*Luiz Werneck Vianna (1938/2024) foi um sociólogo, pesquisador, professor universitário e escritor brasileiro. A guisa de um prefácio, do livro Modernidades alternativa – O século XX de Antonio Gramsci.
Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
*Luiz Werneck Vianna (1938/2024) foi um sociólogo, pesquisador, professor universitário e escritor brasileiro. A guisa de um prefácio, do livro Modernidades alternativa – O século XX de Antonio Gramsci.
Poderes precisam voltar a zelar pelo equilíbrio institucional
Por O Globo
Cabe ao plenário rever decisão do decano que
estabeleceu impeachment especial para os ministros do STF
A democracia brasileira tem demonstrado
resistência tenaz aos desafios que lhe têm sido impostos nas últimas quatro
décadas. O arcabouço institucional criado pela Constituição de 1988 se mostrou
eficaz para promover o impeachment de presidentes e governadores, punir
políticos e empresários corruptos e, recentemente, condenar um ex-presidente e militares
graduados por tentativa de golpe. Nos últimos tempos, contudo, o equilíbrio
institucional tem sofrido abalos, com Poderes esboçando avanços incompatíveis
com seus atributos e prerrogativas constitucionais.
A tensão do Legislativo com o Executivo fica patente na multiplicação desarrazoada de emendas parlamentares, na derrubada constante de vetos presidenciais por mera vendeta ou nos embates em torno da sabatina do indicado ao Supremo Tribunal Federal (STF). Com frequência, decisões do Judiciário têm sido acusadas de invadir competências do Parlamento. O Executivo também virou alvo frequente de críticas por decretos e Medidas Provisórias considerados abusivos ou pela tentativa de aparelhar e interferir em decisões de agências reguladoras.
Valor Econômico
É preciso priorizar o desenvolvimento
integral de crianças e jovens, processo começa na chamada primeira infância
A violência é um fenômeno complexo e
multifacetado, ainda mais numa sociedade tão desigual e marcada pelo
patriarcalismo escravocrata como o Brasil. Não há uma bala de prata e várias
políticas públicas devem ser acionadas para enfrentá-la. Mas, se tivesse um
único pedido ao gênio da lâmpada, dando-me o poder de atacar a raiz mais
profunda do problema, escolheria a maior proteção e a produção de melhores
oportunidades às crianças e jovens do país. Seria sair de um presente cercado
pela barbárie e a desesperança, indo para um lugar onde as sementes do futuro
se tornariam a prioridade da agenda pública brasileira.
O público infantojuvenil brasileiro, especialmente nos lugares mais vulneráveis, conhece a violência desde cedo. Segundo pesquisa feita pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e o Ipea, 13 crianças e jovens sofreram alguma forma de violência por hora em 2023, num avanço de 36,2% em relação ao ano anterior. Muitas famílias, infelizmente, ainda são um lugar que desde cedo produz agressões contra meninos e meninas, inclusive as de cunho sexual, verdadeira barbárie que marca a nossa sociedade.
Valor Econômico
A condenação tanto do ex-presidente da
República quanto de oficiais superiores das Forças Armadas é uma espécie de
último e tardio episódio da proclamação de 15 de novembro de 1889
O dia 25 de novembro de 2025 poderá ficar na
história dos marcos de transformações e mesmo supressão de valores supostamente
pétreos da organização política do país. Aqueles que preservaram, em nossa
república anômala, exceções à regra da igualdade jurídica de todos. Concepções
antimodernas e antirrepublicanas, disfuncionais. Não as de uma república de
cidadãos.
Esta é uma sociedade com fortes resquícios,
em sua estrutura política, da sociedade estamental do antigo regime. Nos livros
do século XVIII, de uma ordem religiosa de São Paulo, encontrei registros de
que a esmola para um nobre pobre era de 12 vezes a esmola de um simples pobre.
Rigor da quantificação na definição do que era aqui a sociedade estamental, não
a das diferenças sociais de classe. As diferenças eram de nascimento.
Mesmo não sendo propósito do STF, na condenação dos réus militares do processo do golpe de Estado de 8 de janeiro de 2023, igualou ele, social e politicamente, todos os participantes do golpe já em andamento desde antes da eleição de 2022. Enfim, de fato, todos juridicamente iguais.
