terça-feira, 11 de novembro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

CPI do Crime Organizado tem oportunidade

Por O Globo

Se condução for ‘técnica’ e não partidária, comissão poderá contribuir para enfrentar criminosos

É comum que as Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) se tornem palco de embates políticos, de olho nos holofotes e na opinião pública, em vez de nas respostas e soluções às questões que despertaram sua convocação. Foi por isso encorajadora a atitude do presidente da recém-instalada CPI do Crime Organizado, senador Fabiano Contarato (PT-ES). Em entrevista ao GLOBO, ele se disse comprometido com uma condução “técnica” dos trabalhos, para evitar que a CPI sirva de palanque voltado às eleições.

Relações complexas, por Merval Pereira

O Globo

Lula fez malabarismos diplomáticos para criticar o uso de forças militares na região — sem se referir diretamente a Trump

O surgimento da figura de um presidente como Donald Trump nos Estados Unidos fez com que as relações geopolíticas ficassem mais complexas, porque a maior potência militar e econômica do mundo tornou-se imprevisível, não apenas pelo comportamento de seu líder, mas principalmente pelo que parece ser sua decadência inexorável. Na cúpula da Celac, que reúne países da América Latina e do Caribe, realizada recentemente na Colômbia, o presidente Lula fez malabarismos diplomáticos para criticar o uso de forças militares na região — sem se referir diretamente a Trump —, mas ficou distante da solidariedade à Venezuela prevista pelo chanceler brasileiro, Mauro Vieira.

Otimismo cauteloso com a COP de Belém, por Fernando Gabeira

O Globo

O Brasil tem feito todo o possível e se tornou líder mundial. Temos contradições ainda, mas quem não tem?

Viajo para a COP30 com um lugar-comum na bagagem: a esperança é a última que morre. Reconheço a importância das visões catastróficas, mesmo seu alto nível de racionalidade. Mas temos de resistir, e as COPs são um dos mais poderosos instrumentos de resistência da humanidade.

Elas não têm a capacidade de resolver tudo, e seus textos para conciliar mais de 190 países são cheios de ambiguidades construtivas, frases meio vagas necessárias para aprovação coletiva. Muito do que sei sobre as COPs aprendi com Alfredo Sirkis, que foi a todas realizadas até sua morte, em 2020, e posso considerá-lo um especialista no tema.

Sirkis usou muitos anos de sua vida para aprovar uma ideia importante, monetizar a redução das emissões de carbono. Ele sintetizava sua luta na expressão: menos carbono igual a grana. Essas COPs, mesmo que não terminem com decisões retumbantes, servem para divulgar o tema, levá-lo por meio da cobertura da mídia a milhões de pessoas.

COP supera impasse inicial, por Míriam Leitão-

O Globo

A COP30 começou de forma positiva: destravou a agenda, Lula falou em superar dependência dos fósseis. E houve novas NDCs

Alívio. Foi o que sentiram os negociadores brasileiros no primeiro dia desta COP. Uma fonte resumiu assim. “Muita coisa podia dar errado e não deu. E algumas coisas que podiam dar certo, deram certo.” O primeiro fato é que as negociações começaram, porque há uma agenda. Pode parecer óbvio, mas nem sempre é assim. Há conferências em que a briga sobre o que vai ser discutido consome dias. Na noite de domingo, véspera do dia 1, Belém conseguiu destravar a pauta, que havia sido bloqueada em Bonn, na última reunião preparatória da COP30. Ao todo, são 145 itens e quatro pendências. Outra surpresa positiva foi o tom do presidente Lula, que deixou claro que é preciso encontrar o caminho para sair dos combustíveis fósseis. Isso dá à presidência da COP a autorização para encaminha-r este assunto.

IA pelo Brasil, por Pedro Doria

O Globo

Inteligência artificial é capaz de diminuir a diferença entre o trabalhador menos e o mais qualificado

Durante o ano de 2024, segundo números da McKinsey, 78% das empresas passaram a usar inteligência artificial no trabalho cotidiano. O número vem de uma pesquisa com 1.353 companhias espalhadas por 18 setores em 26 países e faz parte da edição 2025 do Relatório Anual sobre IA da Universidade Stanford. O trabalho coleciona centenas de estudos feitos no ano anterior sobre o avanço da tecnologia no mundo, organiza os dados e os apresenta a partir de uma lógica. Em 2023, 55% das empresas usavam IA. Houve, portanto, um salto. O ano passado foi o ano em que IA virou realidade no mundo corporativo. Mas os números mais incríveis do relatório não são esses, grandes porém genéricos. O que impressiona são os detalhes mais granulares sobre o impacto no trabalho. E, neles, há uma excelente notícia para o Brasil. Uma janela que se abre na direção do futuro, se soubermos adotar as políticas públicas corretas.

