- Valor Econômico
Atividade estaria sendo prejudicada por incerteza política
Um número crescente de analistas do mercado financeiro vem revisando para baixo as suas projeções para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, a maioria para percentuais entre 1% e 1,5%. A economia ainda mais fraca do que o previsto será suficiente para levar o Banco Central a retomar os cortes de juros?
Pela forma como o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC informou que pretende agir, não bastaria a economia decepcionar para decidir por mais estímulos. Importa muito o seu julgamento sobre o que está levando à frustração da atividade econômica. Além disso, as incertezas sobre a atividade econômica não determinariam, por si só, a direção das decisões sobre juros. Esse risco baixista para a inflação se equilibra com dois riscos do lado negativo, o andamento das reformas e o ambiente internacional.
Nos seus documentos oficiais, o BC informou que precisa avaliar a economia livre dos choques e incertezas que a atingiram no ano passado. Provavelmente, o Copom vai cortar os juros se concluir que os estímulos monetários feitos até agora não foram suficientes para fazer a economia reagir e levar a inflação para as metas, desde que os fatores de risco do lado negativo não atrapalhem. Se a economia não estiver crescendo porque está emperrada por choques e incertezas, não há muito o que o BC possa fazer.
Num regime de metas para a inflação, bancos centrais não reagem diretamente à atividade econômica. O crescimento do PIB é levado em consideração na medida em que afeta as projeções de inflação. Um estudo divulgado pelo Banco Central em março de 2018 mostra que choques provocados por incerteza têm um efeito inflacionário nos trimestres mais imediatos, e apenas num prazo mais longo a desaceleração da economia leva a recuo no índice de preços.
O BC não fez nenhuma atualização de sua leitura sobre os dados econômicos e, provavelmente, não apresentará um diagnóstico definitivo na reunião do Copom marcada para daqui a duas semanas, já que o colegiado avisou que precisa de tempo para estudar a situação. Muitas das avaliações qualitativas feitas pelos analistas do mercado sobre a decepção na expansão do PIB, porém, estão relacionadas com incertezas na interação entre a política e a economia.
O consumo das famílias vem crescendo, ainda que não seja nada extraordinário, e o setor de serviços também mostra expansão moderada. O que tem decepcionado são, do lado da demanda, os investimentos e, do lado da oferta, a indústria. Logo depois da eleição do presidente Jair Bolsonaro, houve um expressivo aumento na confiança empresarial, baseado na crença de que o novo governo seria capaz de aprovar reformas para o equilíbrio fiscal e para o aumento da produtividade.
Mais recentemente, porém, o índice de confiança recuou, muito provavelmente devido à incapacidade do governo de mobilizar uma base de apoio no Congresso. A suspensão do reajuste do diesel levantou suspeitas sobre o real compromisso de Bolsonaro com a agenda liberal. Boa parte do mal entendido foi desfeita com a liberação do reajuste, mas não de todo, já que a Petrobras levou cerca de um centavo a menos do que o valor inicialmente pretendido (em 2015, o então ministro da Fazenda, Joaquim Levy, começou a cair quando a presidente Dilma Rousseff decidiu por fazer um congelamento de R$ 69,9 bilhões no Orçamento, em vez dos R$ 70 bilhões que ele defendia). Um bom desfecho das reformas no Congresso seria capaz de dissipar as dúvidas, mas o que aconteceu até agora já tem implicações concretas sobre a economia.
Alguns analistas econômicos chamam a atenção para o fato de que a concessão de crédito vem fraquejando nos últimos meses, um sinal de que o estímulo monetário não estaria se transmitindo da forma esperada. Será necessário, porém, mais dados para concluir que houve uma virada no mercado de crédito. Linhas de crédito com garantias crescem mais forte, como empréstimos consignado, financiamentos de veículos, imobiliário e antecipação de faturas de cartões de crédito.
Sem desprezar as chances de o alto grau de ociosidade da economia levar a mais cortes de juros, é bom pontuar que esse não é o único risco no radar do Copom - se fosse, o balanço de risco seria assimétrico, não simétrico, como foi comunicado na mais recente reunião do colegiado.
Entre esta e a próxima semana, o BC vai encaminhar ao mercado seu habitual questionário pré-Copom, no qual deverá perguntar as expectativas quanto à aprovação de reformas estruturais. Certamente, não serão melhores do que na reunião de março, a menos que se confirmem as expectativas do fechamento do mercado na véspera do feriado de que o presidente poderá partilhar ministérios com partido da base.
Quanto ao cenário externo, o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê um pouso suave da economia mundial, com um recuo do crescimento de 3,6% em 2018 para 3,3% em 2019. Se esse cenário se confirmar, seria o mais favorável para as economias emergentes. Na última entrevista do Relatório de Inflação, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse que, se a economia global sofrer uma queda abrupta, a aversão de risco aumentará, prejudicando os emergentes. Quedas mais suaves favorecem emergentes, na medida em que as economias avançadas mantêm um grau mais alto de estímulos monetários.
O FMI argumentou que a ampliação da liquidez internacional já está favorecendo os emergentes. O Brasil, porém, tem ficado fora desse fluxo de capitais. Há duas explicações para isso: os investidores estrangeiros estariam mais cautelosos após repetidas promessas não cumpridas de aprovação da reforma da Previdência; e os juros internos estariam muito baixos, reduzindo a atratividade do país.
Mas esse cenário benigno é, por ora, apenas um pensamento positivo - a experiência mostra que é bem mais comum o pouso forçado das economias do que o pouso suave. O Banco Central tem alertado que o risco de frustração na aprovação das reformas preocupa, em especial, se for acompanhado com uma virada de humor para economias emergentes.
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