- O Globo
Fica a pergunta: após o ataque, o eleitor vai mesmo apostar em mais radicalismo?
Desde o momento em que Adélio Bispo de Oliveira estocou o presidenciável Jair Bolsonaro nas ruas de Juiz de Fora, previsões sobre o impacto eleitoral do atentado começaram a pipocar. O “mercado”, sempre ele, aproveitou para especular em cima de palpites sobre o eventual fortalecimento da direita, da esquerda, do capitão reformado ou de seus opositores. Na roleta financeira, mais importante que o resultado final é acertar qual será o efeito manada dos demais apostadores.
O resultado prático do atentado é imprevisível, por envolver um sem-número de variáveis.
Como estará a saúde do presidenciável nos próximos dias e semanas? Bolsonaro voltará à campanha? Em quanto tempo? Estará nos debates? E sua postura será beligerante? Ou adotará um “Bolsonaro paz e amor”? E como seus adversários abordarão a situação do deputado? Voltarão a lembrar suas falas polêmicas?
Existe, no entanto, outra questão ainda mais importante: qual será a postura do eleitor brasileiro a partir de agora?
A beligerância política que dominou o país desde que “o gigante acordou” nos protestos de 2013, com a ascensão dos grupos radicais de black blocs, foi levada ao paroxismo no atentado de ontem. Nos cinco anos que separam os dois fatos, o país mudou radicalmente. Ocorreu a mais belicosa e disputada eleição presidencial desde 1989, seguida por um impeachment presidencial e pelo esfacelamento dos principais partidos por denúncias de corrupção. Lula foi preso, e três dos outros quatro ex-presidente vivos foram denunciados à Justiça. O atual presidente da República só não virou réu porque foi salvo pelo Congresso Nacional.
Nesse meio tempo, a tão alardeada cordialidade brasileira foi banida das redes sociais, que se tornaram terreno baldio para vozes radicais no país outrora tido como pouco politizado. No mundo real, a crise política alimentou uma das mais graves recessões econômicas de nossa História, que deixa hoje um saldo de 13 milhões de desempregados. Fica então a pergunta: após o ataque de ontem, o eleitor vai mesmo apostar em mais radicalismo?
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