A quem interessa enfraquecer a Polícia Federal, por Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Na condição de relator do PL Antifacção, Derrite se prestará a ser um biombo para interesses parlamentares contra o combate ao crime organizado

 O deputado Guilherme Derrite (PL-SP) foi anunciado relator do PL antifacção no início da noite da sexta-feira. Duas horas depois, apresentou seu relatório. Foram tantas as mudanças no texto do Executivo que houve, nos três Poderes, quem tivesse a impressão de que o relatório estava pronto à espera de quem encarasse a tarefa.

O deputado havia se desincompatibilizado da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo para relatar o projeto do deputado Danilo Forte (União-CE) que equipara facções criminosas a organizações terroristas. Depois que ficaram claras as chances de o carimbo do país como abrigo de terroristas pressionar juros e dificultar o acesso a crédito e à atração de investimentos, este PL entrou no limbo e Derrite foi alocado para a relatoria do projeto governista.

Junto com ele, migraram também as intenções de quem pretende usar um tema de forte apelo popular para proteger seus próprios interesses. Isso ficou claro na mudança mais substantiva do relatório que é aquela que condiciona a participação da Polícia Federal na investigação e repressão do crime organizado à anuência do governador do Estado.

Casal D vive de renda e, envergonhado, agradece a Galípolo, por Pedro Cafardo

Valor Econômico

Desde 2003 a Selic sempre supera a inflação, com uma única exceção, em 2020, por causa da pandemia

Um ano atrás, saiu neste espaço a história do senhor D. Dizia que ele e a esposa, senhora D, decidiram se aposentar em 2014, quando pretendiam abrir uma pequena metalúrgica de precisão.

O senhor D, na época com 55 anos, tinha experiência nessa área em que trabalhara durante três décadas. Com o dinheiro que o casal receberia nas duas aposentadorias, incluindo FGTS, férias atrasadas e outras indenizações, ambos pensavam em abrir o próprio negócio.

Já em 2015, recebidas as indenizações, surpreenderam-se com um saldo bancário de uns R$ 3 milhões, incluindo aí a poupança própria. Felizes, tiraram dois meses de férias e deixaram o dinheiro aplicado em um fundo de renda fixa. Na volta, viram o saldo aumentado para R$ 3,060 milhões. Ou seja, haviam embolsado R$ 60 mil em dois meses sem mexer uma palha, enquanto curtiam praias.

Vendo esse ganho, bateu no casal uma enorme preguiça de enfrentar a burocracia para a abrir a metalúrgica: alugar galpão, comprar ferramentas e máquinas, contratar empregados etc. Ambos concordaram, então, em adiar os planos de empreender e [deixar o dinheiro aplicado.

COP entre o mito da queda do céu e a tragédia do presente, por Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Belém precisa enfrentar o autoengano dos chefes de Estado e líderes de grandes corporações; discursos inflamados e compromissos frágeis são a contradição da conferência

“Se os xamãs desaparecerem, o céu cairá. Os brancos terão matado todos eles com sua fumaça de epidemia e seus metais. Então, ele desabará porque não haverá mais ninguém para sustentá-lo. Tudo virará noite outra vez, e os espíritos das florestas e das águas se vingarão de nossa loucura”. Há um elo profundo entre esse alerta dos xamãs Yanomami — que sustentam o céu com seus cantos e rituais — e a cena devastadora do tornado que atingiu o Paraná na véspera da abertura da COP30, em Belém.

Na cosmovisão Yanomami, descrita acima por Davi Kopenawa em A Queda do Céu, o desmatamento e o garimpo ilegal não são apenas agressões materiais, mas forças que corroem o equilíbrio espiritual do mundo. Quando o homem destrói a floresta, o céu começa a desabar. Por isso mesmo, na abertura da COP30, houve tensão simbólica e política. Ao afirmar que “é momento de impor uma nova derrota aos negacionistas”, na abertura da conferência do clima, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva resgata o fio civilizatório da luta global contra a destruição ambiental e a desinformação.

Muitas divergências, poucas convergências, por Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Além do tarifaço, as pautas prioritárias do Brasil opõem os presidentes Lula e Trump

A semana embola as grandes polêmicas que opõem Brasil e Estados Unidos e obrigam o presidente Lula a se equilibrar entre suas visões de mundo e as de Trump, em favor dos reais interesses brasileiros: os ataques ilegais dos EUA a embarcações venezuelanas, com mais de 70 mortos, classificar organizações criminosas como terroristas, abrindo o flanco para intervenção americana, e, durante a COP-30, meio ambiente, sustentabilidade e financiamento de florestas tropicais. O tarifaço paira sobre tudo isso.

