terça-feira, 5 de junho de 2018

Opinião do dia: Manifesto: Por um polo democrático e reformista

"O Brasil vivenciou recentemente uma das maiores crises de sua história com múltiplas faces que interagem e se retroalimentam. Instabilidade política aguda, recessão econômica profunda, estrangulamento fiscal, corrupção endêmica e institucionalizada, radicalização em um ambiente social marcado pela desesperança, a intolerância e o sectarismo, conflitos e desarmonia entre os poderes republicanos. Faltam pouco mais de quatro meses para as eleições presidenciais. É uma oportunidade rara e única de recolocar o país nos trilhos, desenhando uma trajetória de retomada dos valores fundamentais da ética, do trabalho, da seriedade, do espírito público e dos compromissos com a liberdade, a justiça social e o desenvolvimento sustentável.

A eleição de 2018 se apresenta talvez como a mais complexa e indecifrável de todo o período da redemocratização. Existem ameaças e oportunidades, interrogações e expectativas, perplexidades e exigências da realidade povoando o ambiente pré-eleitoral.

Tudo que o Brasil não precisa, para a construção de seu futuro, é de mais intolerância, radicalismo e instabilidade. Para nos libertarmos dos fantasmas do passado, superarmos definitivamente a presente crise e descortinarmos novos horizontes é central a construção de um novo ambiente político que privilegie o diálogo, a serenidade, a experiência, a competência, o respeito à diversidade e o compromisso com o país.

É neste sentido que as lideranças políticas que assinam este manifesto conclamam todas as forças democráticas e reformistas a se unirem em torno de um projeto nacional, que a um só tempo, dê conta de inaugurar um novo ciclo de desenvolvimento social e econômico, a partir dos avanços já alcançados nos últimos anos, e afaste um horizonte nebuloso de confrontação entre populismos radicais, autoritários e anacrônicos.

Esta iniciativa, e isso é vital para seu sucesso, deve agregar, de forma plural, liberais, democratas, socialdemocratas, democratas cristãos, socialistas democráticos, numa discussão franca e aberta, sobre os nossos atuais dilemas e os caminhos para a construção do futuro desejado para o Brasil.
Este projeto nacional, visando à construção da necessária e urgente unidade política nas eleições, não deve ser obra de uma dúzia de líderes políticos e intelectuais. Para pavimentar o caminho da unidade terá obrigatoriamente de ser obra coletiva, envolvendo partidos políticos, lideranças da sociedade civil e todos aqueles que pensam o Brasil fora do paradigma autoritário, populista, atrasado e bolivariano.

Os que assinam esse manifesto lançam, como contribuição inicial ao debate e ao esforço coletivo que poderá ser desencadeado, pontos essenciais que podem gerar consensos progressivos em torno da agenda nacional e dos avanços necessários, a partir de uma perspectiva democrática e reformista."

Murillo de Aragão*: Um novo ciclo da política

- O Estado de S. Paulo

Caminhamos para uma República submetida ao poder burocrático dos atores do Judiciário

Independentemente de quem venha a ganhar as eleições presidenciais deste ano, algumas questões já estão postas. A primeira é que o próximo governo manterá o presidencialismo de coalizão.

Afinal, sem uma grande coalizão o presidente da República não conseguirá governar, já que o polo central da política se deslocou do Planalto para o gabinete do presidente da Câmara dos Deputados. Portanto, sem uma identificação política entre governo e presidência da Câmara a administração funcionará aos soluços e dependente de medidas provisórias que poderão ser rejeitadas in limine.

Outra questão posta e assegurada é que a Operação Lava Jato e seus sucedâneos continuarão a produzir efeitos e a emparedar o mundo político. Em consequência, a imprensa - que nunca nutriu simpatia pelo establishment político - continuará sua faina diária de desinstitucionalizar o universo político. Independentemente do tamanho e da gravidade da culpa de seus atores.

