Hoje, 40 milhões de eleitores da França abrem o processo de escolha do
presidente do país para o período 2012-2017.
São dez os candidatos, mas somente dois chegarão ao segundo turno, marcado para
o dia 6 de maio. O conservador Nicolas Sarkozy, em busca da reeleição, e o
socialista François Hollande têm condições práticas de chegar lá. As pesquisas
dão a vitória por folgada margem a Hollande no segundo turno, mas, entre a sela
e o chão - escreveu Graham Greene -, muita coisa pode acontecer.
Sarkozy, o atual presidente, tem contra si o passivo da crise, especialmente
a dívida da França que saltou dos 64% do PIB em 2007 para os atuais 83% do PIB;
mais o rebaixamento da qualidade e forte ameaça de rejeição dos títulos do
Tesouro da França, o que dificulta a rolagem dessa dívida; uma economia
estagnada; indústria sob grave esvaziamento; e desemprego no recorde dos 10% da
população ativa. (Veja, no Confira, a ficha da França.)
O projeto para sair desta crise do sempre elétrico Sarkozy não vai muito
além da meia solução que está sendo montada pelos atuais líderes do bloco do
euro, com a diferença de que, nas últimas semanas, Sarkozy vem reivindicando
passo importante em direção à heterodoxia monetária. Apesar do claro veto
alemão, quer que o Banco Central Europeu (BCE) passe a usar suas impressoras de
euros para financiar Estados superendividados, como a própria a França.
A campanha de Hollande é de hostilidade a tudo o que está aí, mas é gritante
a falta de proposta sobre o que colocar no lugar. Resume-se a dizer não à
austeridade orçamentária; a culpar o sistema financeiro e os excessivamente
folgados bancos, responsáveis pelas lambanças; e a cobrar mais impostos dos
mais ricos, para garantir mais recursos a projetos destinados a tirar a
economia da entalada e criar mais empregos.
O problema é que, por mais esfolados que os ricos venham a ser pelo Fisco
francês, o aumento da arrecadação será insuficiente para reequilibrar as
finanças públicas e acelerar a economia. E, por sua vez, desancar o mercado
financeiro não ajuda a recapitalizar as instituições financeiras, cujo
patrimônio está ameaçado.
Além disso, a atual crise resulta das excessivas despesas e do excessivo
endividamento do Estado - problemas que Hollande parece disposto a acentuar
ainda mais.
Mas no talo da fruta estão as contradições das atuais propostas
macropolíticas da social-democracia. A ideia de fortalecer o Estado para
aumentar a capacidade de fazer políticas esbarra no processo de globalização
crescente e na perda da soberania orçamentária e política que o fortalecimento
do euro está exigindo.
Os ideais da internacional socialista e da união dos trabalhadores de todo o
mundo, por sua vez, esbarram na necessidade de criar empregos para os franceses
e na crescente hostilidade da população contra os imigrantes e as minorias
étnicas.
Em todo o caso, uma coisa é discursar no palanque e outra, bem diferente,
governar. E, nessa tarefa, nem Sarkozy nem Hollande prometem coisas
substancialmente diferentes.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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