Na escapulida de Belém, onde continua a COP, para Santa Marta, na Colômbia, onde se reuniram Celac (América Latina e Caribe) e UE (Europa), Lula enfrentou a tripla pauta, digamos, antiamericana, e criticou o “uso da força militar”, as “manobras retóricas” e “as intervenções ilegais” na nossa região, para pedir paz e dar um recado claramente endereçado aos EUA e a Trump: “Democracias não combatem o crime violando o direito internacional”.

O marco de Hugo Motta, por Carlos Andreazza

O Estado de S. Paulo

 Hugo Motta encarna aquele tipo ao mesmo tempo fraco politicamente – um presidente da Câmara cujos movimentos dependem de Arthur Lira e Ciro Nogueira – e formalmente poderoso, em função do cargo que ocupa. Deriva dessa condição precária, forjadora de um inconfiável, a surpreendente escolha de Guilherme Derrite para relator do projeto de lei conhecido como Antifacção.

Lembre-se de que Derrite regressava ao Parlamento – era este o texto até a última sexta – para relatar o projeto oposicionista que teria por objeto a Lei Antiterrorismo e faria a disputa política com o governista. Sobreveio a reviravolta. Pouquíssimo depois de indicado à relatoria da proposta originalmente do governo, já tinha o relatório pronto. Alguém não foi pego de surpresa.

O combate à mudança climática tem que estar acima da ideologia, por Joel Pinheiro da Fonseca

Folha de S. Paulo

Mostrar que a causa ambiental não é monopólio de nenhum lado da disputa política fará com que todos saiam ganhando

Se a sustentabilidade virar tema cativo da esquerda, ela se tornará um objetivo ainda mais distante do que tem sido até hoje

mudança climática traz um desafio complexo de coordenação. A ação —ainda que custosa— de cada país ou empresa, sozinho, é inócua. Se eu me sacrifico e meu vizinho nada faz, eu terei pago um preço alto, mas no fim das contas partilharemos do mesmo resultado. Mesmo que todos façam sua parte e sejamos capazes de refrear o aquecimento da Terra, isso não gerará efeitos visíveis.

A vida apenas seguirá normalmente, e teremos evitado desastres hipotéticos que nunca se materializaram. Dos desastres climáticos que ocorrem, é impossível selecionar qualquer um deles e dizer com certeza que ele é resultado direto da mudança climática. Se ninguém fizer nada, contudo, sua frequência aumentará, o clima da Terra será mais inóspito e o resultado será catastrófico.

A meta de reduzir emissões de forma a não aumentar a temperatura da Terra acima de 1,5 °C já não foi cumprida. Em geral, uma situação dessas exige que uma autoridade imponha restrições para todos e puna aqueles que, pensando apenas no próprio ganho de curto prazo, as descumpram.

Bolsonaro pode ter um piripaque, mas não está morto, por Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Ex-presidente continua a influir nas estratégias da extrema direita

Governador Cláudio Castro não dá um passo sem ouvir o filho 01

A qualquer momento Bolsonaro pode ter um piripaque, garantem seus advogados. Os riscos aumentaram depois que o STF rejeitou por unanimidade o recurso contra sua condenação —recurso baseado na tese de "desistência voluntária", a qual não deixa de ser uma admissão de que a trama golpista existiu.

Expressão antiquada, piripaque, segundo os dicionários, é um mal súbito, um surto, uma crise nervosa. Um dos sinônimos é faniquito. No caso, está relacionada à certeza de que o ministro Alexandre de Moraes irá determinar a prisão do ex-presidente na Papuda (quanto tempo ele ficará lá é outra história).

Polícia é civilização, por Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Mas é preciso civilizar as forças de segurança, sob pena de vê-las convertidas num Leviatã

No Brasil, há áreas em que quem exerce o monopólio da violência não é o Estado e sim quadrilhas

Quando saí em férias, Lula vivia um doce idílio com as pesquisas eleitorais, escorado no enfraquecimento do bolsonarismo e na perspectiva de aprovação de medidas econômicas populares. Mas aí veio a malfadada Operação Contenção, que resultou numa pilha de 121 cadáveres e mudou o eixo do debate nacional, que migrou da economia para a segurança pública.

A próxima leva de pesquisas indicará se o deslocamento narrativo trouxe danos à popularidade presidencial e, em caso afirmativo, qual a sua extensão. Segurança é um terreno em que a esquerda tradicionalmente vai mal. Não penso que a direita se saia melhor, mas seus equívocos estão mais em linha com os anseios populares, que é o que importa eleitoralmente.

