- O Estado de S. Paulo
Quando o governo parece ter esgotado sua cota de tiros no pé, eis que alguém no Palácio do Planalto renova o estoque e põe em uso a máxima de Millôr Fernandes sobre a miopia funcional de determinadas autoridades: “Sua excelência chegou ao limite da ignorância e, no entanto, prosseguiu”.
No caso da presidente Dilma Rousseff e seus conselheiros, chegaram ao limite da capacidade de errar, mas optaram por seguir adiante no caminho torto do equívoco. A despeito de opções mais razoáveis, diante do abismo escolhem dar um passo à frente. Comprovam a ideia de que o que é ruim, com algum esforço, sempre pode piorar.
Dilma não ganha uma e isso impressiona a todos. Busca-se, em todas as rodas de conversa, a razão para tal coleção de fracassos. O exame detalhado do cenário indica, no mínimo, a existência de dois erros de origem: o pressuposto de que o poder do governo seja maior do que verdadeiramente é, e a cegueira e a surdez para o mundo ao redor.
A presidente tem, em seu entorno, bons conselheiros, gente de visão, com acuidade estratégica para analisar o quadro e orientar os passos. De memória, cito três: Delcídio Amaral, líder do governo no Senado, Aldo Rebelo, ministro da Defesa, e Jaques Wagner, chefe da Casa Civil.
Delcídio já a alertou sobre a necessidade de “zerar” o governo e, sempre que pode, vale-se da proximidade pessoal para dar a Dilma a dimensão do desastre. Aldo tem um diagnóstico preciso sobre o erro de origem: “O governo subestimou a política e superestimou a força do PT”. Wagner tomou posse na Casa Civil com discurso de conciliação, em claro antagonismo ao estilo do antecessor.
A presidente, no entanto, prefere ouvir os maus conselhos de Aloizio Mercadante, Miguel Rossetto e outros cuja percepção da realidade é tão torta quanto a dela. Dilma escuta quem lhe diz o que ela quer ouvir. O problema é que ela pensa mal. Característica evidenciada pela fala atrapalhada.
Pensamento confuso resulta em expressão oral desordenada. Os “gênios” dos quais a presidente se cerca são tão míopes quanto indomáveis. Assim como ela, que autorizou fabulações insustentáveis.
A começar pela lenda da “faxina” ética de brevíssima duração. Método herdado do antecessor e mentor. Na confrontação entre fato e versão, Dilma teve a primeira grande derrota quando precisou voltar atrás e a sociedade começou a perceber a falsidade das coisas. Ali teve início a derrocada, mas o PT não percebeu.
Continuou atuando - e aí dando incentivo à presidente - como se os tempos ainda fossem os de Lula, quando todas as bobagens podiam ser ditas e todos atentados (à lógica, às instituições, à ética, à civilidade, à democracia) podiam ser cometidos em nome da “justiça social”, não obstante capas pretas do PT estarem naquela altura prestes a dar expediente na cadeia.
O partido, o governo, a presidente já não podiam comprar as brigas contratadas por Luiz Inácio da Silva. Teria sido a hora de perceber e parar. No entanto, prosseguiram. Compraram a briga perdida com Eduardo Cunha, compraram a derrota antecipada na tentativa de alijar o PMDB, compraram uma batalha contra o ministro da Fazenda, compraram confronto com o Legislativo, com o Judiciário, com a verdade, de onde saíram da realidade e deram-se perfeitamente mal.
Aliança maldita. Enquanto a oposição der o benefício da dúvida ao presidente da Câmara, vai sofrer o malefício da certeza exposta nas provas sobre a existência das contas na Suíça.
Da onça. Eduardo Cunha já avisou a quem de direito no poder: se cair, não cai sozinho.
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