quinta-feira, 25 de dezembro de 2025

Opinião do dia - Montesquieu*

“Para compreensão dos quatros primeiros livros desta obra, é preciso observar que o que chamo de virtude na república é o amor à pátria, isto é, o amor à igualdade. Não é absolutamente virtude moral, nem virtude cristã, é virtude política; e essa é a mola que faz mover o governo republicano. Chamei, portanto, de virtude política o amor a pátria e à igualdade.

*Montesquieu (1689-1755), ‘Do espirito das leis’, p.31, Editora Nova Cultura, 2005

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

STF fracassa em transparência e prestação de contas

Por O Globo

Levou duas semanas para Corte se manifestar sobre vínculo entre Moraes e Master

Duas condições são críticas para o funcionamento pleno das instituições numa República. Primeiro, elas precisam ser transparentes. Segundo, devem prestar contas regularmente de suas atividades ao público. Em ambos os quesitos, o Supremo Tribunal Federal (STF) tem falhado sistematicamente. É constrangedor que o Supremo tenha levado tanto tempo para se manifestar sobre as revelações do GLOBO a respeito do caso mais rumoroso que chegou à Corte nos últimos tempos, as suspeitas de falcatruas envolvendo o Banco Master. Mais constrangedor ainda é o processo continuar sob sigilo.

Lula ganha de Motta presente de Natal de R$ 20 bi em aumento de receita. Por Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

No fundo, a reaproximação é um pacto de sobrevivência para 2026. Motta precisa operar a Câmara sem paralisia; Lula, evitar que cada votação vire uma crise

Quem estava lá até estranhou o clima de jingle bell no Palácio do Planalto entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB) — que andavam se estranhando —, na posse do novo ministro do Turismo, Gustavo Feliciano, indicado pelo União Brasil. Ele ocupa a vaga do deputado Celso Sabino (PA), que foi expulso da legenda por insistir em permanecer no cargo quando o partido decidiu derivar à oposição. Com a sigla dividida, uma ala decidiu manter o apoio ao governo.

Em pronunciamento de Natal, Lula cita realizações de 2025 e antecipa bandeiras de 2026

Por Sofia Aguiar / Valor Econômico

Entre elas, o fim da escala 6x1, a segurança pública e o combate à violência contra a mulher

Em seu tradicional pronunciamento em rede nacional de rádio e televisão no Natal, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva citou realizações de seu governo e antecipou algumas bandeiras que serão utilizadas na campanha à reeleição de 2026. Entre elas, aparecem o fim da escala 6x1, a segurança pública e o combate à violência contra a mulher. Entre os ativos de 2025, mencionou o enfrentamento ao crime organizado, no qual “nenhum dinheiro ou influência” vai impedir a Polícia Federal “de ir adiante”, e as negociações que amenizaram o tarifaço aplicado pelos Estados Unidos contra o Brasil.

O que acontecia com batatas, árvores, deputados e Havaianas no Natal de 1925. Por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Parlamentar entrava com o pé direito, tubérculo virava borracha e fascistas incomodavam

Como ler a Folha natalina de um século passado e lembrar das notícias de agora

Na véspera do Natal de 1925, a primeira página desta Folha contava que "chimicos alemães conseguiram, com grande successo, produzir uma especie de borracha synthetica, fabricada de batatas".

No "dia de hontem no Congresso", o Senado tratava de "projectos de concessão de favores". As emendas e os diamantes são eternos.

A Câmara acabava de aprovar a devolução de sete contos de réis para o bispado de Santos, dinheiro bastante para pagar 280 assinaturas anuais da Folha de então ou cinco pianos "nacionaes". O deputado Marrey Junior elogiava um colega estreante, que desaprovara esse projeto "inconstitucional": "O novo deputado entrou com o pé direito", talvez porque não pudesse usar Havaianas.

Febejapá de Natal 2025. Por Conrado Hübner Mendes

Folha de S. Paulo

O Festival de Barbaridades Jurídicas que Assolam o País deseja boa comilança

Sem vale-peru mas com vale-champanhe, Natal dispensa código de ética

A República brasileira é um "ajuntamento de piratas mais ou menos diplomados", escreveu Lima Barreto. "‘Comem’ os juristas, ‘comem’ os filósofos, ‘comem’ os médicos, ‘comem’ os advogados, ‘comem’ os poetas, ‘comem’ os romancistas, ‘comem’ os engenheiros, ‘comem’ os jornalistas: o Brasil é uma vasta ‘comilança’."