Valor Econômico
Demorou, mas o governo resolveu se posicionar sobre a escalada dos feminicídio no país, diante dos episódios de barbárie dos últimos dias. Em meio a muito discurso e pouca ação, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, na terça-feira (2), que a primeira-dama Rosângela da Silva (Janja) fez um apelo para que ele assumisse a responsabilidade de uma “luta mais dura contra a violência do homem contra a mulher”.
Durante evento da Petrobras em Suape (PE), no dia 2, Lula afirmou que estava lançando, naquele momento, um movimento para conscientizar esse país de que “homem não nasceu para bater em mulher”. Prometeu uma campanha diferente para mostrar que o enfrentamento ao feminicídio não é uma luta das mulheres, porque deve ser uma bandeira dos homens. Pediu que quem estivesse com ele, levantasse as mãos. A multidão obedeceu.
O Globo
Parlamento federal está fraco para causas de
interesse público e forte para legislar em causa própria
Escândalos de verdade são votos de
congressistas visando a apenas contrariar os interesses de “adversários”. Sem o
espírito público alardeado no decorrer da candidatura, deputados e senadores,
pagos pelos cidadãos, se manifestam sem outra preocupação que não seja
demonstrar força e poder, defendendo interesses obscuros ou escusos.
Há mais de 20 anos fizemos “Vocação do poder”
(codirigido por Eduardo Escorel), filme que registrava as intenções dos que
desejavam seguir carreira política. Eram candidatos que ambicionavam, pela
primeira vez, um cargo eletivo. Todos representariam a população da cidade do
Rio de Janeiro na Câmara dos Vereadores. Queríamos identificar o que os
conduzia a esse propósito e o que os orientava nesse desejo profundo de ser
políticos profissionais.
Em comunidades pobres, as demandas de votos eram sempre repetidas com pleitos que iam de muros de arrimo contra inundações até dentaduras, laqueaduras, cadeiras de rodas e outras carências. Na Zona Sul, em contraste, candidatos pouco prometiam ou distribuíam, com exceção de santinhos e sorrisos. Os que ali moravam não precisavam nem mesmo de vereadores para intermediar providências. Esgotos entupidos, falta de iluminação pública adequada ou outras mazelas demandam providências de que os prefeitos, por morarem ou circularem por lá, se inteiram todos os dias. Para aqueles que moravam em bairros afastados, seria sempre necessária a intervenção de políticos — vereadores, de preferência — para que providências fossem tomadas.
O Globo
Liminar de Gilmar Mendes abre mais um
precedente perigoso de investida de um Poder nas atribuições de outro
Quem foi criança em qualquer época a partir
dos anos 1970 certamente já jogou ao menos uma partida do jogo Super Trunfo.
Trata-se de uma disputa de cartas com atributos, e uma única, que leva o nome
do jogo, é capaz de vencer quase todas as demais. Pois é: nem o Super Trunfo
liquida todas as demais, pois as cartas marcadas com um “A” se sobrepõem a ele.
O que o Supremo Tribunal Federal faz ao tentar limitar quem pode pedir impeachment de seus integrantes e aumentar na mesma tacada a votação necessária para abertura desses processos é buscar um Super Trunfo que lhe permita sobrepujar os dois outros Poderes, e isso não é aceitável numa democracia constitucional.
O Globo
Dos seis deputados que comandaram a
Assembleia Legislativa do Rio desde 1995, só um nunca foi preso. A
gangsterização está longe de ser um fenômeno recente na política fluminense. A
novidade é a conexão explícita entre o crime do colarinho branco e o narcotráfico.
Conhecido como TH Joias, o deputado Thiego
Silva foi em cana há três meses, acusado de fazer negócios com o Comando
Vermelho. Segundo as investigações, ele intermediava compra e venda de drogas,
fuzis e até equipamentos antidrones para a facção criminosa.
Nesta quarta, foi a vez do atual chefão da Alerj, Rodrigo Bacellar. Mensagens apreendidas pela Polícia Federal indicam que ele vazou informações sigilosas e orientou o aliado TH Joias a esconder provas que poderiam incriminá-lo.
