sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Bruno Boghossian: À beira do precipício

- Folha de S. Paulo

Ataque a Bolsonaro abre dois caminhos: uma barreira de contenção e um precipício

O processo democrático rola ladeira abaixo com o atentado a Jair Bolsonaro (PSL). O ataque a faca ao candidato cristaliza o ambiente radicalizado que domina o país e confere traços primitivos à disputa política. Há dois caminhos no fim dessa descida: uma barreira de contenção e um precipício.

O acirramento do debate eleitoral produziu um estado de anomalia em que um cidadão julgou ser legítima a tentativa de eliminar com violência um adversário. A polarização política, nutrida por anos, abriu espaço para a convicção absurda de que a força poderia ser usada para calar alguém que pensa diferente.

Pouco importa agora se Bolsonaro tem posições radicais ou se é intolerante; ou se o autor do atentado tem problemas psicológicos. A arena política saiu do controle. Cabe aos protagonistas dessa cena a tarefa de domar o monstro —ainda que nenhum deles queira ou deva assumir sozinho sua paternidade.

Se o ataque não servir para que os líderes percebam que a radicalização precisa ser contida, e não alimentada em troca de benefícios eleitorais, desceremos os últimos metros rumo à barbárie absoluta.

Dilma Rousseff, que viu de perto a ebulição desse processo, resolveu mergulhar no abismo: “O ódio, quando se planta, você colhe tempestade”. Sem um repúdio veemente, a ex-presidente se absteve de participar de um debate político razoável.

O freio do carro desgovernado também repousa sob os pés do time de Bolsonaro. Por descuido ou vontade, três de seus principais aliados pisaram no acelerador. O vice Hamilton Mourão, o senador Magno Malta e o advogado Gustavo Bebianno ameaçaram instigar divisões. “Agora é guerra”, disse o último.

Alguém acha aceitável que a eleição se transforme em batalha campal? Ainda que Bolsonaro soe antidemocrático para uma parcela significativa do eleitorado, ele tem direito de participar da disputa e defender suas plataformas —não só porque muitos o apoiam, mas porque não há outra forma de democracia.

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