"Piratas mais ou menos diplomados" juntam a fome com a vontade de jantar. E com a vontade de pagar entrada em todos os camarotes da vida social: voar no jatinho, navegar no iatinho, participar dos festivais do arranjinho em destinos do vira-latismo colonial, como Lisboa.

De Natal, um chinelo e 400 mil em dinheiro vivo. Por Thiago Amparo

Folha de S. Paulo

Numa saga contra um comercial, a direita mostra que não entende nem de figura de linguagem

O máximo que Bolsonaro pode almejar é a saidinha da cela para o banho de sol

Ao contrário de Fernanda Torres, a direita brasileira não chega ao Natal com o pé direito. Numa saga contra um comercial de chinelos, em que Torres pede que se "comece o ano novo com os dois pés", a direita mostra que não entende nem de figura de linguagem, nem da anatomia dos animais bípedes. O máximo que Bolsonaro pode almejar neste Natal é a saidinha da cela para o banho de sol.

Papai Noel, você tem a eletricidade pra me dar? Por Eugênio Bucci

O Estado de S. Paulo

No país da piada pronta, a Enééél é a metáfora pronta: a metáfora do obscurantismo medieval devorando o iluminismo da modernidade

A marchinha Boas Festas, composta por Assis Valente em 1932, virou disco um pouco antes do Natal de 1933. “Anoiteceu / o sino gemeu / e a gente ficou / feliz a rezar”. O sucesso veio a trenó, consagrador e persistente.

A letra começa risonha e termina desalentada. No princípio, o cantor encomenda: “Papai Noel / vê se você tem / a felicidade / pra você me dar”. Depois, se frustra e conclui que um mimo tão precioso não vem assim de graça. “Felicidade é brinquedo que não tem.”

A musicalidade de Assis Valente enternece. As frases melódicas reservam as notas mais longas para a sílaba final de cada verso, como se, num fôlego maior, o poeta erguesse os olhos para o céu noturno em busca de uma estrela amiga. Doída, a canção destila melancolia. Pueril, acalenta uma esperança renitente. Todos os anos, por distração ou teimosia, voltamos a entoá-la em pensamento.

Democracia começa pela ética dos juízes. Por Celso de Mello

O Estado de S. Paulo

Código de conduta não enfraquece o Supremo Tribunal Federal, mas fortalece-o imensamente

A proposta do ministro Edson Fachin, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), de adotar um código de conduta para os ministros da Suprema Corte, merece amplo apoio da cidadania. Trata-se de medida de Estado, moralmente necessária e institucionalmente urgente.

Em democracias consolidadas, a confiança na Justiça exige não só juízes honestos, mas regras claras, que impeçam qualquer aparência de favorecimento, dependência ou proximidade indevida com interesses privados e governamentais.

O STF e seus indivíduos. Por William Waack

O Estado de S. Paulo

Na atual paisagem política parece ultrapassado o ponto a partir do qual o STF poderia recuperar imagem e autoridade. Não aquela garantida pela Constituição, mas a autoridade moral e política. Do ponto de vista jurídico continuará tomando decisões que serão cumpridas – o que está em jogo é respeito em sentido amplo.

A principal causa disto é o colegiado ter se deixado levar, por falta de liderança interna, para a condição de espécie de grêmio, referendando comportamentos de indivíduos. Nunca foi positivo para qualquer instituição alguma em qualquer parte quando um de seus integrantes vira a “imagem” dela.

Caso Master: STF está ‘apanhando de graça’, avaliam ministros do Supremo. Por Roseann Kennedy

O Estado de S. Paulo

Em conversas reservadas, ministros afirmam que assunto só cresceu por causa da oposição a magistrado e veem ‘tempestade em copo d’água’

Toffoli constrange o BC ao colocar frente a frente burocrata e criminoso

Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) saíram em defesa do colega Alexandre de Moraes, após notícias da pressão exercida por ele sobre o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, em favor do Banco Master. Em conversas reservadas, magistrados atribuíram o crescimento do assunto à oposição contra Moraes, disseram que a Corte tem apanhado de graça e classificaram o caso como “tempestade em copo d’água”.