O Globo
Se há um problema com o Judiciário
brasileiro, é seu poder excessivo, não sua fragilidade institucional
“O Poder Judiciário no Brasil é o mais forte
do mundo. Não há no mundo um Poder Judiciário tão forte quanto o do Brasil.” A
afirmação, feita pelo ministro Alexandre de Moraes na última terça-feira,
deveria servir de ponto de partida para qualquer debate sério sobre as relações
entre os Poderes no país. Se há um problema com o Judiciário brasileiro, é seu
poder excessivo, não sua fragilidade institucional.
Na quarta-feira, o ministro Gilmar Mendes concedeu medida cautelar que suspende e reinterpreta dispositivos da Lei do Impeachment, estabelecendo procedimentos restritivos para o impedimento de magistrados. A medida implode o sistema de freios e contrapesos, minando o controle externo do Judiciário.
Correio Braziliense
Até julho de 2026, o governo
será obrigado a quitar 65% das emendas individuais e de bancada destinadas à
saúde e à assistência social e às chamadas emendas Pix
A aprovação do texto-base da LDO de 2026,
nesta quinta-feira, em sessão conjunta do Congresso, escancarou um movimento já
consolidado, mas agora assumido sem disfarces: em pleno ano eleitoral, a
maioria dos parlamentares decidiu impor ao Executivo um calendário de liberação
de emendas que prioriza interesses eleitorais imediatos, reforça o poder dos
parlamentares que disputarão a reeleição e aprofunda as distorções do sistema
político brasileiro. O Legislativo avança sobre o Orçamento da União com
apetite ampliado, transformando em política de Estado um mecanismo tipicamente
de aliciamento eleitoral.
Pelo acordo costurado entre o relator Gervásio Maia (PSB-PB) e o Planalto, o governo será obrigado a quitar até julho de 2026 nada menos que 65% das emendas individuais e de bancada destinadas à saúde e à assistência social, além de cumprir o mesmo percentual para as chamadas emendas PIX, modalidade sob investigação no STF pela opacidade e pelo risco de uso eleitoreiro. São aproximadamente R$ 52 bilhões em emendas, distribuídas entre 513 deputados e 81 senadores.
O Estado de S. Paulo
O Congresso tornou-se um desafio democrático. A começar pelo avanço que fez sobre o Orçamento nacional
Primeiro, é necessário convencer que o problema existe. Depois, a tarefa é reconhecer sua dimensão gigantesca, a ladeira que teremos de subir para resolvê-lo. No meu entender, esta é uma grande questão em 2026: como renovar o Congresso. Tudo na sua dinâmica atual conspira para que nada mude. O Congresso dispõe de mais de R$ 50 bilhões em emendas parlamentares. Além disso, os partidos recebem cerca de R$ 5 bilhões para financiar a campanha eleitoral. Como pessoas da sociedade, sem recursos especiais, apoiadas apenas por grupos de amigos, conseguirão romper essa montanha de dinheiro? De um ponto de vista numérico nunca se conseguirá maioria. Mas é possível constituir um pequeno grupo suprapartidário que se articule com a opinião pública, consiga algumas pequenas vitórias e evite, por seu turno, decisões calamitosas.
O Estado de S. Paulo
Só no ambiente degradado de hoje é possível levar Michelle Bolsonaro a sério para a Presidência
Assim como só uma sensação tão forte de perplexidade, desesperança e falta de alternativa poderia alavancar e garantir a vitória de Jair Bolsonaro em 2018, só num ambiente institucional tão degradado como o de hoje seria possível levar a sério o nome da sra. Michelle Bolsonaro para a Presidência.
Michelle é uma mulher bonita, que produziu a melhor imagem da posse do seu marido, discursando em libras, mas que experiência e qualificação pessoal, política, administrativa e intelectual ela tem para presidir o Brasil? Articular uma candidatura assim é uma irresponsabilidade com o País.
Posso afirmar que raramente conheci, ao longo dos meus 73 anos, uma figura humana tão extraordinária quanto ele.
Sindicalista, engajado no Partido Comunista já em meados da década de 50, conhecendo como ninguém o pensamento revolucionário de Antonio Gramsci, Gilvan transformou sua existência em obra de arte.