A terceira questão posta é que o mundo político, entre cético e acovardado, assiste à sua destruição institucional sem esboçar reação. Aceita a perda de terreno para o Judiciário, não se rebela contra o seu ativismo de forma consequente e não constrói uma narrativa minimamente coerente.

Políticos caminham em meio aos destroços como se as bombas atiradas pelo Ministério Público e pela Justiça não os atingissem. Engana-se o mundo político, pois vivemos tempos em que praticamente tudo na política foi criminalizado e a presunção da inocência deu lugar à certeza antecipada de culpa.

Bruno Boghossian: Incerteza eleitoral amplia tentação contra planos de economistas

- Folha de S. Paulo

Ressaca da paralisação pode provocar refluxo de medidas econômicas mais duras

A ressaca da paralisação dos caminhoneiros sugere que a eleição poderá ser resolvida em estradas cada vez mais distantes das plataformas elaboradas pelos economistas. O brasileiro quer subsídios para combustíveis, mas não quer pagar impostos que cobrirão essa conta. Pede um Estado eficiente, mas a maioria rejeita privatizações.

A aparente incoerência do eleitorado e a incerteza da disputa ampliam as tentações pelo caminho. À medida que a campanha avança, o receituário dos especialistas corre risco de valer menos do que os apelos que rendem voto fácil.

Boa parte dos presidenciáveis escalou conselheiros dispostos a empunhar a bandeira do ajuste das contas públicas —com corte de despesas, aumento de impostos ou venda de patrimônio. É difícil saber se os candidatos terão coragem de defender essa agenda até o fim.

Jair Bolsonaro (PSL) colocou algumas travas nas propostas mais impopulares de seu economista, o ultraliberal Paulo Guedes. O ex-capitão defende uma reforma da Previdência mais suave do que os planos de seu assessor e diz que a Petrobras só pode ser privatizada se o governo mantiver ações com poder especial.

Joel Pinheiro da Fonseca: O Brasil precisa da Copa

- Folha de S. Paulo

Trocamos a bola pela política, e isso não é nada bom

Segundo o Datafolha divulgou em maio, o número de pessoas que diz não ter interesse por futebol subiu de 31% para 41% de 2010 para cá.

A camisa verde-amarela virou uniforme de manifestante, não de torcedor. Trocamos a bola pela política, e isso não é nada bom.

O futebol é um fator de união nacional. Ao torcer, o sujeito se une a pessoas de cor, classe social e posições políticas diversas da sua.

Interage fora de seus círculos mais óbvios, aumentando sua empatia com quem é e pensa diferente.

A identidade do time fala mais alto que outras diferenças e serve, por isso, para superá-las. Na torcida pela seleção, o país inteiro se une em torno de um grande objetivo conjunto.

A ciência respalda essa percepção. Um estudo do National Bureau of Economic Research feito com seleções da África (Building Nations Through Shared Experiences: Evidence From African Football) conclui que vencer a Copa da África ou se qualificar para a Copa do Mundo aumenta o senso de identidade nacional dos habitantes do país e a confiança entre membros de diferentes etnias.

Toda união coletiva pressupõe um inimigo. É impossível que haja apenas uma torcida; sem uma torcida rival, ela perde a razão de ser.

Gaudêncio Torquato*: Mocinho agora é bandido

- O Estado de S. Paulo

Vamos diretamente ao ponto: Pedro Parente foi derrubado. Não saiu por vontade própria. Fez uma densa carta de demissão ao cargo, mas naquela escrita lê-se um desabafo do tamanho do mapa do Brasil. Foi vencido pela visão populista daqueles que acham que o preço dos combustíveis não pode e não deve ter como espelho aumento ou diminuição do barril de petróleo no mercado internacional. Essa foi a visão que balizou a era Dilma, com sua decisão de represar artificialmente preços e, desse modo, deixar nossa maior empresa no buraco.