Relator da investigação sobre as fraudes financeiras do Master, banco comandado por Daniel Vorcaro, o ministro Dias Toffoli também obteve a solidariedade dos pares. No fim de novembro, Toffoli viajou para assistir à final da Libertadores entre Flamengo e Palmeiras, em Lima, no mesmo voo particular de um advogado que defende um diretor do Master, instituição liquidada pelo Banco Central.

O argumento dos magistrados para defender Moraes e Toffoli é o de que presidente do Banco Central e ministros do STF não são “pressionáveis”. Ministros alegam que, se fossem ceder a pressões, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não teria sido condenado na trama golpista do 8 de Janeiro.

Código de ética e a democracia. Por Míriam Leitão

O Globo

O debate sobre um código de conduta é necessário para aumentar a confiança dos cidadãos no próprio STF e, assim, proteger a democracia

Em defesa da democracia, o Supremo Tribunal Federal enfrentou ataques durante todo o governo Jair Bolsonaro e resistiu a todos eles. Em defesa da democracia, julgou e condenou os envolvidos na trama golpista que culminou em 8 de janeiro de 2023, quebrando paradigmas históricos. Em defesa da democracia é agora necessário aumentar o grau de confiança dos cidadãos no próprio STF. As normas de conduta serão a forma mais eficiente de blindagem dos ministros e do tribunal.

A ideia de um código de ética é do presidente Edson Fachin. Como tem tido apoio na sociedade, está sendo vista como se fosse imposição externa. Foi o que expressou o decano Gilmar Mendes. Regras de conduta para ministros do Supremo, e da magistratura de uma forma geral, são parte do mesmo esforço institucional de defesa do Estado democrático de direito. E, claro, devem ser discutidas e aprovadas pelo próprio Judiciário.

A democracia não precisa de heróis. Por Malu Gaspar

O Globo

O ano de 2025 vai terminando amargo para muita gente que acreditou nos julgamentos dos vândalos golpistas do 8 de Janeiro e dos articuladores da intentona para impedir a posse de Lula como salvação da democracia.

Tudo por causa do enredo que começa no contrato da mulher de Alexandre de Moraes com o banco Master, prevendo o pagamento de R$ 3,6 milhões mensais ao longo de três anos por serviços até agora desconhecidos, e segue com a pressão do ministro sobre o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, pela aprovação da venda do Master ao BRB, banco estatal de Brasília.

Enquanto salvava a democracia, Moraes se movimentava no coração do poder de uma forma que não é preciso código de ética para considerar imprópria. O contrato de sua mulher foi fechado em janeiro de 2024 e continuava válido em julho de 2025, quando Moraes esteve com o presidente do BC.

O jeitinho brasileiro. Por Merval Pereira

O Globo

O que seria adaptar à cultura nacional as rígidas regras de conduta dos magistrados das Supremas Cortes da Alemanha ou dos Estados Unidos, como sugere um ministro brasileiro? Levar o jeitinho brasileiro na avaliação do que pode ou não pode? A rejeição da maioria dos ministros do Supremo à ideia de um código de conduta proposto pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, mostra que comedimento não é uma característica desta Corte. Alegam que a quase totalidade das exigências dos códigos no exterior já está na legislação brasileira. Se é assim, por que não fazer uma compilação das leis e publicar um documento esclarecendo à opinião pública que os ministros já são regulados pela legislação atual?

Ministro do Supremo não é intocável. Por Julia Duailibi

O Globo

O vilão de ontem vira herói hoje, para logo virar vilão novamente. Preservar as instituições é o maior ato de heroísmo

No final de 2024, um comitê do Senado americano divulgou o resultado de uma investigação de 20 meses sobre a “crise ética” da Suprema Corte dos Estados Unidos. O documento, chamado “Uma Investigação sobre o Desafio Ético da Suprema Corte”, apontava “lapsos éticos” e “repetidas falhas” de seus juízes. A investigação partia de um pressuposto básico: juízes vestem capas, mas não são super-heróis.

— Agora, mais que nunca, sabemos a extensão da crise ética em que a Suprema Corte está atolada, crise criada por ela mesma. Seja por não divulgar presentes luxuosos ou por não se declarar impedida em casos com aparentes conflitos de interesse, fica claro que os juízes estão perdendo a confiança do povo americano nas mãos de um bando de bilionários bajuladores. — disse o senador democrata Dick Durbin ao término da investigação.