Derrite tenta esvaziar PF para dar 'escandaloso presente de Natal a facções', diz Ministério da Justiça, por Mônica Bergamo

Folha de S. Paulo

Parecer prevê que Polícia Federal só pode ser acionada sob provocação de governadores estaduais

Deputado, que se licenciou da Secretaria de Segurança de Tarcísio de Freitas para relatar projeto, não respondeu à coluna

parecer do deputado federal Guilherme Derrite (PP-SP) sobre o projeto de lei antifacção está sendo considerado um "escândalo" por integrantes do Ministério da Justiça (MJ) que já se debruçaram sobre o texto.

Um dos pontos considerados mais problemáticos é o que prevê que o Ministério somente poderá determinar a atuação conjunta ou coordenada da Polícia Federal (PF) e de forças locais "mediante provocação do governador do Estado".

"É um escândalo, uma verdadeira bomba para as investigações contra o crime organizado no país", diz o secretário Nacional de Assuntos Legislativos do MJ, Marivaldo Pereira. "Na prática, Derrite quer criar barreiras à atuação da PF, condicionando sua atuação ao crivo de governadores estaduais de forma absolutamente inconstitucional. Ele está dando um presente de Natal aos líderes de facções criminosas", segue.

‘Projeto de Derrite pode excluir PF, MP e afetar operações contra o crime organizado’, diz Gakiya, por Marcelo Godoy

O Estado de S. Paulo

Promotor jurado de morte pelo PCC analisou durante dois dias o substitutivo apresentado por Derrite e pede que votação seja adiada para que possíveis falhas sejam discutidas e corrigidas

O promotor Lincoln Gakiya está jurado de morte pelo Primeiro Comando da Capital (PCC). No último mês, a polícia descobriu mais um plano da facção para assassiná-lo. É difícil pensar em uma voz com mais legitimidade do que o promotor para analisar as mudanças que o deputado federal Guilherme Derrite (PP-SP) pretende fazer no projeto antifacção do governo federal. Ele estudou o texto no fim de semana e contou suas conclusões à coluna.

Acima das paixões políticas, Gakiya sabe o custo que mudanças legais podem trazer para a vida dos brasileiros e para a sua própria. Deve, portanto, ser ouvido por todos aqueles que têm honestidade de propósitos e não colocam os interesses eleitorais acima da necessidade de se aperfeiçoar a legislação para combater o crime organizado que pulou do estágio das organizações criminosas comuns para atingir aquele das organizações de tipo mafioso.

O alerta que Gakiya endereça aos parlamentares é preocupante. Ele teme que, se o substitutivo for aprovado como está, a Polícia Federal e o Ministério Público possam ser excluídos do combate ao crime organizado. Tudo por causa da redação do artigo 11 do substitutivo de Derrite, entregue menos de 24 horas depois de ele ser nomeado relator do projeto. O deputado disse à coluna que pretende ouvir os promotores e ainda pode modificar o texto.

Fatiando Amazônia: depositário fiel, nada mais! ... Por Aylê-Salassié Filgueiras Quntão*

O
apelo ufanista que, repetido insistentemente nas escolas e nas ruas, num passado não muito longínquo,  de que a "Amazônia é nossa!..." e que chegou a  levar, no Brasil,  muita gente  à prisão por excesso de ativismo , está tomando uma nova configuração em Belém.  A Conferência (da ONU)das Mudanças Climáticas (COPs),  já na sua trigésima edição,  passou a tratar a região  não apenas como um bioma tropical exclusivo, mas  como "patrimônio da humanidade", estratégico para o controle do aquecimento global . Com isso,  está  abrindo a chance para que todos os países do mundo e até as grandes empresas  possam ter  uma fatia  da região.

Alarma constatar que, a Amazônia como uma marca identitária brasileira, venha perdendo  expressão política,  na medida em que  se conclui que os países abrigados por ela não conseguem executar uma política de plena  proteção da floresta e seus povos originários. Os  números difundidos sobre a redução do desmatamento e das queimadas  não totalmente são confiáveis, em que pese  tenham sua origem no Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE), uma respeitável instituição brasileira  de pesquisas espaciais. Concomitante, prega-se na COP30 a responsabilidade multilateral da proteção dos recursos da Terra , com ênfase  particular na Amazônia. 

Caio Prado Júnior refletiu sobre democracia e fascismo ao observar a 2ª Guerra

Por Folha de S. Paulo

'Qual é o denominador comum que une ingleses, americanos e russos?', indagou o historiador brasileiro

Artigo faz parte de seção que republica colunas de grande repercussão da história da Folha

Um dos maiores pensadores do Brasil, o historiador e geógrafo Caio Prado Júnior refletiu a respeito da democracia enquanto observava os países da Europa sucumbirem diante da Segunda Guerra Mundial.