Folha de S. Paulo
Resultado era esperado e PIB ainda deve
crescer mais do que 2% neste 2025
Ritmo fraco aumenta ligeiramente as
possibilidades de corte de juros em janeiro
A economia está ainda morninha por causa do desempenho daqueles setores que reagem menos ou pouco às andanças da atividade dita "doméstica" (mais nacional) ou às taxas de juros daqui. Isto é, indústria extrativa (petróleo e minérios), grande agropecuária e exportações. Por tabela, um setor que presta serviços a essas atividades, como transportes, logística, anda melhorzinho também, assim como a construção civil, empurrada por obras de infraestrutura e, menos, pelo Minha Casa Minha Vida. Mas, no geral, quanto à dita "absorção doméstica", o ritmo de crescimento baixou a níveis pré-Lula 3 ou pré-epidemia. É o que se depreende dos dados do PIB divulgados nesta quinta-feira (4) pelo IBGE.
Folha de S. Paulo
Liminar de Gilmar Mendes blinda ministros do
STF e escala catimba constitucional
Mesmo que Judiciário e Legislativo evitem
confronto final, instituições sairão desgastadas
Brasileiros descobriremos em breve qual Poder
detém o supertrunfo, se é o Judiciário, ao qual cabe sempre a última palavra em
disputas legais, ou se é o Legislativo, que tem a prerrogativa de alterar as
próprias regras do jogo.
O ministro Gilmar Mendes, do STF, deu mais uma esticada na corda da catimba constitucional ao decidir monocraticamente que só o procurador-geral da República pode propor o impeachment de ministros do STF, entre outras mexidas na lei 1.079/50.
Folha de S. Paulo
Gilmar Mendes altera legislação e põe os
magistrados na categoria de autoridades acima da lei
Supremo corre o risco de se igualar a
parlamentares que atuam para ficar longe do alcance da Justiça
Não existe lei velha, lembra Gustavo Sampaio,
professor de direito constitucional da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Existe a lei e, como tal, deve ser respeitada até que os legisladores decidam
mudá-la em deliberação do Congresso
Nacional. É a competência conferida ao colegiado pela regra da
República.
Na visão do ministro Gilmar Mendes, contudo, a norma pode ser adaptada à conveniência dos ministros do STF, que temem retaliações políticas.
"Uma coisa na cidade se perde: são as estrelas", escreveu certa vez Rachel de Queiroz, uma admiradora do céu do sertão. De um céu tão bonito e iluminado que continuaria assim mesmo sem a lua, mesmo sem a Estrela d'Alva. Até sem o Cruzeiro do Sul.
Militante do centenário Partidão desde jovem, líder estudantil, preso, perseguido, exilado, afastado do serviço público federal pela ditadura militar de 1964.
Retorna ao Brasil com anistia de 1979, incorpora-se às jornadas pelo fim do regime militar, reintegra-se à direção partidária e participa da luta interna, contra o dogmatismo burocrático, que culmina na fundação do Partido Popular Socialista-PPS, hoje Cidadania.
Desde então, edita o blog nacional "Democracia Política e Novo Reformismo", que recebe colaboração atual e diversificada de boa parte da melhor intelectualidade brasileira.
Leitura diária de milhões de leitores ao longo de muitos anos. Simultânea publicação do melhor da teoria marxista universal e renovada, que faz de Gilvan Melo um intelectual orgânico de nossa formação social.
Parabéns, vida longa, saúde e paz para toda família. Um abraço fraterno.
*Foi sindicalista e Secretário do Governo de Pernambuco (1963/1964)
*Hannah Arendt (1906-1975), A promessa da política, p. 150. Editora Difel,
2008.
Congresso e governo precisam esfriar os ânimos
Por O Globo
Lula e Alcolumbre têm de demonstrar
maturidade institucional na indicação de Messias ao Supremo
Já foi longe demais o embate entre Executivo
e Legislativo, deflagrado depois que o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva indicou o chefe da Advocacia-Geral da União (AGU), ministro Jorge
Messias, à vaga no Supremo Tribunal Federal (STF)
aberta com a aposentadoria antecipada do ministro Luís Roberto Barroso.
Contrariado porque o senador Rodrigo
Pacheco (PSD-MG) foi preterido na indicação, o presidente do
Senado, Davi
Alcolumbre (União-AP), desde o primeiro momento tentou criar problemas
para o governo.
