Cunto

Folha de S. Paulo

Relatório desastrado e apressado de Derrite dá munição ao presidente e divide até a direita

Reeleição depende de o petista tirar a discussão da segurança pública e focar em outras áreas

A escolha desastrada de Hugo Motta para relatar o projeto antifacção e o parecer apressado do deputado Guilherme Derrite (PP) permitiram ao PT e ao governo vencer na opinião pública uma primeira batalha, mas a reeleição de Lula depende é de uma mudança de assunto.

O pensamento majoritário no Brasil sobre segurança pública é desconectado do que pensam o presidente e seu partido. No imaginário popular, são operações como a do Rio, com centena de mortos, que vão diminuir a explosão de golpes e roubos de celular –mesmo que PCC e Comando Vermelho tenham pouca relação com esses crimes.

A população aplaude praticamente qualquer medida para endurecer o combate ao crime. Classificar facções como grupos terroristas? "Esqueça os especialistas, é uma ótima ideia!" Até a PEC da Segurança Pública, que 99% mal devem saber do que trata, registra apoio amplo na sociedade.

A eterna ofensiva contra o aborto legal, por Priscilla Bacalhau

Folha de S. Paulo

Nem sempre é razoável exigir consentimento da família para o procedimento

Meninas vítimas de estupro são submetidas a um calvário institucional

O debate sobre aborto legal volta e meia reaparece disfarçado de polêmica moral, apesar de ser permitido por lei em casos específicos desde 1940. No último dia 5, a Câmara dos Deputados aprovou um projeto de decreto legislativo para derrubar a resolução do Conanda (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente) que estabelecia diretrizes para o atendimento de crianças e adolescentes vítimas de violência sexual. O Senado, por sua vez, deve deixar o tema suspenso por ora. Enquanto isso, mais uma vez, a ânsia por votos conservadores se sobrepõe à garantia de direitos.

Analisar cabeça por cabeça, por Ruy Castro

Folha de S. Paulo

Como definir quem acredita que a Terra é quadrada, oval ou trapezoide?

E como explicar que pessoas de esquerda achem que houve fraude e Bolsonaro ganhou?

Há dias, ouvi de um homem cordial, culto e respeitado que os acontecimentos do 8/1 em Brasília —invasão e depredação do Palácio do Planalto, do Congresso nacional e do STF por uma multidão de bolsonaristas— não eram suficientes para configurar um golpe de Estado. "Não havia uma liderança", ele disse. "E como dar um golpe de Estado sem líder?" Ao ouvir que há toneladas de admissões, confissões, delações, planos, minutas, vídeos, áudios e mensagens incitando ao quebra-quebra, que serviria de pretexto para uma intervenção militar —o golpe—, classificou tudo de "ficção".

A incompetência de Lula 3 no INSS, por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Além de pilhado por ladrões, INSS é incapaz de fazer serviço básico, com filas enormes

Descaso com reformas essenciais faz país enfrentar riscos, como o de estouro no setor elétrico

Polícia Federal diz que tem mais político no listão da propina de uma das gangues da roubança no INSS. Suponha-se, por hipótese, que uma bancada de parlamentares ou figurões oposicionistas apareça com a boca na botija, com mala de dinheiro ou com notas no fundilho das calças, por assim dizer, esse clássico anacrônico da corrupção nacional (rouba-se com Pix). Ainda assim, vai ser difícil que Luiz Inácio Lula da Silva escape de perder pontos nas pesquisas.

massacre do Rio e a campanha do "mata, prende e arrebenta" da direita já pareciam conter o breve inverno de recuperação de Lula 3 (julho a setembro). A maré vira. Assim foi também porque o governo e esquerdas oficiais quase nada têm a oferecer em planos e resultados de contenção do crime, menos ainda no caso de facções.

Dinheiro é o vale ideal, por Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Governo foi muito tímido na nova regulamentação dos vales refeição e alimentação

Não vejo razão para não trocar vales por dinheiro, que é aceito em todos os lugares e não gera custos de administração

O governo Lula foi é tímido na nova regulamentação do Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT), dominado pelas empresas que administram benefícios como os vales restaurante e alimentação. Eles são essencialmente uma forma piorada de dinheiro. Só podem ser recebidos por estabelecimentos específicos como restaurantes e supermercados credenciados, que ainda precisam pagar altas taxas às administradoras pelo "privilégio" de aceitá-los.

Inflexão à esquerda foi decisão de risco, por Vera Magalhães

O Globo

Pesquisa Quaest que mostra pausa na recuperação do petista acontece depois de acenos a convertidos e divergência em relação ao caminho para segurança pública

Os dois blocos da mais recente pesquisa Quaest, o que trata da avaliação de Lula e de seu governo e o que traz cenários para a eleição presidencial, mostram que a clara inflexão feita pelo presidente à esquerda nos últimos meses não obteve, ao menos por enquanto, respaldo do eleitorado. Pelo contrário: ele pode ter afugentado um eleitor que “voltava” para o petista depois da sabotagem promovida por Eduardo Bolsonaro contra o Brasil nos Estados Unidos.