"O que distingue fundamentalmente a democracia do fascismo e a grande maioria dos ingleses, americanos e russos que lutam, está perfeitamente conciente disto é que na democracia os direitos individuais não são apenas garantidos pelo Estado, mas sua defesa e guarda está nas mãos dos próprios interessados, isto é, do povo", escreveu em artigo publicado na Folha da Manhã, em 1943.

No início dos anos 1960, o jornal se fundiria com a Folha da Manhã e a Folha da Tarde para dar origem à Folha de S.Paulo.

Leia a seguir o texto completo, parte da seção 105 Colunas de Grande Repercussão, que relembra crônicas que fizeram história na Folha. A iniciativa integra as comemorações dos 105 anos do jornal, em fevereiro de 2026.

Poesia | A Criança, de Fernando Pessoa

 

Música | Nara Leão - Tema de "Os Inconfidentes" (Chico Buarque / Cecilia Meireles)

 

segunda-feira, 10 de novembro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Desequilíbrio fiscal esvazia Bolsa de Valores

Por O Globo

Com necessidade de manter juros altos, renda fixa é mais atraente que ações, e mais empresas fecham capital

A falta de compromisso firme do governo com o equilíbrio fiscal tem consequências negativas em toda a economia. A mais imediata é a inflação, resultado da falta de confiança que se dissemina pelo mercado. O Banco Central (BC) é então forçado a subir os juros, com isso impõe um freio ao crescimento econômico e à geração de empregos. Quando os juros ficam altos por muito tempo, os efeitos são perniciosos. Na semana passada, mais uma vez a taxa básica de juros, a Selic, foi mantida em 15% anuais. Descontada a inflação — em torno de 5,2% ao ano —, o juro real se aproxima de 10%, desempenho que tem garantido ao Brasil há um bom tempo lugar no pódio dos juros mais altos do mundo.

Guerra sem vencedores, por Preto Zezé

O Globo

Quantas creches, escolas técnicas, universidades, centros culturais, oportunidades de trabalho surgiram onde o Estado só aparece fardado?

Já passaram 18 anos desde a primeira grande invasão ao Complexo do Alemão. Quase duas décadas depois, seguimos repetindo o mesmo roteiro: o Estado entra atirando, a imprensa transmite ao vivo, as autoridades prometem “recuperar o território” — e logo a vida volta ao normal de sempre: escolas precárias, oportunidades escassas e a torneira da violência aberta.

O outro lado do normal em algumas cidades é este: tiros, bombas e corpos. Infelizmente. A manchete já não comove. É preciso mais corpos empilhados, mais câmeras, mais espetáculo.

Belém não acredita em gráficos, por Demétrio Magnoli

O Globo

As nações reunidas em Belém desviam seus olhares dos gráficos que contam a dura verdade

A COP30 realiza-se sob o signo do autoengano. Aprovará um documento sobre o fundo para florestas tropicais, impulsionado pelo Brasil, cujas fontes de financiamento permanecem incertas. Aprovará uma declaração que vincula a ação climática ao combate à pobreza. Passará, por consenso vazio, um texto demagógico sobre “racismo ambiental” que Lula ofertará a seu cortejo identitário. Algo muito menos provável é a publicação de uma declaração final da cúpula que encare o fracasso dos objetivos do Acordo de Paris (2015).

Base jurídica das COPs, o Acordo de Paris estabeleceu o objetivo de impedir a elevação da temperatura média global para além de 2oC em relação aos níveis pré-industriais e, idealmente, evitar a ultrapassagem da marca de 1,5oC. Segundo os indícios disponíveis, a declaração final escolherá o método de dissimular a constatação de que não se obterá nem mesmo o objetivo mais modesto. As nações reunidas em Belém desviam seus olhares dos gráficos que contam a dura verdade.

Não é culpa do Banco Central, por Carlos Alberto Sardenberg

O Globo

E então, nenhuma carta nesta mão, nada na outra, e um déficit de R$ 80 bilhões vira R$ 31 bilhões, que é igual a zero — uma proeza

Não, o Banco Central não é o culpado pelos juros altos. A culpa está no Ministério da Fazenda, responsável pelo descontrole das contas públicas, que resultam numa expansão insustentável da dívida. Mas o ministro Fernando Haddad segue os projetos do presidente Lula.

Sobram números para demonstrar esse desequilíbrio. Mas nada é mais eloquente que esta situação: o governo terá déficit expressivo neste ano, algo em torno de R$ 80 bilhões. E poderá declarar de peito aberto que cumpriu a meta legal de déficit zero.