Assim que Messias foi anunciado, o Congresso aprovou uma pauta-bomba com custo bilionário para as contas públicas e derrubou vetos presidenciais necessários, tomando decisões flagrantemente deletérias para o Brasil. Em retaliação, temeroso de não reunir a tempo os 41 votos necessários à aprovação de Messias no plenário, o Planalto não enviou ao Senado a mensagem de praxe oficializando a indicação, forçando Alcolumbre a cancelar a sabatina que marcara para a semana que vem.
O Globo
Os ministros viraram entidades próprias, e
cada um atua de acordo com seu pensamento e seu desejo, e não com a
Constituição.
O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal
Federal (STF), decidiu monocraticamente alterar a legislação que prevê o
impeachment de ministros do Supremo, impondo vários obstáculos novos a que isso
aconteça, num movimento político de blindagem própria e de seus colegas de
plenário. Temem que, na próxima eleição, a direita assuma uma maioria no Senado
que permitiria aprovar impeachment de ministros. No mesmo dia, outro ministro
do Supremo, Dias Toffoli, também por decisão própria, avocou a si todo o
processo que investiga o banqueiro Daniel Vorcaro e ações correlatas,
decretando o mais alto grau de sigilo. Não à toa, a defesa dos implicados
festejou a decisão.
A indicação do ministro-chefe da Advocacia-Geral da União (AGU), Jorge Messias, também explicitou um racha dentro do plenário do STF. De um lado, o ministro André Mendonça, indicado por Bolsonaro, trabalhando arduamente a favor de Messias (ministro de esquerda apoiado por ministro da direita). Em comum, são terrivelmente evangélicos, adicionando à crise política um componente religioso que não deveria estar nesse jogo, pois o Estado é laico. Messias chama Mendonça de “irmão de fé”.
O Globo
O Supremo Tribunal Federal resolveu dar dois mimos de fim de ano aos brasileiros. No primeiro, o ministro Gilmar Mendes suspendeu numa canetada a possibilidade de qualquer cidadão apresentar denúncia contra os ministros por crime de responsabilidade. O decano do STF decidiu ainda que só o procurador-geral da República pode fazer isso, e a votação mínima no Senado apenas para deixar o caso seguir passa a ser de dois terços, e não mais maioria simples.
O Globo
O ministro Gilmar Mendes tira direito de
cidadão e convulsiona o país, mas Supremo está sob ataque pelos seus acertos e
não pelos seus erros
Há mais de 40 pedidos de impeachment do ministro Alexandre de Moraes. Pela lei, em casos de impedimento de ministros do STF, o Senado, ao mesmo tempo, acusa e julga. Decide por maioria simples e, assim que o processo é iniciado, o ministro é afastado. É uma proteção institucional frágil, na visão de ministros do STF. Ontem, o ministro Gilmar Mendes tomou a controversa decisão de que apenas o procurador-geral da República pode pedir impeachment de ministros do STF. Um ministro que defende a decisão monocrática de Gilmar disse que os pedidos contra Moraes são “puramente perseguições e retaliações". O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, reagiu a Gilmar, acusando-o de tentar usurpar prerrogativas do Senado. Isso acontece 24 horas depois de um confronto direto entre o senador e a Presidência da República por conta da indicação do nome do ministro do STF. O Brasil pisca e nova crise institucional eclode. Ontem, foi mais um dia comum no Brasil.
Valor Econômico
O efetivo combate ao crime organizado não
envolve matanças e mais espetacularização, mas requer preparo técnico,
conhecimento do mercado e expertise no complexo sistema financeiro
Segurança pública tende a ser o principal
tema da campanha eleitoral no ano que vem. Representantes dos partidos de
direita têm explorado o assunto com bastante antecedência, e aparente
eficiência. Querem marcar posição no debate do combate ao chamado crime
organizado, ainda que não tenham formalizado o nome (ou nomes) para a disputa à
Presidência da República. Isso, aliás, não importa agora. O mais relevante para
Tarcísios, Zemas e Caiados é colocar o governo em segundo plano no que diz
respeito à matéria da segurança.
