- O Estado de S. Paulo
A crise persiste, a turbulência resiste e os conflitos de natureza política ainda insistem em marcar presença no ambiente de maneira contundente. Ciente do cenário nacional ainda conturbado em que assumirá amanhã a presidência do Supremo Tribunal Federal, a ministra Cármen Lúcia Antunes Rocha – mineira de Montes Claros, onde nasceu há 62 anos sob o signo de Áries – fará um discurso de panos quentes, no sentido da união do País, do fim da ideia da divisão entre “nós” e “eles”.
Ela acredita que a fala estará em sintonia com o anseio da maioria da população e irá ao encontro da necessidade mais urgente do Brasil: a pacificação entre as forças políticas (sem prejuízo do exercício da oposição e da liberdade de expressão) e a harmonia entre os Poderes. Notadamente no âmbito do Judiciário – aqui entendido o destaque ao tribunal que presidirá pelos próximos dois anos.
A despeito das posições firmes e declarações de clareza indubitável – é da autoria dela o conceito expresso durante o julgamento do mensalão sobre o caráter criminoso do uso de caixa 2 nas campanhas eleitorais – a ministra no primeiro momento evitará alimentar polêmicas. O que não significa que não as “comprará” adiante, ao longo do mandato.
Quando chamada a se manifestar, em duas delas certamente enfrentará resistências entre magistrados: aumento do teto salarial do Poder Judiciário (em tramitação no Congresso). Cármen Lúcia é contra o reajuste, pelo mesma razão que decidiu deixar de lado a tradicional festa de comemoração da posse de presidentes do Supremo. Não é hora de gastar, de reivindicar vantagens nem de simular prosperidade em momento de privação geral na economia.
A nova presidente do Supremo Tribunal Federal também contraria boa parte de seus pares ao se opor à concessão de auxílio-moradia, ao menos para a magistratura de instância superior. Para dar o exemplo, deixou o apartamento funcional e comprou uma casa em Brasília. Financiada. Tais características não fazem de Cármen Lúcia uma heroína: são convicções de uma mulher culta, mas comum, em universo de gente que se considera incomum. De onde, provocará estranheza.
Desculpa esfarrapada. Para Eduardo Cunha melhor seria que o menor número de deputados comparecesse à sessão marcada amanhã, cuja pauta é a cassação de seu mandato. Ausências o favorecem.
Os aliados dele simplesmente não irão. Os adversários fazem campanha para assegurar presenças. No meio disso há os mais interessados nas eleições municipais. São instados a comparecer sob o argumento de que o eleitorado não lhes perdoará a ausência.
A isso respondem: em 2018, ninguém vai se lembrar de quem votou ou deixou de votar na cassação de Eduardo Cunha, mas em 2016 o prefeito, de quem depende a eleição futura do deputado, lhes cobrará presença imediata.
Com essa justificativa, muitos irão se ausentar dizendo que o motivo foi o atendimento às bases.
Terrenos na lua. Os primeiros movimentos pós-impeachment do PT indicam que o partido continua operando no campo da fantasia.
Pede que o Supremo anule o julgamento, a despeito das constantes negativas; insiste na “denúncia” internacional do golpe, cuja tendência é cair no vazio diante da crescente recusa dos países de aceitar a tese; propõe campanha por eleições diretas já sabendo da impossibilidade constitucional da empreitada.
Tais propostas animam o auditório, mas não prestam bom serviço à necessidade de o PT recuperar credibilidade junto à sociedade.
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