O truque começa na flexibilização da meta. É zero, mas, sabem como é, isso de orçamento é coisa complicada de acertar, de modo que o arcabouço aceita uma margem de tolerância. O resultado pode ser um déficit equivalente a 0,25% do PIB (algo como R$ 31 bilhões) ou um superávit de mesmo tamanho. No governo, ninguém jamais pensou em buscar a meta de superávit. Seria, dizem, deixar o dinheiro sobrar quando há tantos gastos importantes a fazer.

Governo volta ao caminho fácil e ineficaz das críticas ao BC, por Sergio Lamucci

Valor Econômico

Ajudar a reduzir os juros deveria ser uma das principais metas do governo, mas por meio de uma política fiscal que controle o aumento das despesas obrigatórias

O coro de críticas de integrantes do governo ao nível da Selic recomeçou. As mais recentes reclamações partiram do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e da ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, deixando claro que o presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, terá de conviver com pressões do Executivo por juros mais baixos. Em vez de criticar o BC, o governo deveria se empenhar em reduzir as incertezas sobre as contas públicas, o que ajudaria a criar condições para uma queda mais significativa da taxa. Essa, porém, não será a estratégia a ser seguida pela gestão do presidente Luiz Inácio Lula Silva, a menos de um ano das eleições presidenciais.

COP em Belém e bilhões para ar-condicionado em Manaus, por Bruno Carazza

Valor Econômico

Enquanto o mundo se reúne em Belém para salvar o planeta do aquecimento global, governo brasileiro dá bilhões para empresas fabricarem ar-condicionado em Manaus

Uma das metas do governo Lula na COP30 é arrecadar pelo menos US$ 10 bilhões junto a países e ao setor privado para o Fundo Florestas Tropicais para Sempre, instrumento para financiar projetos que mantenham florestas em pé para combater o aquecimento global.

A iniciativa tem grandes méritos, não há dúvidas. Mas a verdade é que o próprio governo brasileiro, todos os anos, abre mão de um volume muito maior de recursos para que empresas mantenham, no coração da Amazônia, um modelo de negócios poluente e - o que é pior - que lucra com o aumento geral de temperatura.

A decisão de explorar petróleo na Margem Equatorial não é a única contradição na postura brasileira enquanto preside a COP30. A manutenção da Zona Franca de Manaus (ZFM), um pesado conjunto de incentivos tributários para a produção industrial na capital do Amazonas, não faz nenhum sentido do ponto de vista da sustentabilidade.

Como chegamos na COP30? Por Clarissa Lins

Valor Econômico

Os compromissos assumidos pelos países ainda estão muito distantes para limitar o aumento global da temperatura em 1,5°C

ACOP30 terá iniciado quando este artigo for publicado e proponho aqui uma reflexão sobre como estamos chegando na Conferência, no contexto da temática da energia.

Os compromissos assumidos anteriormente, na COP28 de Dubai, deram a direção da jornada: aumentar a escala e a competitividade das soluções energéticas de baixo carbono, à medida que os países se afastam de combustíveis fósseis, além de melhorar de forma significativa a eficiência energética. De maneira complementar, a indústria global de óleo e gás também assumiu compromissos de descarbonizar suas operações: por meio de iniciativa setorial, 55 empresas representando 45% da produção global estabeleceram metas de zerar as emissões de metano e encerrar flaring de rotina até 2030, além de zerar emissões operacionais até 2050.

O futuro já é agora, por Joaquin Gonzalez-Aleman

Correio Braziliense

Discursos bonitos em eventos internacionais não são suficientes para combater as mudanças climáticas nem salvar as pessoas que já estão sendo impactadas por elas. O que nós, adolescentes e jovens, queremos são compromissos verdadeiros

Hoje, tem início a 30ª edição da Conferência das Partes (COP30), e países de todo o mundo, incluindo o Brasil, têm uma responsabilidade que não podem mais adiar: ir além dos discursos e assumir ações concretas, efetivas, que realmente protejam a vida daqueles mais impactados pelas mudanças do clima.

Nós, adolescentes e jovens, sabemos bem o que significa sermos os mais impactados. Não somos os criadores desse sistema que gera poluição, desmatamento e consumo desenfreado de recursos naturais, mas somos nós e as crianças os que mais sentem na pele, de forma desproporcional, os efeitos desse cenário. Somos nós que não conseguimos nos concentrar na aula por conta do calor extremo, que vemos as áreas verdes ao nosso redor diminuírem, que precisamos recorrer a abrigos quando há enchentes ou deslizamentos, e que sofremos com doenças causadas pela poluição.