Master: banqueiros e autoridades dizem que PF também sofreu pressão de Moraes. Por Mônica Bergamo

Folha de S. Paulo

Diretor-geral nega e diz que nunca conversou com o ministro do STF sobre as investigações contra o banco

Magistrado nega ter pressionado a PF e o Banco Central para atuar em favor da instituição, que tem contrato com o escritório de advocacia de sua mulher, Viviane Barci de Moraes

Os mesmos banqueiros e autoridades de Brasília que afirmam a jornalistas terem recebido informações seguras de que o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes pressionou o Banco Central a favorecer o Banco Master dizem ter ouvido de integrantes da PF (Polícia Federal) que o magistrado também manifestou ao órgão interesse no andamento das investigações sobre o caso.

O diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, teria inclusive informado o presidente Lula sobre o caso, e teria ouvido em resposta: "Faça o que for necessário".

Lógica do escândalo diário. Por Ricardo Queiroz Pinheiro

Ontem publiquei um texto mais longo sobre como a crise da democracia liberal vem sendo administrada por rearranjos institucionais que administram o esvaziamento do modelo. Hoje, lendo o noticiário político, fiquei com a sensação de déjà-vu: o mesmo processo reaparece ali, só que traduzido numa linguagem mais simples, noveleira, quase infantil, feita para caber na lógica do escândalo diário.

Um roteiro conhecido. Por Beta Bastos

A atuação de Malu Gaspar tem seguido um roteiro conhecido e cada vez mais desgastado, de insinuar antes de provar, sugerir conflitos onde há fatos ordinários e apostar na dúvida como ferramenta de desgaste público. 

Não se trata de crítica jornalística legítima, mas de um método que privilegia a suspeição permanente, quase sempre amparada em fontes anônimas e conexões indiretas que não se sustentam quando confrontadas com os fatos.

Esse padrão não é novo. Durante a Operação Lava Jato, Malu Gaspar esteve entre os nomes que ajudaram a naturalizar narrativas punitivistas, baseadas em vazamentos seletivos, delações frágeis e “convicções” apresentadas como prova. 

Moraes não fez qualquer pedido ou cobrança sobre Banco Master a Galípolo | Daniela Lima

 

Poesia | Cartão de Natal, de João Cabral de Melo Neto

 

Música | Boas festas! -· Novos Baianos

 

quarta-feira, 24 de dezembro de 2025

Opinião do dia - Hannah Arendt* (pensar o futuro)

“No momento em que voltamos nosso espírito para o futuro, não estamos mais preocupados com “objetos”, mas sim com projetos, e não importa se eles formados espontaneamente ou como reações antecipadas a circunstâncias futuras. E assim como o passado apresenta-se ao espírito sempre com aspecto de certeza, a característica principal do futuro é sua incerteza básica, por mais alto que seja o grau de probabilidade a que se possa chegar em uma previsão. Em outras palavras, estamos lidando com coisas que nunca foram, que ainda não são e que podem muito bem nunca vir a ser.

*Hannah Arendt (1906-1975), “A vida do espírito” p.274. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 2009.

O que a mídia pensa | Editoriais | Opiniões

Xi saiu vitorioso na disputa com Trump em 2025

Por O Globo

China obteve dos EUA corte de tarifas, acesso a chips avançados de IA e vista grossa a suas pretensões sobre Taiwan

Donald Trump voltou à Casa Branca em janeiro com o objetivo declarado de dobrar a China à sua vontade. Antes de completar duas semanas no poder, elevou as tarifas cobradas de produtos chineses de 10% para 20%. “Foi apenas um tiro de advertência. Se não conseguirmos fechar um acordo com a China, as tarifas serão muito, muito substanciais”, disse na época. Nos meses seguintes, a previsão se tornou realidade. No primeiro tarifaço em abril, a China foi contemplada com as maiores sobretaxas e, em seguida, começou a retaliar. A sucessão de respostas americanas fez a tarifa cobrada de produtos chineses chegar a inacreditáveis 145%. Em maio, com o primeiro cessar-fogo na guerra comercial, caiu para 30%. Hoje está em 20%. Parece evidente que, no primeiro ano de Trump, o chinês Xi Jinping levou a melhor.

