“Os utopistas, na medida em que exprimiam
uma crítica da sociedade existente em seu tempo; compreendiam muito bem que o
Estado-classe não podia ser a sociedade regulada, tanto é verdade que nos tipos
de sociedade pensados pelas diversas utopias introduz-se a igualdade econômica
como base necessária da reforma projetada: nisto os utopistas não eram
utopistas, mas cientistas concretos da política e críticos coerentes. O caráter
utópico de alguns deles era dado pelo fato de que consideravam possível introduzir
a igualdade econômica com leis arbitrárias, com um ato de vontade, etc. Mas
permanece exato o conceito, que também se encontra: em outros escritores de
política (inclusive de direita, isto é, nos críticos da democracia, na medida
em que ela se serve do modelo suíço ou dinamarquês para estabelecer o sistema
razoável para todos os países), de que não pode existir igualdade política
completa e perfeita sem igualdade econômica: nos escritores do século XVII,
este conceito pode ser encontrado, por exemplo, em Ludovico Zuccolo e em seu
livro Il Belluzzi, e creio também que em Maquiavel. Maurras considera que na
Suíça é possível aquela determinada forma de democracia, exatamente porque há
uma certa mediocridade das fortunas econômicas, etc. A confusão entre
Estado-classe e sociedade regulada é própria das classes médias e dos pequenos
intelectuais, que se sentiriam felizes com uma regulação qualquer que impedisse
as lutas agudas e as catástrofes: é concepção tipicamente reacionária e
retrógrada.”
*Antonio Gramsci
(1891-1937). Cadernos do Cárcere, v.3. p.224. Civilização Brasileira, 2007.
Um comentário:
Eu tenho uma certa dificuldade em entender o pensamento dos grandes pensadores.
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