Na busca da visibilidade como defensores da ordem pública, aqueles políticos semeiam propostas e ações para colherem frutos a seu favor no futuro. Estão juntos nisso. Operam no estilo trator, com o apoio explícito do presidente da Câmara dos Deputados, deputado Hugo Mota. Não devem ser subestimados.
Valor Econômico
Ministro corre o risco de devolver discurso a
extremistas que rumavam para ficar sem assunto
Duas perguntas sobre a decisão do ministro
Gilmar Mendes que restringe ao PGR a proposição de impeachment no Supremo
Tribunal Federal e eleva o quórum de maioria simples para dois terços
atravessaram o dia sem respostas: Por que agora? Por que em liminar?
A ação foi impetrada pelo Solidariedade, partido presidido pelo deputado Paulinho da Força (SP). Um dos parlamentares com mais franco acesso ao decano do STF, Paulinho poderia ter apresentado esta ação ao longo de todo seu mandato, mas escolheu o 19 de setembro para fazê-lo. Onze dias depois, a ação era enviada para despacho do procurador-geral da República, que se manifestou há exatamente um mês. Incluído na pauta de julgamento na última terça-feira, ganhou liminar no dia seguinte.
Correio Braziliense
O excesso de poder judicial
tende a se intensificar e alimentar a insatisfação de setores do Congresso que
veem no STF não apenas um árbitro, mas um protagonista político
A decisão monocrática de Gilmar Mendes, que
restringe à Procuradoria-Geral da República a legitimidade para apresentar
denúncias por crimes de responsabilidade contra ministros do Supremo Tribunal
Federal, não é um episódio isolado. Ela se inscreve numa longa trajetória de
expansão da autoridade judicial sobre o sistema político. Esse fenômeno foi
analisado pelo falecido sociólogo Luiz Werneck Vianna, que identificou, desde
os anos 1990, a formação de um novo canal de organização política da sociedade
no qual o Direito não apenas regula conflitos, mas ocupa, historicamente,
funções que em outros países caberiam aos partidos, ao parlamento e à sociedade
civil organizada.
Em Corpo e alma da magistratura brasileira (1997) e A judicialização da política e das relações sociais no Brasil (1999), Werneck demonstrou que a Constituição de 1988 ampliou competências do Judiciário, criou direitos e estabeleceu mecanismos de controle que transferiram para as cortes superiores uma porção crescente da vida pública. O STF deixou de ser um intérprete final da Constituição para se tornar um ator político estruturante, responsável por arbitrar desde políticas públicas até conflitos federativos, temas morais e impasses institucionais.
Por Vinicius Doria / Correio Braziliense
Decano do STF concede liminar que torna mais
difícil o impedimento de magistrados da Corte
O decano do Supremo Tribunal Federal (STF),
ministro Gilmar Mendes, decidiu de forma monocrática (individual) considerar
inconstitucionais alguns pontos da Lei do Impeachment, de 1950, que regulamenta
o afastamento de autoridades, incluindo ministros da Corte. No ponto mais polêmico,
o magistrado considerou que apenas a Procuradoria-Geral da União (PGR) tem
poder constitucional para apresentar denúncia contra ministros do STF por crime
de responsabilidade. Um dos artigos da lei prevê que esse tipo de denúncia pode
ser feito por "qualquer cidadão".
A determinação de Gilmar Mendes também altera
o quórum mínimo necessário para que o Senado — Casa responsável pelo julgamento
de pedidos de impeachment — abra processo de afastamento de ministros. Pela
decisão, que vale até o plenário do Supremo julgar o mérito da questão, o
processo de impeachment de ministros, para ser aberto, precisa ser apreciado em
sessão plenária com quórum mínimo de dois terços (54 dos 81 senadores), em vez
de 50% mais um voto (41 senadores).
No caso da abertura de processo, Gilmar também entende que — ao contrário de processo semelhante contra o presidente da República — ministros do STF não podem ser afastados do cargo enquanto a ação estiver em curso. De acordo com parecer da PGR, seguido por Gilmar, como os magistrados não têm substitutos, a ausência de um deles pode prejudicar a rotina de julgamentos da Corte.