Antes mesmo de ser levado a empunhar a bandeira da soberania nacional devido às ações do filho de Jair Bolsonaro para obter sanções contra o país, Lula já vinha apostando na retomada do discurso do “nós contra eles”, desta vez traduzido numa defesa da justiça tributária em que ele representaria os trabalhadores e a classe média, e a oposição e o Congresso promoveriam os interesses dos BBBs, banqueiros, bets e bilionários.

Roubalheira ecumênica, por Bernardo Mello Franco

O Globo

Esquema para lesar aposentados atravessou governos Bolsonaro e Lula

A nova fase da Operação Sem Desconto expôs uma roubalheira ecumênica. As investigações indicam que políticos à esquerda e à direita se lambuzaram no esquema do INSS. Formaram uma frente ampla para tomar dinheiro dos aposentados.

Ontem a Polícia Federal prendeu Alessandro Stefanutto, ex-presidente da autarquia federal. Indicado pelo PDT, ele é acusado de receber mesada de R$ 250 mil de uma entidade sob suspeita. Para esconder a propina, diz a PF, usou até uma pizzaria.

Quando a gatunagem veio à tona, o então ministro da Previdência, Carlos Lupi, afirmou que a escolha de Stefanutto era de sua “inteira responsabilidade”. O pedetista caiu, mas o governo não se livrou do desgaste. O investigado foi nomeado em julho de 2023, seis meses depois de Lula subir a rampa.

‘O agente secreto’ é equívoco político, por Pablo Ortellado

O Globo

Filme aponta para questões relevantes, mas as trata de modo esquemático

Estreou nos cinemas “O agente secreto”, novo filme de Kleber Mendonça Filho. Vencedor de duas premiações importantes em Cannes, ele tem recebido reconhecimento quase unânime da crítica. O filme, porém, está atravessado por equívocos políticos.

Conta a história de Marcelo Alves (Wagner Moura), um professor de engenharia da Universidade Federal de Pernambuco perseguido por Ghirotti, funcionário graduado do governo, durante o período da ditadura militar. Ghirotti, convencido de que o desenvolvimento tecnológico brasileiro deve se concentrar no Sudeste e de que o departamento de Marcelo precisa de um “banho de imersão” no setor privado, ameaça fechá-lo.

Durante um jantar, o desentendimento entre os dois esquenta, e a mulher de Marcelo termina agredindo o filho de Ghirotti. Ela morre em seguida, em circunstâncias não explicadas (talvez assassinada?), e Marcelo se lança numa longa fuga que o leva a São Paulo, depois de volta ao Recife, onde se refugia num predinho com outros perseguidos. Tenta se reunir com o filho, que vive com os avós, para se exilar no exterior, quando descobre que é procurado por pistoleiros.

Viena – Áustria, 1913, por Cláudio Carraly*

No ano de 1913, Viena era uma cidade em efervescência. Uma metrópole na encruzilhada de antigas tradições e inovações modernistas, um caldeirão de ideias onde culturas e ideologias se misturavam. Era também o lar temporário de figuras que, embora ainda não soubessem, moldariam profundamente todo o século XX.

Entre os mais notáveis residentes dessa época estavam Sigmund Freud, Leon Trotsky, Joseph Stalin e Ludwig Wittgenstein, cada um em diferentes estágios de sua jornada pessoal, mas todos movidos por uma busca insaciável por entendimento e transformação.

Sigmund Freud, o pioneiro da psicanálise, estava em Viena há décadas. Sua prática clínica e suas teorias sobre o inconsciente desafiavam as noções tradicionais sobre a mente humana. Freud via essa cidade como o epicentro de uma revolução silenciosa na compreensão do comportamento humano, uma revolução travada nas profundezas da psique.

Leon Trotsky, na época, estava exilado da Rússia czarista e residia em Viena, onde escrevia para um jornal revolucionário. Articulava suas ideias sobre a revolução socialista e o papel da classe trabalhadora na luta contra a opressão da monarquia russa. Para Trotsky, Viena representava um lugar de relativa liberdade para organizar a oposição no exílio e planejar um futuro grandioso para sua pátria.

Joseph Stalin, ainda conhecido como Koba, estava em Viena por um breve período, também exilado e em busca de refúgio. Era um verdadeiro trabalhador em prol da revolução, profundamente envolvido com as atividades do partido. Entre os citados, era sem dúvida o nome menos conhecido, mas suas ambições já eram evidentes para aqueles que o conheciam.

Ludwig Wittgenstein, um jovem filósofo austero e introspectivo, estava na cidade durante uma pausa de seus estudos em Cambridge. Absorvido em questões de lógica e linguagem, já começava a delinear as ideias que mais tarde formariam a base de seus estudos. Para ele, Viena era um lugar onde as questões sobre o significado e a expressão podiam ser exploradas em meio ao ruído do mundo real.