O papel das bibliotecas escolares para o incentivo à leitura e à formação, por Ana Paula Yazbek

Correio Braziliense

Ler e falar sobre livros deveria ser uma prática cotidiana nas escolas. No entanto, a leitura, por si só, não basta.

Vivemos um momento em que a leitura, embora reconhecida por seus inúmeros benefícios, ainda não ocupa o lugar que deveria na vida das pessoas, especialmente de crianças e jovens. Segundo a sexta edição da Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, grande parte da população tem um consumo de livros limitado, concentrado em temas religiosos, didáticos e best-sellers de impacto midiático. Nesse contexto, a escola surge como um ambiente fundamental para transformar essa realidade, promovendo o contato contínuo e prazeroso com a literatura.

Historicamente, a leitura foi instrumento de poder de instituições e grupos sociais. É essencial compreendê-la, assim como o acesso à arte, à informação e à educação, como direitos de todos, fundamentais para a democracia. Uma escola sem biblioteca comunica silenciosamente que a leitura não é importante. Mais do que um espaço físico, a biblioteca representa a oportunidade de revelar aos estudantes que a literatura é uma ferramenta vital para perceber o mundo, expressar emoções e refletir sobre si e o outro. Sua ausência priva os alunos de experiências humanas e universais, fundamentais à formação integral.

Cansaço coletivo, por Letícia Mouhamad.

Correio Braziliense

Até que ponto a construção de viadutos e alargamento de faixas beneficia aqueles que dependem exclusivamente de transporte público, inclusive, do metrô?

Sou moradora de Planaltina e, desde os 18 anos, faço, de segunda a sexta-feira, o trajeto em direção ao Plano Piloto. Somadas, ida e volta totalizam cerca de 90km, e o tempo de deslocamento para cada viagem pode variar de 40 minutos a duas horas a depender do congestionamento. São, em média, 10 horas por semana gastas somente no trânsito. 

Essa jornada —  só de vir à mente já me cansa — ganha um sabor especial quando feita de ônibus e em horário de pico. As tardes de calor são um tempero a mais nesse caldeirão de trabalhadores exaustos. E, acredite, não há gentileza que resista a um assento prestes a ficar vazio. Afinal, descansar ao menos as pernas é, nesse contexto, um privilégio. 

Fato é que, depois de tantos anos vivenciando essa rotina, passar mais estresse no trânsito me parecia algo distante, pois estava calejada. Ledo engano. Com as inúmeras intervenções na BR-020, quem acordava às 5h20 precisa, agora, programar-se para levantar ao menos meia hora antes. Além da pouca paciência e da poeira, os passageiros ficam à mercê da insegurança, com desvios sinuosos nas pistas e sinalização confusa. 

Direita busca alforria, por Carlos Pereira

O Estado de S. Paulo

O bolsonarismo se tornou um fardo. Romper com ele é o caminho para uma direita democrática

A iminente prisão do ex-presidente Bolsonaro impõe um teste crucial ao comportamento estratégico dos políticos. Quando o custo reputacional junto ao eleitorado se antecipa, é racional que os partidos desenvolvam relutância em se associar a nomes marcados por problemas com a Justiça. Em um ambiente eleitoral cada vez mais competitivo – em que, até a véspera da votação, ainda é difícil prever o vencedor –, é esperado que as legendas busquem candidatos substitutos distantes do perfil do político condenado.

Bancada Cristã promove tortura e feminicídio de Estado, por Camila Rocha

Folha de S. Paulo

Compromisso de parlamentares 'cristãos' com projeto restingindo aborto nunca foi a diminuição de casos

Interrupção de gravidez é quinto maior causador de mortes maternas no Brasil

Tortura significa causar dor ou sofrimento intenso, físico ou mental, de forma intencional para obter informações, punir, intimidar ou por qualquer motivo baseado em discriminação, segundo convenção da ONU.

E agora é exatamente isso que pode ocorrer com meninas estupradas no Brasil: tortura promovida pelo Estado baseada em discriminação de gênero. Porque são mulheres, merecem sofrer. Tudo graças à crueldade da autodenominada "Bancada Cristã".

Congresso mina o direito de meninas estupradas, por Lygia Maria

Folha de S. Paulo

Ao derrubar resolução do Conanda, deputados perpetuam a dificuldade de acesso ao aborto legal e o sofrimento de crianças violentadas

No Senado também avançam propostas insensatas, como proibir o procedimento por telemedicina e após 22 semanas de gestação em caso de estupro e anencefalia

O congresso está numa cruzada contra o direito que crianças grávidas têm ao aborto legal. Nem o interesse eleitoreiro parece explicar tamanha crueldade. Afinal, segundo o Datafolha, 58% dos brasileiros acham que a lei sobre o tema deve continuar como está (34%), incluir mais permissões (17%) ou que o aborto deveria ser descriminalizado (7%).

