domingo, 22 de abril de 2012

Por que Cachoeira assusta o poder


Apesar de apoiarem a abertura de CPI e se prepararem para o embate, governo e oposição temem revelações de bicheiro

Fábio Schaffner

Brasília vive dias tensos. O motivo da apreensão tem nome, sobrenome e apelido: Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira.

Poucas vezes os segredos guardados por uma única pessoa causaram tanta preocupação ao governo e à oposição. Não é para menos. Apontado pela Polícia Federal como o líder de uma organização criminosa composta por mais de cem pessoas, entre contraventores, políticos, servidores públicos, arapongas e policiais, Cachoeira está na gênese dos dois maiores escândalos de corrupção da história recente.

Mentor da gravação do vídeo que deu origem ao primeiro escândalo do governo Lula (envolvendo Waldomiro Diniz), o bicheiro agora é a peça-chave da CPI que irá investigar as ramificações de seus negócios com políticos e com a Delta Construções, a empresa que mais recebe verbas do governo.

– Essa será a CPI mais sangrenta da história do Congresso – sentencia o presidente do PMDB, senador Waldir Raupp (RO).

O primeiro abatido foi o senador goiano Demóstenes Torres, cujo mandato está sob ameaça. As imprevisíveis consequências da CPI, contudo, assustam congressistas de todas as matizes partidárias. Em Anápolis, terra do bicheiro, comenta-se que ele guardava uma tabela de valores que pretendia pagar a parlamentares em troca da legalização do jogo no país.

Planalto teme instabilidade

Dinheiro não faltaria. Embora tenha declarado à Receita rendimentos de R$ 60 mil em 2010, as investigações mostram que o grupo de Cachoeira movimentou R$ 400 milhões nos últimos seis anos. Para não passar recibo do temor que permeia o Congresso, mais de 450 parlamentares assinaram a CPI. Agindo à revelia da presidente Dilma Rousseff, Lula insuflou o PT, partido que mais contribuiu com assinaturas para a comissão.

– A CPI é muito ruim para o governo. Traz um clima de instabilidade no Congresso, pode nos atrapalhar – diz um assessor de Dilma.

Lula, contudo, acredita que a iniciativa pode enfraquecer a oposição e, de quebra, desviar o foco do mensalão, cujo julgamento deve ocorrer ainda no primeiro semestre. Embora o governo tenha contratos de R$ 3,6 bilhões com a Delta, Lula confia que a ampla maioria aliada na CPI (80% dos assentos), garanta uma blindagem ao Planalto. Em outro flanco, o ex-presidente espera atingir a candidatura do tucano José Serra à prefeitura de São Paulo. De 2005 (quando Serra era prefeito) até agora, a construtora já recebeu R$ 329 milhões dos cofres paulistanos.

– Temos de usar a maioria para evitar o que for inconveniente. Unir os aliados, colocar gente de confiança nos postos-chave e não deixar que a CPI contamine o governo – orientou Lula.

Na oposição, o apetite é semelhante. Parlamentares se preparam para esquadrinhar cada um dos contratos da Delta no PAC. O objetivo é chegar em Dilma, que, como ministra da Casa Civil e gerente do programa, monitorava os empreendimentos.

A dúvida que atormenta Brasília é o que pensa e como pretende agir, o homem que, de acordo com a PF, subornava autoridades, municiava a imprensa com denúncias contra desafetos e se valia de uma rede de aliados infiltrados no poder. Não por acaso, o Senado enviou um ofício ao Ministério da Justiça, manifestando preocupação pela vida do contraventor.

FONTE: ZERO HORA (RS)

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