O Estado de S. Paulo
O Supremo Tribunal Federal está a caminho de capturar de vez a esfera da política
Depois de se tornar mais uma instância política, o STF quer ser a única com a qual ninguém e nenhum Poder se mete. A Corte está chegando lá, com a liminar do ministro Gilmar Mendes alterando profundamente as regras de impeachment (portanto, controle) de ministros do Supremo – e o próprio equilíbrio entre os Poderes.
O pano de fundo para essa decisão monocrática é uma visão pessimista da política e de seus participantes como algo tenebroso. Mesmo antes de Bolsonaro, os “iluminados” do STF já enxergavam o Legislativo como um covil de espertalhões (para dizer o mínimo) de todo tipo, com motivos nada republicanos atrás de cada demanda disfarçada de projeto político. Ainda mais no circo para apreciar uma escolha do presidente para uma vaga aberta na Corte.
O Estado de S. Paulo
O sistema de freios e contrapesos estabelece independência e autonomia para cada um dos Poderes atuar, mas com capacidade mútua de limitar eventuais excessos. Esse equilíbrio entrou em colapso ontem, quando Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), reduziu a capacidade do Senado de abrir processo de impeachment contra ele mesmo e seus colegas.
Um exemplo de como esse equilíbrio funciona:
o STF vota a constitucionalidade de normas aprovadas pelo governo e pelo
Congresso, podendo derrubá-las. Em contrapartida, os parlamentares detêm o
poder de abrir processo de impeachment do presidente da República ou ministros
da Corte.
Na decisão, Mendes considerou que há trechos na Lei de Impeachment incompatíveis com a Constituição Federal. O ministro aumentou o quórum no Senado para a abertura de processo, declarou que apenas o procurador-geral da República pode entrar com a denúncia e estabeleceu que o mérito de decisões judiciais não pode ser considerado crime de responsabilidade.
O Estado de S. Paulo
Há uma tarefa primordial: fortalecer,
reestruturar e reorientar as agências reguladoras, resgatando sua proposta
original
O episódio dos Correios é a parte mais
visível de um problema maior. A ideia de um Estado empresário, como regra
geral, que comanda atividades de produção de bens e de prestação de serviços,
precisa ser revista.
A dívida pública atingirá níveis próximos a
85% do Produto Interno Bruto (PIB), até o final de 2026, muito acima da média
dos países comparáveis. Os prejuízos acumulados por diversas empresas estatais
alimentam esse quadro de fragilidade e de alto risco fiscal.
O problema dos Correios, por exemplo, não é novo. O setor de logística modernizou-se, novas empresas entraram no jogo e a estatal parou no tempo. Além disso, pratica-se uma política de pessoal questionável; não se sustenta. Os números informados pela própria companhia nos seus balanços contábeis e em relatórios de administração atestam essa conclusão.
O Estado de S. Paulo
E este texto inclui também a abordagem de uma
política monetária alternativa
John Maynard Keynes (1883-1946) foi um
economista britânico considerado o pai da moderna análise macroeconômica. Seu
livro mais conhecido foi publicado em 1936 e em português veio com o título de
A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda (São Paulo, Editora Atlas, 1992).
Anteriormente a Keynes, a teoria
macroeconômica predominante, de influência liberal, era a de que uma economia
se reequilibraria automaticamente se os salários fossem flexíveis. Mas isso não
acontecia e Keynes passou a pregar que uma economia em recessão exigia forte
intervenção estatal mediante mais gastos públicos, inclusive via endividamento
e emissão monetária, para estimular o crescimento econômico e o desenvolvimento
social.
A abordagem expressa no título deste artigo não veio de Keynes nesse livro, mas sim de um artigo que ele publicou na revista mensal Red Book, dos EUA, em dezembro de 1934 – note-se que a economia ainda estava sob o impacto da crise de 1930 –, na qual respondeu à pergunta: “Pode a América gastar seu caminho na direção da recuperação?”. Ele respondeu sim, em contraposição a outro economista, Harold J. Laski, que respondeu não e não teve a fama de Keynes. Num debate sobre o assunto em São Paulo, soube da revista e consegui comprá-la num antiquário de publicações nos EUA, pelo correio.
Folha de S. Paulo
Se Trump obtiver êxito na Venezuela, será a
legitimação da força bruta
Política externa trumpista não promoverá
volta a um passado dourado
Donald Trump anunciou recentemente o fechamento do espaço aéreo sobre a Venezuela e ao redor dela.
