Um dos alvos da CPI do
Cachoeira, construtora teve aditivos em l54 das 265 obras com Dnit
Um dos alvos da
Comissão Parlamentar de Inquérito (CPMI) do Cachoeira, a Delta Construções
obteve aditivos que alteraram o valor de quase 60% dos contratos com o Departamento
Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), um dos responsáveis pelas
obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). De um total de 265
empreendimentos, 154 sofreram mudanças no valor original, aumentando o custo
das obras em cerca de R$ 400 milhões, informa o repórter Fábio Fabrini.
Compilados pelo Estado, os dados se referem a manutenção, adequação, duplicação
e implantação de estradas, concluídas ou ainda em andamento. Desde 2004, a
Delta obteve 52 contratos sem licitação, cujos valores alcançam cerca de R$ 328
milhões.
Delta
obteve aumento de preço em 60% dos contratos firmados com Dnit
Alvo de CPI, construtora conseguiu aditivos que elevaram custo original de
obras em R$ 400 milhões; TCU já avaliou que mais de 40% de acréscimos é exagero
Fábio Fabrini
BRASÍLIA - Suspeita de montar uma rede de influência tanto em governos
estaduais como na União, a Delta Construções obteve aditivos que alteraram o
valor de suas obras em quase 60% dos contratos firmados com o Departamento
Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), um dos órgãos que concentram
os investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
De um total de 265 empreendimentos tocados pela empreiteira a serviço da
autarquia responsável pelas rodovias federais, 154 sofreram mudanças no valor
originalmente previsto, custando mais caro na maioria dos casos e aumentando o valor
das obras em cerca de R$ 400 milhões.
Compilados pelo Estado com base em balanço do Dnit sobre os contratos com a
Delta, os dados se referem às obras de manutenção, adequação, duplicação e implantação
de estradas, concluídas ou ainda em andamento. Da relação, constam intervenções
iniciadas de 1996 a 2012. Maior construtora do PAC, com suas atividades
concentradas principalmente no setor rodoviário, a empresa conseguiu contratos
de R$ 4,3 bilhões de lá para cá, dos quais R$ 3 bilhões já foram pagos pela
União.
O protagonismo da Delta no carro-chefe do programa de infraestrutura da
presidente Dilma Rousseff e a existência, segundo a Polícia Federal, de um
"deltaduto" que se aproveitou do circuito financeiro de empresas de
fachada do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, preso na
Operação Monte Carlo, colocaram a empresa como alvo da CPI a ser instalada na
quarta-feira.
Instrumentos previstos para ajustar o preço dos serviços à realidade
encontrada em campo, os aditivos contratuais acrescentaram R$ 395,5 milhões aos
valores originais – aumento de 9,1%. A Lei de Licitações determina limite de
25%, exceto nos casos de conservação ou prestação contínua, cujos acréscimos
podem ser maiores. Técnicos do Dnit sustentam que o porcentual referente à
Delta está dentro do padrão de obras rodoviárias citado na literatura técnica,
que prevê margem de erro de até 15% no preço de intervenções iniciadas a partir
de projetos básicos.
A autarquia também não considera alto o porcentual de obras da Delta com
acréscimos (60%), argumentando que imprecisões de projeto são do dia a dia da
engenharia e impactam os preços. Ao analisar a questão, no entanto, o Tribunal
de Contas da União (TCU) considerou excessiva fatia menor (40%) e concluiu que
os aditivos viraram uma figura "institucionalizada" na autarquia.
Vacina. Os acréscimos contratuais foram uma das fontes da crise que, no ano
passado, derrubou a cúpula do Ministério dos Transportes. Dirigentes do Dnit
foram acusados de cobrar propina para permitir os aditivos, favorecendo
empreiteiras. A proliferação de contratos suspeitos e de grampos da PF
mostrando que agentes a serviço da Delta, como o próprio Cachoeira, operaram
para obter negócios públicos no governo federal e nos Estados levou a
Controladoria-Geral da União (CGU) a começar um processo para transformar a
empresa em inidônea, como revelou ontem o Estado. O movimento reativo da CGU
busca vacinar o governo federal do desgaste da CPI, afastando a Delta dos
contratos federais.
Segundo auditoria aprovada em 2010, de 926 contratos do Dnit vigentes em
2009, 43% sofreram aditivos de valor e 39% tiveram alterações para aumentar o
prazo de entrega das obras – o que também impacta o preço, por causa da necessidade
de correção periódica para atualizar o custo de materiais e serviços empregados
na obra.
Uma das razões, aponta o tribunal, é o tempo excessivo transcorrido entre o
momento em que a obra é projetada e quando, finalmente, sai do papel. Na hora
em que os tratores entram em ação, o esboço feito para o empreendimento já está
obsoleto. Somam-se a isso os estudos mal feitos, que acabam impactando o valor
no momento da execução. "Da amostra analisada, 100% dos contratos foram
aditivados por falhas ou desatualização do projeto", diz o relatório do
TCU.
"Mergulhos". No caso da Delta, um dos motivos para a quantidade de
aditivos, citado por fontes da autarquia, é a estratégia de atuação em
licitações. A empresa é conhecida por "mergulhar" preços para vencer
as concorrências – isto é, oferecer valores abaixo do que se considera viável
–, cobrando acréscimos depois para reequilibrar o contrato.
Um estudo realizado pelo Dnit em 2010 – sob a gestão do ex-diretor-geral
Luiz Antônio Pagot – mostrou que a empreiteira, em média, oferecia desconto de
16% sobre o valor apresentado pelo órgão federal nas disputas, o que
correspondia ao dobro das concorrentes.
A Delta domina principalmente a manutenção rodoviária no Dnit, tendo obtido,
segundo o balanço da autarquia, R$ 3,4 bilhões em contratos nessa área, ou 80%
do total que pactuou. Os pagamentos alcançaram R$ 2,6 bilhões – 85% do total.
A nova cúpula do Dnit, que assumiu após a "faxina" promovida pela
presidente Dilma Rousseff em 2011, diz que mudanças na estrutura vão melhorar a
precisão das obras e reduzir a necessidade de acréscimos contratuais. Uma das
medidas é a obrigação de se licitar obras apenas a partir de projetos
executivos, considerados mais exatos que os básicos, usados como referência
anteriormente. Além disso, a autarquia informa que a compra de softwares para a
elaboração de projetos e a capacitação de pessoal, já em curso, vai melhorar a
performance e evitar distorções de preço.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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