Momento político e econômico do país é difícil, mas administrável
Foram longos e difíceis os dias transcorridos desde que se iniciou a paralisação dos caminhoneiros. A partir de 21 de maio, o país conviveu com uma situação marcada por casos de desabastecimento, riscos de colapso em serviços essenciais, crescentes prejuízos e episódios de vandalismo.
O problema só pôde ser resolvido com o recurso à intervenção, esporádica e cuidadosa, das forças de segurança e, em especial, com a decisão governamental de fazer concessões econômicas —de alto custo— aos manifestantes.
Com tudo o que tinha de abusivo, o movimento paredista obteve significativo apoio da população, que parece ter visto no fenômeno uma forma de traduzir seu próprio sentimento de oposição a um governo fragilizado por gravíssimas denúncias e suspeitas.
O retorno à normalidade, que se faz com alívio, segurança e sacrifício, depende de que se coloque dentro de uma perspectiva mais ampla aquele período inquietante.
A cinco meses das eleições, o país não se encontra numa crise com as proporções verificadas, por exemplo, no final do governo Sarney, depois do fracasso do Plano Collor, ou no segundo mandato de Dilma Rousseff (PT).
Nos últimos dois anos, obtiveram-se vitórias importantes contra a inflação; a taxa de juros nunca esteve tão baixa; os sinais de uma retomada do crescimento, ainda que tênues, não têm tido reversão.
Não são insolúveis, muito ao contrário, os obstáculos que se antepõem a uma recuperação mais sólida do desenvolvimento. Concentram-se na grave permanência de um desajuste nas contas públicas, cujo enfrentamento, como se sabe, exige reformas profundas.
Impõem-se uma visível melhora no ambiente para os negócios, uma ampla simplificação tributária e a adoção de novos padrões de controle, transparência e eficiência gerencial do Estado.
Ainda que complexos e raramente consensuais, itens desse tipo pertencem tipicamente aos debates que surgem às vésperas de uma disputa presidencial. Não faltam candidatos e, por mais que seja incipiente a campanha, espera-se, de cada um, que apresente propostas para esses desafios.
Com todo o descrédito vivido pelos representantes eleitos, é inegável que as instituições do país permanecem sólidas e em constante aperfeiçoamento. O combate à corrupção, se traz o efeito exasperante de revelar um escândalo atrás do outro, não é senão o sinal de que se evolui no rumo de uma política mais republicana.
O momento demanda responsabilidade, em particular dos presidenciáveis. É hora de serenar os ânimos: as soluções para o país, que existem, só serão implementadas nos marcos de um debate lúcido, pacífico e democrático.
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