Rondam o país o mais avançado porta-aviões do mundo; destroieres e mísseis
teleguiados; navios anfíbios e lanchas de ataque rápido; um submarino nuclear;
caças de última geração que executam bombardeios de treinamento a partir do
porta-aviões; bombardeiros estratégicos fazendo demonstrações no espaço aéreo
caribenho; helicópteros de operações especiais de vigilância e reconhecimento;
e entre 13 mil e 15 mil militares em concentração.
Tudo isso a pretexto de combater o narcotráfico no Caribe e no Pacífico, mas, como é óbvio, para forçar Nicolás Maduro a deixar o poder.
Folha de S. Paulo
Prisão do presidente da Assembleia
Legislativa do RJ é apenas um episódio da crise
Parlamentares querem leis para fugir da
polícia; há negociatas em tribunais
Desde 1995, a Assembleia Legislativa do Rio de
Janeiro (Alerj) teve seis presidentes. Quatro foram presos, no
comando da casa ou no comando de coisas ainda piores, como o ex-governador
Sérgio Cabral Filho. Que tenham prendido mais um presidente da
Alerj deveria causar surpresa? Ou tédio enojado?
Qualquer leitora de jornais dirá logo que
essas perguntas estão erradas, pois não se trata de problema específico da
Alerj ou do Rio de Janeiro, embora meus conterrâneos estejam de fato
exagerando, por assim dizer. Há mais evidências de que a corrupção está
mais disseminada, tolerada, perigosa e, agora, é motivo central de uma das
maiores querelas institucionais do Brasil —parlamentares contra Supremo.
A corrupção é cada vez mais sistemática ou organizada em gangues políticas. O exemplo mais recente é o desse Rodrigo Bacellar (União Brasil), que presidia a Alerj. Foi preso nesta quarta pela Polícia Federal porque acusado de prestar serviços a um grupo criminoso, vazando informações a fim de ajudar um comparsa a fugir da polícia, no caso um deputado acusado de ser próximo do Comando Vermelho.
Folha de S. Paulo
Sigilo, por definição, não é bom ou ruim, mas
demanda critérios para definir em que circunstância e por quanto tempo deve ser
aplicado
Banco lesou muita gente e fez conexões
políticas, o que redobra a exigência de investigação transparente e efetiva
Como envolveria um deputado, a defesa
de Daniel
Vorcaro, do Master,
pediu que investigações sobre o empresário e o banco, que caíram na Justiça
Federal do Distrito Federal, fiquem no STF. O
ministro Dias Toffoli puxou tudo
para a corte, aplicando alto grau de sigilo, do tipo que faz o
processo praticamente desaparecer da cena pública —fica disponível a um número
bem restrito de acessos, que vão depender de autorização e serão monitorados.
Sigilo, por definição, não é bom ou ruim. Uma investigação pode ser mais efetiva nessa condição. Quando o caso envolve criança ou estupro, é apropriado para resguardar a vítima. No extremo oposto, porém, ausência de transparência e de publicidade pode omitir e livrar criminosos. Resguardar a impunidade.
Folha de S. Paulo
Quer democracia? Aguenta a juspornografia!
Nossos candidatos baixaram o nível até onde a porno-justiça goza
O JusPorn
Awards fecha esse bonito ano de volúpia magistocrática com
festa. Na juspornografia, não há nada que não possa ficar mais libidinoso. Se
você acredita que o STF, ao aplicar
a lei a criminosos bem-dotados, salvou a democracia, o JusPorn Awards te dá
entrada de camarote para a entrega do prêmio. Quer democracia? Aguenta a
juspornografia! O JusPorn firma esse pacto com seus premiados e pede respeito.
Nossos candidatos baixaram o nível até onde a
porno-justiça goza.
Na cerimônia ecumênica dos 50 anos do enforcamento de Vladimir Herzog por militares, a presidente do STM, ministra Maria Elizabeth Rocha, pediu perdão pelas omissões judiciais na ditadura. O ministro Carlos Amaral Oliveira, bacharel, mandou a ministra, mestre e doutora em direito, "estudar um pouco mais". E completou: "discordo do conteúdo, acho que tenho pleno direito a isso aí".