- Folha de S. Paulo
Negociação e diálogo são os únicos meios para o país começar a sair do buraco em que caiu
Do jeito que vão as coisas, o Brasil vai acabar se afogando em um mar de bílis. O ataque a Jair Bolsonaro é a mais recente —e talvez a mais grave evidência— de que o ódio impregnou de tal maneira partes substanciais da sociedade que qualquer hipótese de conciliação se torna perto de impossível.
Não é porque Bolsonaro foi a vítima que deixa de ser também responsável por essa maré montante de ódio. Quem, como ele, sugere “metralhar” petistas está semeando a intolerância. Não estou dizendo que haja uma relação de causa e efeito entre a frase do candidato e o ataque a ele. Seria estúpido dizer que a culpa pelo atentado é da vítima.
Não é isso. O que existe é um ambiente de radicalização horroroso pelo qual todos os partidos são de alguma forma responsáveis.
Pode até ser que o criminoso não tenha sido movido pela política (o fato de ter sido militante do PSOL entre 2007 e 2014, não quer dizer que o partido é responsável).
Pode ter sido um ato insano, mas é óbvio que o ambiente de ódio de que o Brasil foi se impregnando mais e mais aplaina o caminho para insanidades.
O que assusta, nesse ambiente, é que se abandona a evidência de que a política não pode ser feita com o fígado, o que é de uma obviedade imensa, mas perdida no caminho. Não há outro meio para pelo menos começar a sair do buraco em que o país caiu a não ser a negociação e o diálogo.
Dois fatos para demonstrar essa necessidade: primeiro, a reforma da Previdência, que a maioria considera indispensável, embora haja discordâncias sobre a maneira de fazê-la. Se líderes autocráticos como Vladimir Putin e Daniel Ortega não conseguiram fazer as reformas que anunciaram, como é que a democracia brasileira a fará sem um diálogo franco, honesto e desarmado?
Segundo, não há no Brasil uma maioria política capaz de impor suas posições. Basta lembrar que nem mesmo no segundo turno das eleições mais recentes (2002, 2006, 2010 e 2014) houve maioria absoluta do eleitorado a favor do presidente afinal eleito.
Houve apenas maioria absoluta dos votos válidos, o que está longe de representar a maioria do eleitorado.
Logo ou há diálogo e negociação entre as parcelas majoritária e minoritárias ou o mar de bílis se transformará em um tsunami.
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