A turbulência política causada pela CPI do Cachoeira tende a se agravar nas
próximas semanas, com a iminência do julgamento do mensalão no Supremo Tribunal
Federal (STF).
Nos bastidores, a presidente Dilma Rousseff já manifestou o desejo de que o
processo seja levado ao plenário da Corte somente em 2013, mas a pressão sobre
o STF pode atrapalhar os planos do Planalto.
Dilma tenta jogar com o tempo. Se a análise do processo ficar para o próximo
ano, pelo menos dois ministros estarão aposentados: Carlos Ayres Brito e Cezar
Peluso, cujos votos hoje são dados como certos pela condenação de figurões
petistas, como José Dirceu e José Genoino. Com isso, a presidente poderia nomear
substitutos mais afinados com o governo e ainda evitar que o julgamento ocorra
em ano eleitoral.
– Se depender da vontade da presidente, o STF não julga o mensalão este ano.
Ficando para 2013, dá tempo de colocar mais gente dela – diz um interlocutor de
Dilma.
Essa lógica já foi seguida pelo Planalto nas três últimas indicações para o
STF. Dias Toffoli, Luiz Fux e Rosa Weber só foram nomeados após sondagens sobre
a posição futura dos magistrados no julgamento do mensalão. Contudo, não há
garantias de que o trio atenda aos desejos do governo. Toffoli inclusive já
teria avisado a Dirceu que irá se declarar impedido, por ter trabalhado com o
ex-ministro.
O voto de Fux é uma incógnita. E Rosa, que o PT considerava manipulável,
agora assusta o partido após levar para trabalhar em seu gabinete o juiz
federal Sergio Moro, considerado implacável no combate à corrupção.
– Rosa vai surpreender muita gente. De dócil, não tem nada – afirma um
magistrado com trânsito no STF.
Como formalmente o governo não tem como adiar o julgamento, dentro da Corte
os próprios ministros tentam apressar a decisão. Revisor do processo, Ricardo
Lewandowski renunciou a sua cadeira no TSE para se dedicar à analise das 50.119
páginas do calhamaço. Em uma reunião para discutir o assunto, o presidente do
tribunal, Ayres Britto, perguntou ao colega se ele queria ficar marcado como o
"coveiro do mensalão".
– A maioria dos ministros está com o voto pronto, só esperando pelo
Lewandowski – diz um juiz que teve acesso aos autos.
Na contramão do Planalto, o grupo de Dirceu, apontado como "líder da
organização criminosa" que teria comprado apoio de parlamentares, trabalha
para que o julgamento ocorra em breve. Ele está convicto de que não há prova
contra ele.
– Se o Supremo julgar pelo que existe nos autos, não há como condenar o
Dirceu – avalia o deputado Paulo Ferreira (PT-RS), que foi testemunha de defesa
do ex-ministro.
FONTE: ZERO HORA (RS)
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