Nos tempos de dona Rousseff, que se arvorava como exímia conhecedora de questões de petróleo e energia, o país vivia a artificial situação de alto consumo e certo conforto, graças à mistificação adotada para esconder a péssima planilha de contas. Como lembra o bom economista Adriano Pires, ele mesmo profundo conhecedor do mercado de petróleo, países onde os preços dos combustíveis seguem regras do mercado “são democracias consolidadas, e a sociedade tem um alto nível de bem-estar, como a Noruega e os Estados Unidos”. Outros que se ancoram no populismo para definir preços dos combustíveis são pouco democráticos e não atendem à população em suas necessidades básicas, como segurança pública, saúde e educação.

Assistimos, nos últimos dias, a um espetáculo canhestro. Atores com o intuito de chamar a atenção passaram a expressar um discurso populista, onde o apoio aos caminhoneiros era seguido de apelos por intervenção militar. Oportunistas e interesseiros de toda a espécie – inclusive empresários malandros – quiseram tirar proveito do movimento paredista. O candidato da extrema direita, Jair Bolsonaro, posando de herói, foi o alvo maior das Hosanas por encarnar a força militar, a ordem, a segurança nesse ciclo de tensões e perturbações. Felizmente, a cúpula militar reagiu negativamente ao apelo doidivanas de aventureiros.

Raymundo Costa: Faltou um Pedro Parente para gerir a crise

- Valor Econômico

Risco é o Congresso congelar preços

Rescaldo da paralisação dos caminhoneiros: se o assunto fosse conduzido com mais profissionalismo, não teria acabado na confusão que foi a greve e nem Pedro Parente teria saído da presidência da Petrobras. Faltou comando e vontade política para acelerar uma saída para a crise que tornou a população refém, por mais de uma semana, dos caminhoneiros e seus patrões.

Uma grande trapalhada. Uma das poucas pessoas a se salvar na confusão que o presidente Michel Temer e seus ministros mais próximos armaram foi um novato no governo, o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia. Deve-se a ele o fato de o governo Temer, contrariando tudo o que escreveu e disse desde o impeachment, não repetir os piores momentos do governo de Dilma Rousseff.

O ministro da Fazenda cresceu na crise, porque foi claro e direto em suas posições. Em nenhum momento concordou em dar aval que comprometesse ainda mais a questão fiscal - se tivesse que haver subsídio teria que cortar no Orçamento. A Petrobras também considerou correta a maneira como tratou a empresa. Resta esperar a reação da base aliada do presidente, que teme chegar à eleição às voltas com explicações sobre o preço dos combustíveis.

Em nenhum momento Guardia foi o ministro que tentou impor soluções a qualquer custo. Sempre declarava que o melhor era a solução que preservasse os princípios mais importantes da política econômica.

A fórmula encontrada para segurar o preço do diesel na bomba existia antes mesmo do bloqueio total das rodovias. A Petrobras, ao contrário do que foi dito de início, já havia concluído pela inviabilidade dos reajustes diários. Era preciso sentar e negociar. Dez pra cá, cinco pra lá. Mas sobretudo estabelecer também uma política para os preços do gás de cozinha e da gasolina. Como se diz na estatal, ninguém é bobo de achar que o problema acabou com o acordo do diesel.

Eliane Cantanhêde: O eleitor militar

- O Estado de S.Paulo

Assim como a maioria dos eleitores, militares também estão cheios de dúvidas

De supetão, o general Eduardo Villas Bôas, comandante do Exército, pergunta:

– Você é a favor da intervenção militar?

A resposta é óbvia e rápida:

– Eu? Sou absolutamente contra!

E ele, com um sorriso:

– Você é? Pois eu sou mais ainda!

É assim que as Forças Armadas se esforçam para afastar mais esse fantasma, nesses tempos já tão conturbados e assombrados, e tentam focar em questões mais imediatas e objetivas: fazer as contas dos seus gastos durante as missões extras durante a greve dos caminhoneiros, cumprir bem o mandado de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) no Rio e se informar sobre candidatos e propostas para outubro.

Alvaro Dias, por exemplo, já debateu com oficiais em Santa Maria (RS) e a intenção é convidar todos os presidenciáveis bem colocados nas pesquisas para apresentar seus programas, suas ideias e suas intenções a oficiais da Força. Sem preconceito.

