Atentado a Bolsonaro tem de servir de marco para a descompressão da campanha
Apolítica brasileira tem um lado B de violência na sua história que não pode ressurgir. O atentado contra o candidato Jair Bolsonaro (PSL), em Juiz de Fora, esfaqueado quando era carregado nos ombros por correligionários, foi corretamente repudiado por todos os principais concorrentes na disputa pelo Palácio do Planalto.
Presidentes de poderes, Michel Temer, do Executivo; Eunício Oliveira, do Congresso e Senado; Rodrigo Maia, da Câmara; Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, também se pronunciaram. Justifica-se a reação, porque é inadmissível o risco da volta a um passado antidemocrático e de intolerância sistêmica.
Além de tudo, é inaceitável que isso ocorra quando o país se prepara para realizar a sua sétima eleição direta, depois de institucionalizada a redemocratização pela Constituição promulgada em 1988. São três décadas de estabilidade que precisam ser defendidas e incorporadas pela sociedade como patrimônio da nação.
As primeiras informações indicam que o responsável pelo atentado, Adélio Bispo de Oliveira, preso pela Polícia Federal, é uma pessoa desequilibrada. Há, ainda, registros na internet, em seu nome, de ideias confusas.
Isso, porém, não reduz a importância do crime, suas implicações políticas e institucionais. A cena do ataque ao candidato faz o país voltar a momentos da República Velha em que a política era exercida sem apreço a valores de uma real democracia. Mas tudo evoluiu, não sem elevados custos — entre eles, o conflito armado entre constitucionalistas de São Paulo e o governo Vargas; o Estado Novo varguista, algumas escaramuças militares, até a ditadura militar de 64, uma noite que durou 21 anos.
E não será um desatino que causará qualquer retrocesso no fortalecimento das instituições republicanas. Mas é preciso enfrentar o clima de exacerbação, de confronto e de intolerância que começa a ficar mais denso.
O fato remete, ainda, à necessidade da condução da campanha dentro dos limites da convivência civilizada entre contrários, do respeito às divergências. Nada que seja novidade nestes 30 anos de estado democrático de direito. Afinal, o Brasil tem evoluído em plena democracia, com natural rodízio no poder de forças políticas diversas.
O atentado serve para que todos, em especial políticos e militantes envolvidos na campanha, reflitam sobre o que está em jogo e tratem de conter qualquer ato de inspiração autoritária e ilegal.
O ambiente político-eleitoral tornou-se particularmente tenso devido à inevitável impugnação legal da candidatura do ex-presidente Lula, com base na Ficha Limpa. Mas tudo transcorre como deve ser, nos tribunais. Não é assunto a ser resolvido nas ruas. Nem, por óbvio, rejeição a candidatos.
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