O grupo que é exemplo da política do BNDES de formar campeões nacionais
mantém mais emprego nos Estados Unidos do que no Brasil e deu prejuízo em três
dos últimos cinco anos. O presidente do JBS, Joesley Batista, explica que as
vantagens da globalização de grupos nacionais vão do prestígio à abertura de
mercado. A companhia já fechou quatro das cinco empresas que comprou na
Argentina.
O banco colocou uma montanha de recursos em frigoríficos. Fez isso de duas formas:
emprestando dinheiro subsidiado, via BNDES, e virando sócio das empresas, por
meio do BNDESPar. Desde 2005, o BNDESPar investiu quase R$ 12 bilhões em três
frigoríficos - JBS, Marfrig e BRF - na compra de ativos, subscrição de ações e
aquisição de debêntures. O JBS, escolhido para ser o campeão nacional, ficou
com a maior parte, R$ 8,1 bi. Em empréstimos, a empresa recebeu mais R$ 2,5 bi.
Os números mostram como o BNDES incentivou a compra de uns por outros e
aumentou a concentração no setor.
Em uma controversa operação, o dinheiro público foi usado para comprar 99,9%
de debêntures lançadas pelo JBS para financiar a compra da Pilgrim"s
Pride, nos Estados Unidos. A exigência feita pelo banco foi que a empresa
abrisse capital no mercado americano. Veio a crise, e ela não cumpriu o
prometido. O banco então converteu as debêntures em ações, e hoje é dono de 31%
do JBS que, no ano passado, deu prejuízo exatamente pela compra da
Pilgrim"s Pride. O Estado é o segundo maior sócio, depois da família Batista,
que tem 44,6%:
- Uma coisa eu posso garantir a você, o BNDES nunca colocou dinheiro no JBS
para salvar a empresa, ao contrário do que aconteceu com Aracruz, Sadia e
outras na crise de 2008. O prejuízo é parte do processo de consolidação. Somos
especializados em comprar empresas deficitárias, que administradas por nós dão
lucro. No primeiro momento, o resultado é negativo mesmo - disse Joesley.
Em março de 2007, quando a empresa abriu capital, a ação valia R$ 7,9. Na
sexta-feira, valia R$ 7,6. O banco aumentou sua participação no momento em que
o grupo adquiria mais ativos, como o frigorífico Bertin, e expandia para novas
áreas. No mesmo período, as ações caíram. Chegaram a valer R$ 3,5 em outubro do
ano passado. Joesley Batista acha natural que o banco público seja um dos donos
da sua empresa:
- O BNDES é meu sócio há três anos e é sócio da Weg há 30 anos.
Os dados do JBS mostram uma evolução explosiva dos ativos e um crescimento
grande da dívida. Pelos dados da Economática, a empresa tem uma dívida líquida
sobre patrimônio líquido de 65%. A dívida bruta sobre patrimônio líquido é de
95%. Em 2011, houve prejuízo de US$ 496 milhões com a unidade de frango nos
Estados Unidos, e foi justamente isso deixou o grupo no vermelho no ano.
Nos EUA, o JBS é uma potência. Segundo ele, lá o grupo tem um milhão de
cabeças de gado em confinamento. Este ano, engordará 2,2 milhões de cabeças.
Compra 1.300 carretas de milho por dia, é o maior comprador de milho americano.
Tem 70 mil empregados, 10 mil a mais do que no Brasil. Abate oito milhões de
frango por dia:
- Quando o Mauro, embaixador brasileiro, pede uma audiência com o secretário
de Agricultura dos Estados Unidos, ele atende porque a nossa empresa é o que é
na economia americana. De lá, eu consigo alcançar mercados que não recebem
carne brasileira. Foi porque estamos nos Estados Unidos é que começamos a
exigir a elevação do preço para a nossa carne.
Ele diz que a empresa aprende na comparação entre as duas economias:
- Lá, para abater 6.000 cabeças eu preciso de três mil funcionários; aqui,
preciso de seis mil. A produtividade lá é o dobro. A nossa indústria é muito
primitiva. Lá, eu tenho cinco advogados; aqui, tenho 50. Lá, eu tenho 37
causas, aqui eu tenho sete mil.
Há outras diferenças gritantes. Aqui, como contei na coluna de ontem, que
pode ser lida no meu blog, a empresa tem sido acusada de comprar carne de
produtores que cometem crimes ambientais. Há até um caso de compra de gado de
fazenda acusada de trabalho escravo:
- Nos Estados Unidos existe o conceito do "Animal Welfare". Lá
eles mandaram fechar outro dia um frigorífico por causa da acusação de
maltratar uma vaca.
Além do Brasil e Estados Unidos, a empresa está na Austrália, México,
Uruguai, Paraguai e Argentina, e tem escritórios em todos os continentes. A ida
para a Argentina não deu certo. Eles compraram cinco empresas e já se
desfizeram de quatro:
- A Argentina enfrenta problemas. Seu rebanho diminuiu em dez milhões de
cabeças nos últimos anos.
A empresa está entrando em outras áreas. Este ano vai inaugurar a Eldorado,
na área de celulose, para a qual ganhou novo empréstimo do BNDES: R$ 2,7 bi.
- Normalmente, o grupo não constrói empresas, mas compra ativos com
problemas e melhora a gestão. A Eldorado está sendo uma experiência de vida -
diz Joesley.
O JBS tem um banco, o Original, que recebeu R$ 850 milhões do Fundo
Garantidor de Crédito para absorver o Banco Matone. Coincidentemente, logo
depois, o banco fez uma aposta pesada na queda da taxa de juros. Foi naquele
primeiro corte, em agosto de 2011, que surpreendeu o mercado. Mas não o Banco
Original. Ele ganhou muito dinheiro na queda das taxas e deu lucro de R$ 158
milhões no ano. A CVM investigou e não encontrou sinal de informação
privilegiada. Joesley credita o acerto à capacidade de análise da equipe.
FONTE: O GLOBO
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