O Exército já ouviu ou está pronto a ouvir Ciro, Marina, Alckmin, Meirelles, Rabello de Castro, Bolsonaro... E o candidato do PT? A resposta dos oficiais é rápida e dada com naturalidade: assim que ficar definido o nome do PT, também será convidado.

As Forças Armadas, aliás, não tiveram dificuldade com os governos civis, muito menos com Lula, que nomeou Nelson Jobim para a Defesa, patrocinou a “Estratégia Nacional de Defesa” e bancou os maiores programas de reaparelhamento em décadas, como os submarinos da Marinha e os jatos da FAB anunciados já com Dilma Rousseff.

A boa relação continuou com Dilma. Quando ela queria reclamar de alguém ou de um programa, apontava o dedo para generais, brigadeiros e almirantes e tascava: “Vocês deveriam fazer como os militares! Aprendam com eles!”.

Merval Pereira: Freud explica

- O Globo

A revelação pela repórter da GloboNews Andréia Sadi de que a Polícia Federal encontrou na casa de Carlos Alberto Costa, sócio do coronel Lima, documentos que indicam uma relação direta entre o amigo de Temer e empresas que estão sendo investigas na Operação Skala como a Rodrimar e grupo Libra, trazem de volta uma intrigante questão, evidenciada durante vários momentos da Operação Lava-Jato: por que tantos envolvidos em falcatruas mantém guardados documentos e celulares com informações que poderiam ser destruídas para não incriminá-los?

Um dos caixotes com documentos comprometedores foi descoberto no quarto do bebê, o que demonstra claramente a intenção de escondê-los. É verdade que picotadoras de papel têm funcionado bastante desde 2014. Houve muita destruição de documentos em papel e eletrônicos durante a investigação. O depoimento de Ricardo Pessoa, da UTC, confirma esse, digamos assim, hábito entre os executivos envolvidos na Lava-Jato.

É difícil manter controle de tudo, e às vezes as pessoas são incautas. Outras guardam as provas para negociar uma delação premiada mais tarde, ou para chantagear seus cúmplices, ou para se vingar. O próprio ex-presidente Lula foi vítima dessa síndrome, pois deixou em sua casa um documento rasurado com referências ao tríplex do Guarujá.

O fato é que os achados incriminadores foram uma constante. No caso de Marcelo Odebrecht, ex-presidente da empreiteira que leva seu nome, os celulares foram fontes inesgotáveis de informações mais de um ano depois de as primeiras prisões de executivos serem feitas. O diretor do setor de operações estruturadas da Odebrecht, Hilberto Silva, depôs reclamando de Marcelo, que sempre orientava os executivos a não registrar nada no celular, mas foi incauto com o próprio.

Marcelo Odebrecht se vangloriava de que ninguém entraria na sua casa. Mandava que executivos que estivessem sob a mira de investigações fossem se hospedar em sua casa, como se fosse uma fortaleza inexpugnável.

O sentimento de impunidade certamente é uma explicação razoável para a reiteração de crimes, mas é sintomático que presos no mensalão tenham reincidido no crime. A psicopatia pode ser outra explicação. Estudo realizado pela Universidade Bond, na Austrália, conduzido pelo psicólogo forense Nathan Brooks, revelou que um em cada cinco CEOs ou diretores executivos apresenta características clínicas de psicopatia.

Outro estudo, liderado pelo psicólogo Paul Babiak, de Nova York, mostra que até 4% dos líderes de negócios nos Estados Unidos poderiam ser considerados psicopatas. A explicação para esse fenômeno seria o cenário competitivo do mundo empresarial — executivos que colocam a ambição acima de tudo e não têm escrúpulos de manipular as pessoas para sua vantagem. Esse seria um perfil vencedor no mundo corporativo.

Ricardo Noblat: Concurso para fiscal de Temer

- Blog do Noblat

Você topa ajudar o governo?

