Folha de S. Paulo
Eleição em dois turnos reduz riscos de
fragmentação de uma das alas ideológicas
Introdução de voto valorativo permitiria superar quadro de polarização cristalizada
Se a direita sair dividida para a disputa
presidencial do ano que vem, o maior beneficiário será Lula?
Eu subscreveria essa tese, se nosso pleito fosse decidido em turno único. Não sendo
esse o caso, discrepo.
Qualquer que seja o nome do candidato da direita que passar para o segundo escrutínio, ele receberá o voto até dos bolsonaristas mais radicais que agora esperneiam e acusam traições generalizadas. É o que acaba de ocorrer no Chile. A direita saiu dividida, a esquerda chegou à frente, mas é o candidato pinochetista que desponta como favorito na disputa final, já que a soma dos votos conservadores supera com folga a dos progressistas.
O quadro até poderia ser outro se houvesse
aqui dois candidatos de esquerda viáveis, que acabassem à frente dos
postulantes de uma direita hiperfragmentada. Esse, porém, me parece um cenário
extremamente improvável. Alguém imagina um segundo turno entre Lula e um
representante do PSB?
O resumo da história é que a direita abstrata
já tem lugar assegurado no segundo turno. Individualmente, porém, cada um dos
postulantes conservadores precisa evitar o veto do clã Bolsonaro,
que ainda tem força eleitoral suficiente para inviabilizar uma candidatura. Mas
apenas uma. Eles não conseguem tirar todos os direitistas da jogada ao mesmo
tempo. É essa incerteza individual que vem impedindo a direita abstrata de dar
um pé na bunda definitivo em Bolsonaro.
A introdução do sistema de votação em dois
turnos foi um avanço democrático, pois deu ao eleitor, que já tinha o poder de
apoiar um candidato, o de rejeitar um dos concorrentes mais votados. Seria
matematicamente possível avançar mais, adotando algum sistema de
voto valorativo, que daria ao eleitor a possibilidade de ponderar
sua escolha. Um terceiro colocado na preferência da maioria pode ser uma opção
mais aceitável do que os dois primeiros com altíssima rejeição.
Seria uma fórmula para superar o quadro de
polarização cristalizada dos últimos anos, mas é um tema que nenhum político
coloca.
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