Balanço do ajuste de contas com a tentativa de golpe de 8 de janeiro. Por Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Comorbidades e nova dosimetria podem permitir que Bolsonaro volte mais cedo à prisão domiciliar, mas antes das eleições isso só ocorrerá se realmente estiver muito doente

Para usar uma expressão do general Golbery do Couto e Silva, estrategista do regime militar, talvez uma “diástole” em relação ao presidente Jair Bolsonaro e aos generais condenados pelo 8 de Janeiro tenha começado mais cedo do que se imaginava, na velha tradição republicana de perdoar os revoltosos. A origem dessa tradição é a Guerra dos Farrapos, um movimento republicano e separatista que sacudiu o Rio Grande do Sul e Santa Catarina de 1835 a 1845, cujos generais foram anistiados e incorporados ao Exército Brasileiro com suas patentes originais, pelo Tratado de Poncho Verde e, depois, canonizados pela República.

EUA ainda crescem, Trump não. Por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Economia deve crescer perto de 2% em 2025, menos do que em 2024 e com mais desigualdade

PIB dos EUA deve avançar mais em 2026, ano de eleição crucial para política mundial

Donald Trump não estropiou a economia americana, no curto prazo, como se imaginava pelo menos até abril, quando muito se discutia o risco de recessão. Ajudou que tenha desistido das idiotices piores. Nos primeiros três trimestres do ano, o PIB cresce pouco mais do que 2%. Em 2024, cresceu 2,8%.

PIB não diz lá tanta coisa sobre o bem-estar material das pessoas, afora em recessões ou em épocas raras de exuberância contínua. Por vezes, mesmo um PIB andando bem não diz lá tanta coisa sobre possibilidades políticas. Ainda assim, convém prestar atenção. As andanças dos juros americanos e do dólar definem parte importante da vidinha econômica no Brasil.

Profissão: perigo. Por Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Escolha de carreira de um indivíduo impõe limitações sobre vida pessoal

Moraes deve explicações sobre relacionamento com banco Master

As escolhas profissionais de um indivíduo afetam seu estilo de vida. Se você quiser ter uma esposa, filhos e conviver publicamente com eles, risque o item padre católico de sua lista de opções. Se não desejar ser acordado no meio da madrugada por uma mãe aflita, descarte a pediatria em consultório particular. Quem não se dispuser a trabalhar aos fins de semana não deveria ser mestre-cuca, garçom nem jornalista esportivo.

Esforço de Fachin será premiado. Por Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Hoje voz isolada no STF, o presidente ganha apoio na sociedade para criar um código de ética para magistrados

Se há regras para quase tudo, deve haver também para os donos do poder de regular a legalidade como um todo

O esforço do presidente do Supremo Tribunal FederalEdson Fachin, pela criação de um código de ética para magistrados tem sido muito bem recebido em setores da chamada sociedade organizada, que já fazem circular manifestos em apoio à ideia.

Por óbvio: se há regras para a regulação de quase tudo, deve haver também para os donos do poder de regular a legalidade como um todo. Anormal é tanto a inexistência desse guia quanto objeções explícitas e implícitas de ministros a se submeterem a normas de conduta.

Código de conduta para o STF é urgente. Por Vera Magalhães

O Globo

A democracia brasileira não precisa de um Supremo acuado, tampouco de um Supremo hipertrofiado e blindado a controles

O Supremo Tribunal Federal foi, sem exagero, uma das colunas que impediram o desabamento institucional do país nos últimos anos. Quando outros Poderes vacilaram, se omitiram ou flertaram com a ruptura tentada por Jair Bolsonaro, coube ao STF impor limites, afirmar regras do jogo e garantir que a democracia sobrevivesse a seu momento mais crítico desde a redemocratização. Esse papel histórico é inegável — e precisa ser reconhecido.

Justamente por isso, o tribunal não pode se comportar como instância imune a críticas, escrutínio público ou mecanismos mínimos de prestação de contas. A força que o Supremo acumulou, por necessidade e por omissão alheia, cobra agora um preço: quanto maior o protagonismo, maior a obrigação de transparência, autocontenção e exemplaridade. As controvérsias recentes não são detalhes laterais nem ruídos fabricados por inimigos da democracia, como muitos tentam fazer crer.

A bancada silenciosa do STF. Por Elio Gaspari

O Globo

A adoção de um código de conduta merece ser discutida às claras, com nomes e sobrenomes

A manifestação de cinco ex-presidentes do Supremo Tribunal Federal favoráveis à criação de um código de conduta para os atuais ministros da Corte foi um tiro certeiro contra a bancada que combate a ideia.