O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, o general da reserva Sérgio Etchegoyen, disse que o governo federal utilizará todo o seu poder de polícia para garantir que o óleo diesel tenha desconto de R$ 0,46 nos postos de gasolina, mas, porém, contudo…

São quase 39 mil postos de gasolina no país. Desta vez não há como apelar para o Exército que tem mais o que fazer, e que já faz coisas para as quais não foi criado. Quanto às polícias, estão sobrecarregadas em um dos países campeões de mortes violentas.

Então… Embora Etchegoyen não tenha dito isso, o governo alimenta a esperança de que os brasileiros colaborem espontaneamente com ele fiscalizando os postos e denunciando os que desrespeitarem o desconto prometido aos caminhoneiros.

Seria a reedição dos “fiscais de Sarney”. Em 1986, o presidente José Sarney congelou preços e salários para tentar conter a inflação. A medida foi tão aplaudida que milhares de brasileiros viraram os fiscais do presidente, com autoridade até para prender.

FAP Entrevista – Marcus Pestana defende união frente à fragmentação das forças democráticas

- Assessoria FAP/Germano Martiniano

Em um ano em que milhões de brasileiros irão eleger um novo presidente da República, a esperança de propostas políticas progressistas e que girem em torno de um ambiente reformista e democrático ainda está assentada no centro democrático, que no atual momento se encontra bastante fragmentado.

De Marina Silva (Rede Sustentabilidade) ao governador Geraldo Alckmin (PSDB), nenhum candidato conseguiu emplacar candidaturas fortes. Por quê? E quais propostas devem estruturar e unir o centro democrático para fazer frente ao radicalismo que tem imperado em nossa política? São essas respostas que o manifesto por um polo democrático e reformista” busca dar à população brasileira.

Sob a iniciativa do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do senador Cristovam Buarque (PPS-DF), do ministro Aloysio Nunes Ferreira e do deputado federal Marcus Pestana (PSDB-MG), o documento será lançado nesta terça-feira (05), em Brasília, às 16h, no Café do Salão Verde da Câmara dos Deputados.

A série FAP Entrevista desta semana é com o deputado federal Marcus Pestana (PSDB-MG), um dos autores do manifesto e ex-presidente do PSDB de Minas Gerais. Na conversa, o tucano lembra como surgiu a ideia de se criar o manifesto. “A iniciativa surgiu de uma conversa minha com o senador Cristovam Buarque”, conta.

“Decidimos nos movimentar frente à fragmentação das forças democráticas”, disse o parlamentar, citando uma frase do senador do PPS do Distrito Federal para sintetizar a situação. “Precisamos encontrar um caminho entre o desastre a catástrofe, por isso tivemos essa ideia que contou com o apoio entusiasta de FHC, Aloysio Nunes e mais trinta signatários”, disse.

Formado em economia, Marcus Pestana iniciou sua vida política como vereador de Juiz de Fora (MG) em 1983. Em 2006, foi eleito deputado estadual, porém se afastou do cargo em 2007, quando se tornou secretário de Estado da Saúde de Minas Gerais. Em 2010, foi eleito deputado federal e reeleito em 2014. Nesta função votou a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e também da reforma Trabalhista. Em 2013 foi avaliado pela revista Veja como o segundo melhor deputado federal do País naquele ano.

A entrevista com o tucano integra uma série que a FAP está publicando com intelectuais e personalidades políticas de todo o Brasil, com o objetivo de ampliar o debate em torno do principal tema deste ano, as eleições de outubro.

Veja, abaixo, os principais trechos da entrevista com o parlamentar tucano.

Centro e esquerda atuam por candidaturas únicas

Partidos apostam em redução do número de pré-candidatos à Presidência; Manuela fala em união das siglas esquerdistas, enquanto centro articula ‘polo democrático’

Pedro Venceslau e Ricardo Galhardo | O Estado de S.Paulo

A um mês e meio do início das convenções partidárias que vão definir os candidatos ao Palácio do Planalto, o cenário eleitoral começa a indicar uma depuração dos 17 nomes que se apresentaram até agora como pré-candidatos. Na avaliação de especialistas e líderes políticos, as articulações que vão levar a um “filtro” das pré-candidaturas serão intensificadas até agosto.

