• Nomes citados na Lava-Jato, no mensalão e no caso PC Farias aparecem como correntistas do HSBC
Chico Otavio, Cristina Tardáguila e Ruben Berta – O Globo
Doleiros citados em escândalos como a Operação Lava-Jato, o mensalão e o caso PC Farias aparecem na lista dos 8.667 brasileiros que tinham contas numeradas no HSBC da Suíça em 2006/2007. Em todos os casos, eles foram investigados pela suspeita de terem operado dinheiro de origem duvidosa e acobertado operações financeiras ilegais. Os citados negam irregularidades.
Na base de dados do HSBC suíço, vazada em 2008 por um ex-funcionário do banco, aparecem Henrique José Chueke e sua filha, Lisabelle Chueke (caso PC Farias); Favel Bergman Vianna e Oscar Frederico Jager (propinoduto); Benjamin Katz (Banestado); Dario Messer (mensalão); Raul Henrique Srour (Lava-Jato) e Henoch Zalcberg (Operações Roupa Suja e Sexta-feira 13).
Henrique José Chueke, tido nos anos 1990 como um dos doleiros mais ricos do Rio, foi acusado de ter alimentado as contas do empresário Paulo Cesar Farias, tesoureiro de campanha de Fernando Collor de Melo, e de Ana Acioli, secretária do ex-presidente. Quando o escândalo veio à tona, os jornais publicaram que, só entre maio de 1991 e junho de 1992, o escritório de Chueke, situado no mesmo endereço da Belle Tours, empresa de sua filha Lisabelle, havia recebido 27 telefonemas da EPC, empresa de PC Farias. Nos registros do HSBC, Chueke tinha, em 2006/2007, uma conta com US$ 1,1 milhão.
"Mercado paralelo"
Favel Bergman Vianna e Oscar Frederico Jager foram envolvidos no escândalo do propinoduto, revelado em 2003. Vianna foi assassinado com um tiro dentro de seu Audi, na Avenida Atlântica, no Leme, em março daquele ano - 23 dias depois de o Departamento de Justiça dos Estados Unidos ter bloqueado US$ 9 milhões que ele mantinha em uma conta bancária em Nova York. O bloqueio estabelecido pelos americanos atendia a um pedido da Justiça suíça. Na época, as autoridades brasileiras suspeitaram que a conta de Vianna havia sido usada para remeter ao exterior dinheiro obtido ilegalmente pelos fiscais da Receita envolvidos no escândalo. O Ministério Público Federal também suspeitou que a conta de Vianna servia para lavar dinheiro da contravenção carioca.
Em 2004, os Chuekes, Jager e Vianna apareceram numa ação do Ministério Público Federal decorrente da Operação Farol da Colina, da PF. Eles foram acusados de evasão de divisas, formação de quadrilha e operação de instituição financeira sem autorização.
Nessa ação, Vianna ainda foi acusado pelos procuradores de ter sido sócio de Jager em uma empresa chamada Eleven Finance Corporation, aberta nas Ilhas Virgens Britânicas. Na opinião do MPF, a offshore teria sido criada para administrar uma conta com recursos de operações ilegais de câmbio. Nas planilhas do HSBC, os dois surgem dividindo uma conta identificada pelo nome "Eleven". Ela foi criada em outubro de 1988 e fechada em outubro de 1991. Em 2006/2007, estava zerada.
Benjamin Katz foi investigado pela CPI do Banestado por "operar fortemente no mercado paralelo". Não houve relatório final por divergência entre os membros da comissão. O nome de Katz aparece no caso SwissLeaks ligado a uma conta que durou apenas 15 dias, entre 1 e 16 de outubro de 1991.
No mensalão, o doleiro Antonio Oliveira Claramunt, mais conhecido como Toninho da Barcelona, disse que Dario Messer recebia dólares do PT em sua offshore no Panamá e entregava ao partido o valor correspondente em reais no Banco Rural. Segundo a PF e o Ministério Público Federal, entre 1998 e 2003, Messer enviou irregularmente ao exterior ao menos US$ 1 bilhão. Em 2005, a CPI dos Correios pediu à PF que o localizasse, mas ele havia embarcado para Paris. As planilhas do HSBC indicam que, em 2006/2007, Messer tinha US$ 69 mil depositados na Suíça.
Raul Henrique Srour foi citado na investigação da Operação Lava-Jato. De acordo com o Ministério Público, ele fez parte do grupo do doleiro Alberto Youssef e atuou no mercado negro, fraudando identidades para realizar cerca de 900 operações de câmbio. Segundo os dados do banco suíço, Srour teve três contas, mas todas elas já haviam sido fechadas em 2006/2007.
Henoch Zalcberg foi alvo de duas operações da Polícia Federal, a Roupa Suja e a Sexta-feira 13, realizadas em 2005 e 2009, respectivamente, para desbaratar uma quadrilha acusada de fraudar licitações, evadir divisas e lavar dinheiro. Em 2006/2007, a conta de Zalcberg no HSBC estava zerada.
Herança dos Safra
Nas décadas de 1970 e 1980, como a moeda americana servia para proteger os brasileiros da inflação, parte da classe média brasileira costumava recorrer a doleiros. Com a abertura da economia, a maior parte dessas operações passou a ser feita à luz do dia e sem a ajuda dos doleiros. Mas essa profissão ilegal continua a existir, como se observa nos sucessivo escândalos descobertos pela PF e pelo Ministério Público.
Os doleiros têm hoje basicamente duas funções. A primeira é facilitar operações internacionais que são feitas com dinheiro ilegal. A segunda é acobertar movimentações financeiras feitas por quem quer fugir de taxações ou não tem como comprovar a origem do dinheiro. Há também a operação inversa. Uma pessoa tem dinheiro no exterior e precisa trazê-lo ao Brasil. Nesse caso, o doleiro fica com os dólares que estão lá fora e entrega o valor equivalente, em espécie, aqui no Brasil. A taxa cobrada gira em torno de 2%. O negócio é lucrativo porque, em geral, envolve grandes quantias.
A hipótese mais provável para a presença de doleiros na base de dados do HSBC está relacionada à expansão do banco em território brasileiro na década de 1990. Em 1999, o HSBC adquiriu por cerca de US$ 10 bilhões os bancos Republic New York Corporation, nos Estados Unidos, e o Safra Republic Holding, na Europa. Ambos pertenciam ao banqueiro Edmond Safra - irmão de Joseph e Moise Safra, donos do Banco Safra no Brasil.
Durante muitos anos, os brasileiros enxergaram na família Safra um sinônimo de segurança para guardar suas fortunas. Quando o HSBC assumiu as carteiras do Republic New York e do Safra Republic Holding, muitos clientes brasileiros foram juntos. Os arquivos do HSBC foram vazados em 2008 por um ex-funcionário do banco.
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