Estranha bancada. Manifesta-se com a capa ectoplásmica do off, por meio da qual sua opinião é divulgada, mas sua identidade é preservada. Foi assim que surgiu a notícia segundo a qual Fachin está isolado ao propor o código. Tudo bem, a maioria dos ministros pode não gostar da ideia, mas eles não põem a cara na vitrine. Salvo engano, a única resistência pública partiu do ministro Alexandre de Moraes, mesmo assim, numa fala de 2024:

O ministro do ‘novo clero’. Por Bernardo Mello Franco

O Globo

Novo titular do Turismo nunca disputou eleições, mas é herdeiro de uma oligarquia regional

Em Brasília, como no romance de Lampedusa, às vezes tudo deve mudar para continuar como está.

Em setembro, o União Brasil anunciou o rompimento com o governo e a saída de Celso Sabino do Ministério do Turismo. O paraense se segurou na cadeira por três meses, até ser expulso do partido. Ontem o presidente Lula deu posse ao novo titular da pasta, o paraibano Gustavo Feliciano. Para surpresa de ninguém, ele foi indicado pelo União Brasil.

Feliz Ano Velho! Por Vera Rosa

O Estado de S. Paulo

Lula não inventará em 2026 marola ou novo programa, mas fios desencapados atingem aliados

O governo termina o ano com uma prioridade para 2026: a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Não vai inventar marola nem novo programa. De agora em diante, tudo o que for anunciado será apenas vitrine para a campanha eleitoral do ano que vem. Na prática, nada de inusitado sairá do papel nos próximos meses.

Alguns assuntos, porém, causam pânico no Palácio do Planalto pelo potencial explosivo. Na lista de fios desencapados que podem atingir aliados estão a CPI do INSS, o intrincado negócio do Banco Master, a Operação Carbono Oculto, o imbróglio da Refinaria de Manguinhos (Refit) e o infindável estica e puxa das emendas parlamentares.

Moraes chegou a ligar 6 vezes em 1 dia ao BC para tratar do Banco Master

DAVID FRIEDLANDER ELIANE CANTANHÊDE COLABOROU RICARDO CORRÊA / O Estado de S. Paulo.

Uma reunião com Galípolo foi presencial; ministro diz que trataram só de Lei Magnitsky

O ministro Alexandre de Moraes, do STF, chegou a ligar 6 vezes em 1 dia para Gabriel Galípolo, do BC, para saber sobre a compra do Banco Master pelo Banco de Brasília (BRB), informam David Friedlander e Eliane Cantanhêde. Os telefonemas fazem parte de uma das conversas de Moraes com Galípolo a respeito do assunto, sendo uma delas presencial. A pressão ocorreu em meio à análise do negócio que salvaria o Master, liquidado pelo BC sob suspeita de fraudes de R$ 12,2 bilhões. A mulher de Moraes, Viviane Moraes, tinha contrato de R$ 129 milhões para representar o Master. Em nota, Moraes afirmou que contatos tiveram como “exclusivo” objetivo tratar da Lei Magnitsky. O BC confirmou, mas não usou o termo “exclusivamente”.

Moraes ligou 6 vezes em um dia para Galípolo sobre Master, diz jornal; ministro nega telefonemas

Por Folhapress / Valor Econômico

O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), teria ligado seis vezes em um mesmo dia para o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, para saber do andamento da análise da operação de compra do Banco Master pelo BRB (Banco de Brasília), segundo reportagem do jornal “O Estado de S. Paulo”.

Em novo comunicado divulgado na noite desta terça-feira (23), Moraes disse que "inexistiu qualquer ligação telefônica entre ambos, para esse ou qualquer outro assunto".

O magistrado confirmou a realização de duas reuniões com Galípolo, em 14 de agosto e 30 de setembro. Segundo ele, os encontros tinham como objetivo tratar dos efeitos da aplicação da Lei Magnitsky, que prevê sanções financeiras e foi usada pelo governo dos Estados Unidos contra Moraes e sua mulher, Viviane Barci de Moraes.

"Em nenhuma das reuniões foi tratado qualquer assunto ou realizada qualquer pressão referente à aquisição do BRB pelo Banco Master", afirmou.

O ministro disse ainda que o escritório de advocacia de sua esposa --que possui contrato com o Master-- "jamais atuou na operação de aquisição BRB-Master perante o Banco Central".

