quarta-feira, 26 de novembro de 2025

As excelências estão zangadas, por Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Não há mistério algum nas escaramuças dos presidentes da Câmara e do Senado com líderes petistas

Lula é candidato, enquanto Motta e Alcolumbre são de partidos que estarão em palanque adversário

Os presidentes da Câmara e do Senado trocaram de mal com dois petistas com papel de liderança do Congresso, respectivamente o deputado Lindbergh Farias, líder do PT, e o senador Jaques Wagner, líder do governo. A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT), também andaria se estranhando com Hugo Motta (Republicanos).

As alegações correntes —indicação de Guilherme Derrite (PP-SP) para relator do projeto antifacção e a escolha de Jorge Messias para o STF— explicam apenas em parte o desassossego. Não seriam motivações suficientes para zangas tão explícitas, pois ambos os atos são prerrogativas de Motta e do presidente Luiz Inácio da Silva (PT).

Uma contrariedade de bastidor estaria de bom tamanho, mas quando a coisa assume dimensões de crise é porque há explicações mais condizentes com a realidade. No momento, digamos, eleitoral.

Lula lançou candidatura; Hugo Motta e Davi Alcolumbre (União Brasil) pertencem a partidos cujas direções já anunciaram que integrarão fileiras opostas em 2026. E a briga, note-se, só envolve nomes do PT. Somemos dois mais dois e chegaremos ao óbvio: é hora de disputar qualquer espaço à disposição.

Lembremos que foi o presidente Lula quem deu ordem unida à tropa ao tirar do armário a bandeira dos pobres contra os ricos e identificar o Congresso como defensor dos abastados. A partir dali ficaram demarcados os lados e autorizados o uso de pretextos para que se firmem as posições. Portanto, não há mistério algum na contenda.

Nesta quarta-feira (26) está marcada a cerimônia de sanção da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000. Convidados, Alcolumbre e Motta devem comparecer, e Lula pronto a fazer declarações de apreço que serão interpretadas como sinal de reaproximação.

Jogo de cena com prazo de validade até a próxima oportunidade. Seja Messias a vítima, o bolso da população nas pautas-bombas, o teatro em torno da segurança pública —tanto faz, porque o show tem de continuar.

 

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