Pobres-diabos
sempre com fome — ou com fome de almoço, ou com fome de celebridade, ou com
fome das sobremesas da vida. Quem os ouve, e os não conhece, julga estar escutando
os mestres de Napoleão e os instrutores de Shakespeare.
Tenho a náusea
física da humanidade vulgar, que é, aliás, a única que há. E capricho, às
vezes, em aprofundar essa náusea, como se pode provocar um vômito para aliviar
a vontade de vomitar.
Um dos meus
passeios prediletos, nas manhãs em que temo a banalidade do dia que vai seguir
como quem teme a cadeia, é o de seguir lentamente pelas ruas fora, antes da abertura
das lojas e dos armazéns, e ouvir os farrapos de frases que os outros de
raparigas, de rapazes, e de uns com outras, deixam cair, como esmolas da
ironia, na escola invisível da minha meditação aberta.
Agir, eis a
inteligência verdadeira. Serei o que quiser. Mas tenho que querer o que for. O
êxito está em ter êxito, e não em ter condições de êxito. Condições de palácio
tem qualquer terra larga, mas onde estará o palácio se o não ficarem ali ?
PESSOA, Fernando
(Lisboa, 13 de Junho
de 1888 — Lisboa, 30 de
Novembro de 1935),
foi um poeta e
escritor português).
Livro do Desassossego, p. 57,61,63. Editora Brasiliense, São Paulo, 1986
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