O Código Penal autoriza o procedimento em casos de risco à vida da mulher, anencefalia fetal e estupro, e toda relação sexual com menor de 14 anos é estupro.

Como choques redefiniram o terceiro mandato de Lula, por Marcus André Melo

Folha de S. Paulo

Governo tem sido marcado por alterações nos parâmetros do jogo político que produzem efeito duradouro no mandato

Eventos como a invasão da praça dos Três Poderes, em janeiro de 2023, e a Guerra da Ucrânia são exemplos de acontecimentos que impactam gestão

Lula 3 tem sido marcado por choques de natureza singular. Ao historiador do futuro não escapará esta singularidade embora alguns desses choques sejam eventos de grande importância histórica per se. Penso em choques não como em referência a variações conjunturais ou à volatilidade inerente ao sistema político, mas a mudanças estruturais — alterações nos parâmetros do jogo político que produzem efeitos duradouros ao longo do mandato e não decorrem da ação direta do governo ou de suas lideranças. São, portanto, choques exógenos, cujo impacto, positivo ou negativo varia conforme o evento.

Velhas práticas, novos discursos, por Jorge Chaloub*

Folha de S. Paulo

Operação policial reproduziu velhas práticas do Estado em meio a novos discursos de teor fascista

Defesa da morte como política pública ganha destaque e mostra mudança brusca no Brasil

[RESUMO] Operação contra o Comando Vermelho nos complexos do Alemão e da Penha, a mais letal da história do país, com 121 mortos, expõe tanto continuidades (incursões violentas em favelas, desrespeito a direitos humanos) quanto mudanças no cenário brasileiro, como a centralidade que o culto à morte passou a ter na esfera pública, tornando desnecessárias as justificativas para matanças. Em meio a uma direita radicalizada e uma esquerda com dificuldade a assumir papel relevante neste debate, não há coalizão capaz de apoiar políticas alternativas de combate ao crime.

A chacina ocorrida no Complexo do Alemão expõe evidentes continuidades. Há, por um lado, a renitente violência com a qual o Estado brasileiro trata regularmente certos grupos sociais. Despontam ainda permanências mais recentes, como a política de guerra empreendida pelo estado do Rio de Janeiro, que ultrapassa os marcos históricos dos regimes políticos, sejam eles democráticos ou autoritários.

De Carlos Lacerda a Chagas Freitas, passando por Marcelo Alencar e Sérgio Cabral, as incursões violentas da polícia nas favelas são uma das principais formas de impor certa ideia de ordem, definida por um uso seletivo da lei, hábil em limitar os direitos dos moradores.

Por outro lado, em meio às mudanças no território, há a contínua dominação territorial do crime organizado, um problema grave não apenas para o Alemão ou a Penha, mas para a implantação de uma ordem democrática no Brasil.

A ênfase nas permanências ofusca, entretanto, aspectos centrais do evento e mudanças importantes no cenário político do Brasil. Se a ação policial segue um roteiro em vários aspectos semelhante, o discurso público a justificá-la tem elementos novos, ou ao menos relegados às margens nas últimas décadas, e aponta para um lugar diferente da segurança pública.

Poesia | É preciso agir, de Bertold Brecht

 

Música | Velho ateu, por Roberto Riberti (Eduardo Gudin e Roberto Riberti)

 

domingo, 9 de novembro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Lula deve evitar armadilhas em cúpula na Colômbia

Por O Globo

Venezuela é pauta incontornável. Será preciso cautela para não prejudicar negociação do tarifaço

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa hoje e amanhã da cúpula entre a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e a União Europeia (UE) em Santa Marta, na Colômbia. É incontornável que a Venezuela, sob ameaça de ataque dos Estados Unidos, esteja na pauta. A situação exigirá de Lula cautela e habilidade diplomática. Ao mesmo tempo que, como todos os presentes, ele deve se opor a qualquer intervenção militar na América Latina, precisa evitar declarações que ponham em risco as negociações bilaterais em curso com os americanos para revogar o tarifaço imposto às exportações brasileiras por Donald Trump.

Diante da Venezuela, a missão do governo brasileiro é trabalhar diplomaticamente para que o ditador Nicolás Maduro aceite abdicar do poder sem conflito armado. O Brasil tem boas razões para temer uma intervenção militar americana próxima à fronteira norte. Nem os estrategistas em Washington chegam a consenso sobre o que desejam como desfecho caso usem a força para derrubar Maduro.