Moraes diz que nunca foi ao Banco Central e nem telefonou a Galípolo

Por Giullia Colombo / Valor Econômico

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes informou na noite dessa terça-feira (23), por meio de nota divulgada pela Corte, que realizou em seu gabinete duas reuniões com o presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, para tratar dos efeitos da aplicação da Lei Magnistiky. Segundo a nota, em nenhuma das reuniões foi tratado qualquer assunto ou realizada qualquer pressão referente à negociação de aquisição entre o BRB o Banco Master. Ele também negou que isso tenha ocorrido por meio de ligação telefônica.

Essa é a segunda nota divulgada por Moraes nesta terça-feira. A primeira não negava explicitamente que tivesse conversado com Galípolo sobre o caso do Master.

Poesia | Organiza o Natal, de Carlos Drummond de Andrade - por Ivan Lima

 

Música | Ney Matogrosso - A Cara do Brasil (Celso Viáfora e Vicente Barreto)

 

terça-feira, 23 de dezembro de 2025

Opinião do dia – Hannah Arendt* (A propaganda totalitária)

“Somente a ralé e a elite podem ser atraídas pelo ímpeto do totalitarismo, as massas têm que ser conquistadas por meio da propaganda. Sob um governo constitucional e havendo liberdade de opinião os movimentos totalitários que lutam pelo poder podem usar o terror somente até certo ponto, como qualquer outo partido, necessitam granjear aderentes e parecer plausíveis aos olhos de um público que ainda não está rigorosamente isolado de todas as outras fontes de informação.”

*Hannah Arendt (1906-1975), “Origens do totalitarismo”, p. 474, Companhia de Bolso, São Paulo, 2020.

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Ultraliberal Milei hesita em adotar o câmbio livre

Por Folha de S. Paulo

Argentina permitirá maior variação do dólar a partir de janeiro, mas governo teme impacto nos preços

Presidente herdou inflação de mais de 200% da esquerda peronista, que a duríssimas penas para a população foi reduzida a cerca de 30%

O Brasil adotou a livre flutuação do câmbio em janeiro de 1999, rompendo com uma longa tradição de controle das cotações do dólar e de outras divisas ante a moeda nacional. Hoje o regime faz parte da rotina econômica do país, mas a decisão foi dificílima na época.

A rigor, nem mesmo foi uma decisão. O governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) se viu forçado a deixar o preço do dólar variar livremente porque as reservas em moeda forte do Banco Central estavam se esgotando.

O Brasil de todos os escândalos. Por Fernando Gabeira

O Globo

O sigilo de cem anos é sempre o vencedor, pois está na mão do poder e é uma arma que desequilibra o jogo

No passado, creio, um escândalo esperava o outro antes de aparecer. Agora já não se respeita a fila. Eles aparecem a todo instante, se chocam, se encavalam um no outro, a gente precisa escolher o que vai acompanhar.

Quem os segue por dever profissional acaba se tornando graduado em escândalos. Um dos traços mais importantes aparece no caso do Banco Master. É um escândalo, sem dúvida. Mas, logo em seguida a sua aparição, surgem novos, típicos do Brasil: os escândalos do abafa.

No caso do Master, o escândalo foi continuado. Primeiro a explosão, depois a relação com ministros do Supremo e, finalmente, a decretação do sigilo numa tentativa de bloquear seu curso. O Supremo contribuiu com Toffoli, que nesse esporte joga em várias posições: sua mulher já foi sócia de advogados do Master, ele próprio viajou para Lima com um advogado do Master e finalmente assumiu o inquérito e decretou um pesado sigilo.

Quatro perguntas para evitar brigas na ceia. Por Pedro Doria

O Globo

Elas permitem que gente de esquerda e de direita se encontre em muitas concordâncias sem falar de esquerda ou direita. Empatia nasce daí

Alguns de meus colegas na imprensa têm escrito colunas sobre como evitar brigas nas festas de fim de ano. Também acho necessário. Mas, sabe, é exigir um bocado da sociedade brasileira. Pescando, aqui, números da última Quaest: 55% de nós consideram que Lula não deveria sair candidato. É mais que a metade. O presidente sairá candidato, não importa que seja rejeitado. E 60% defendem que nem Jair nem Flávio Bolsonaro devem receber votos. São duas rejeições muito altas. A mesma pesquisa revela que os dois, Lula e Flávio, são favoritos para estar no segundo turno. Mais de metade de nós não quer nenhum — e periga sermos obrigados a escolher um deles. Como não brigar num cenário assim?