Como diria Bob Dylan, alguma coisa está acontecendo aqui, Mr. Jones, mas
você não sabe o que é. Na semana passada a empresa brasileira BRMalls, que é
dona e/ou administradora de 46 shoppings em 15 estados e 29 cidades, anunciou
que no primeiro trimestre deste ano seu faturamento cresceu 25%, chegando a R$
4,1 bilhões. Ela surgiu há cinco anos, com seis pequenos shoppings. Tornou-se a
líder do mercado e, no ano passado, seus centros comerciais tiveram 360 milhões
de visitantes, que movimentaram R$ 16 bilhões. Suas ações valorizaram-se 360%.
A empresa vale R$ 10 bilhões.
Mr. Jones tem dificuldade para entender isso, sobretudo porque ele viu as
imagens de shoppings vazios na China, por excesso de oferta. O êxito da BRMalls
reflete a conjunção de três acertos: percebeu que o consumidor brasileiro
mudou, viu que quem investe ganha dinheiro e entrou no mercado com uma gestão
profissional e meritocrática.
Entre 2008 e 2010 a empresa tomou um olho roxo metendo-se a administrar a
Daslu, templo de exibicionismo da "grã-finagem" nacional. Hoje a
clientela dos shoppings da BRMalls é a chamada classe média emergente, um nome
chique para o que nada mais é que o trabalhador brasileiro. As classes B e C
têm uma renda familiar que vai de R$ 1.600 a R$ 6.900. Em 2003 havia 66 milhões
de pessoas na classe C. Em 2009 chegaram a 95 milhões e, em 2014, poderão ser
113 milhões. Enquanto no andar de cima o dinheiro que sobra vai para
investimentos e no de baixo vai para alimentação, esse segmento consome. De uma
maneira geral, nessa faixa a renda dos trabalhadores cresceu 9%, contra uma
inflação de 5%. O freguês dos shoppings gasta em média cerca de R$ 70.
A empresa acreditou na expansão do mercado, na ampliação do acesso ao
crédito e na queda dos juros. Em janeiro de 2007 a taxa Selic estava a 13,25%
ao ano e agora está em 9%, com os bancos finalmente competindo nos custos que
jogam em cima de seus clientes. A BRMalls investiu R$ 6 bilhões, no ano passado
abriu um grande shopping na Moóca (SP), outro em Irajá (RJ) e inaugurará um
terceiro em cima da rodoviária de Belo Horizonte.
Até aí o êxito foi da empresa para fora. Para dentro, enquanto o comércio é
controlado por empresas familiares, a BRMalls é inteiramente profissional.
Parente, nem namorada. A idade média de seus 350 funcionários está em 30 anos.
Quando foi criada, tinha 15 sócios e a cada ano promove três pessoas de seu
quadro. Hoje são 27. Todos os funcionários ganham bônus, mas, se um leva dois
salários, o melhor leva vinte. Um craque que entra na empresa aos 25 anos pode
sonhar em fechar seu primeiro R$ 1 milhão aos 30.
A BRMalls descende da cabeça de Jorge Paulo Lemman, o empresário que mais
produziu milionários na História do Brasil, e também o que mais botou dinheiro
em atividades filantrópicas. Seu negócio é a caça ao mérito. Formado no sistema
financeiro, hoje tem os pés na produção (Ambev). Na lista da Forbes, além dele,
com US$ 12 bilhões, há duas de suas crias: Marcel Telles (US$ 5,7 bilhões) e
Carlos Alberto Sicupira (US$ 5,2 bilhões). O sucesso da BRMalls deve-se a
Carlos Medeiros, seu executivo-chefe. Ele organizou a empresa aos 33 anos, vindo
do banco de investimentos de Lemman. Fala pouco, não vai a Brasília desde 1998
e, nos últimos cinco anos, jamais pisou no BNDES. Viaja com mala de mão e o que
gosta mesmo é de correr maratonas pelo mundo afora. A BRMalls trabalha com uma
infantaria de três mil funcionários nos shoppings. Vai dar trabalho, mas
Medeiros acredita que conseguirá desenhar um sistema de bonificação (por meio
de ações) para uma parte dessa tropa.
FONTE: O GLOBO
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