Após minimizar os protestos contra seu governo, Temer disse que é preciso respeitar ‘o movimento popular que está na rua’, mas afirmou que ‘o golpe não pegou’, por ser movimento político
• Como o senhor vê o aparente crescimento dos protestos de rua?
Com naturalidade. Primeiro, o rescaldo do impeachment, pois é um ato politicamente doloroso pra quem sai. Estou aqui por razões constitucionais. Sempre se fala: “Ah, mas o Temer não foi eleito”. A eleição se deu com apoio do PMDB, nós ganhamos a eleição por 3,2 milhões de votos. Sem o PMDB, a campanha perderia 4 minutos e meio de rádio e televisão. Tivemos ainda 23 diretórios estaduais apoiando. Será que esses estados não deram 1,6 milhão de votos para a chapa?
• Mas os protestos cresceram. Podem inviabilizar o governo?
A notícia que eu tinha era de um pessoal que saiu queimando pneu e destruindo carros, os chamados black blocs, e eu respondi: “Olha, são pessoas que se reúnem para depredar”. Depredação é delito. Depois, quando saíram milhares de pessoas às ruas, nós começamos a dizer: tem que se respeitar. Agora, tem uma significação política muito grande, porque é uma oposição a quem está no poder. Aqui também tem um movimento que quer derrubar o governo, por uma via transversal, que não é constitucional: fazer eleições agora. O jeito é irmos tranquilamente até 2018, e em 2018 se faz nova eleição.
• Há processo no TSE sobre supostos crimes cometidos na eleição de 2014. O senhor teme que o tribunal condene a chapa?
Eu não participei das arrecadações da campanha presidencial. Se o TSE resolver cassar a chapa, vou obedecer. Mas é claro que usarei de todos os recursos. Tenho uma tese de que a Vice-Presidência é apartada da figura institucional da presidente. Agora, se acontecer, aconteceu. Entrego sem maiores problemas.
• Não é incoerente o senhor falar que do ponto de vista do eleitor o voto é numa chapa única e no ponto de vista do julgamento das contas as coisas serem apartadas?
Não, basta ler a Constituição. Qual é a razão, no regime presidencialista, de um vice-presidente? É para ter a ideia da estabilidade. Se acontecer alguma coisa para o presidente, tem o vice-presidente, que, em regra, nos regimes presidencialistas sérios, acompanha tudo o que acontece com o Estado, que ele ajuda a dirigir. Reconheço que a decisão do Tribunal Superior Eleitoral tem sido na direção do chamado “arrastamento”, ele arrasta com ele a figura do presidente.
• O governo vai combater o termo “golpista”?
Acho que o golpe não pegou. Pegou como movimento político. Como movimento político é bem pensado até. Eu quero que explique o golpe (sobe o tom, bate na mesa seguidas vezes). Eu quero debater o golpe, quero que tenham argumentos. Porque o que está infernal no Brasil é essa irascibilidade. Isso está infernizando o país. Me digam qual é o golpe? Eu só quero governar. Para mim, é honroso (assumir a Presidência). Não é questão de vida ou morte. Há hipótese de o senhor ser candidato (em 2018)? Não, não. Longe de mim.
• O senhor assinaria um compromisso público dizendo que não será candidato?
Não, isso não faço porque todo mundo que assina não cumpre. Quando eu assinar, todo mundo vai dizer: olha aí, ele vai ser presidente.
• O senhor não citou o nome Dilma até agora. Por quê?
Eu trato da senhora presidente da República. Dilma? Quer que eu... Não tem problema: Dilma Vana Rousseff.
• Por que não usou a faixa no Sete de Setembro?
Sou meio contrário a certas coisas. Primeiro, é preciso muita discrição. Usar a faixa significaria uma soberba nesse momento.
• Mas o senhor é presidente.
Não deixo de ser presidente por não usar a faixa.
• É questão institucional.
Claro. Quando eu for passar a faixa, daí eu uso.
• E o retrato?
Sabe que estou pensando seriamente… Sou meio contra pôr meu retrato nas repartições. Primeiro porque toda vez que vejo um retrato meu na parede parece que eu já morri (risos). É um culto à personalidade.
• O que sentiu ao ser vaiado no Maracanã?
Eu fui preparado, chamei as vaias. Quando vim ao Rio (antes da abertura), alguém gritou: “O senhor não vem ao encerramento com medo das vaias?” Eu disse: “Reservem as vaias para a Paralimpíada, porque eu virei”. Vim preparadíssimo.
• E quando vocês se mudam para o Alvorada?
Vou esperar um pouco.
• Por quê?
Eu estou tão bem lá no Jaburu (Palácio do Jaburu, residência do vice), tem muito jeito de casa…
• O senhor parece incomodado com ritos do cargo…
Uma certa simbologia, digamos assim, reveladora da autoridade. Você precisa ter o símbolo para ser autoridade? Ou eu sou autoridade por conta própria, ou não é o símbolo que vai me fazer autoridade.
• Em que medida uma eventual delação do expresidente da Câmara Eduardo Cunha pode gerar constrangimentos ou uma crise no governo do senhor?
Acho que não gerará nenhum constrangimento, mas é um simples achismo.
Ele tem lhe procurado?
Nos últimos dias, não me procurou. Mas eu falava muito com ele. As pessoas têm medo às vezes de dizer isso. Eu falo com todas as pessoas, não posso ter essas limitações. Ele (Cunha) não tem me procurado, se me procurar eu falo. Não tem nenhum inconveniente. O que ele pode me pedir? Pedir para ajudá-lo. (Alan Gripp, Catarina Alencastro, Ilimar Franco, Paulo Celso Pereira, Sergio Fadul e Silvia Fonseca)
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