O temor de uma eleição polarizada entre um nome da esquerda e o deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ) motivou um grupo de parlamentares e líderes de vários partidos a lançar nesta terça-feira, 5, na Câmara o “Manifesto do polo democrático”, movimento que vai tentar unificar o “centro” em torno de uma candidatura.

Na esquerda, a deputada estadual Manuela D’Ávila (PCdoB) admitiu ontem abrir mão de sua pré-candidatura à Presidência. Pela primeira vez um dos presidenciáveis deste campo político fez uma declaração explícita a favor de uma união dos partidos já no primeiro turno da eleição presidencial.

“Nós já fizemos o gesto. Se eu não for candidata, os outros três se entendem para nós estarmos unidos? A unidade da esquerda representa isto: nós estaremos todos unidos em uma única candidatura? Os outros três têm essa disposição? Eu não sou óbice”, disse a deputada gaúcha ao Estadão/Broadcast.

O objetivo, segundo fontes do PCdoB, é “chamar o PT à razão” de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Operação Lava Jato, terá a candidatura barrada pela Lei Ficha Limpa e dificilmente deixará a prisão até a eleição. Lula foi sentenciado em segunda instância a 12 anos e 1 mês por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Na análise do cientista político Marco Antonio Teixeira, professor do departamento de gestão pública da FGV-SP, a tendência é de que as pré-candidaturas de centro-esquerda e esquerda se afunilem mais rapidamente na comparação com o campo do centro. “É possível que PDT, PSB e PCdoB se acertem antes do primeiro turno e fortaleçam a campanha de Ciro Gomes”, afirmou.

Reservadamente, deputados e líderes partidários dizem que depois da Copa do Mundo o debate deve avançar para a escolhas de nomes que devem compor a chapa nos dois campos. Os partidos que indicarem os candidatos a presidente e a vice terão que sacrificar projetos estaduais em nome da unidade. “O processo vai se afunilar. Haverá uma diminuição no número de candidatos”, disse o presidente do PPS, Roberto Freire.

Critério. O autointitulado “polo democrático” é formado por parlamentares do PSDB, DEM, PPS, PSD, PTB e PV e intelectuais. Um dos critérios para a união em torno de um candidato único é a avaliação das pesquisas de intenção de voto. A sigla tucana, porém, não aceita que este seja o único.

“Esse não é um movimento de avaliação de pesquisas, de ver quem está melhor. Se fosse nortear por pesquisa, não precisava de carta. É uma mobilização que tem como pano de fundo a ideia de alertar o risco que corre o País de ter um rumo de radicalismo muito à esquerda ou muito à direita”, disse o deputado Silvio Torres (SP), secretário-geral do PSDB.

Entre os signatários do manifesto que será lançado hoje está o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Políticos lançam manifesto por união do 'centro'

Por Marcelo Ribeiro e Carla Araújo | Valor Econômico

BRASÍLIA - Um manifesto suprapartidário será lançado hoje com o objetivo de defender a formação de um bloco único das legendas ditas de centro, já no primeiro turno da disputa eleitoral. Até agora, são cerca de 30 signatários, entre intelectuais e parlamentares ligados a vários partidos, como PSDB, MDB, DEM, PPS, PTB, PSD e PV. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o senador Cristovam Buarque (PPS-DF) foram alguns dos que assinaram o texto.

Batizado "Por um polo democrático e reformista", o documento avalia que a eleição de 2018 é "uma oportunidade rara e única" de recolocar o país nos trilhos e "se apresenta talvez como a mais complexa e indecifrável de todo o período da redemocratização".

"Existem ameaças e oportunidades, interrogações e expectativas, perplexidades e exigências da realidade povoando o ambiente pré-eleitoral. Tudo que o Brasil não precisa, para a construção de seu futuro, é de mais intolerância, radicalismo e instabilidade. Para nos libertarmos dos fantasmas do passado, superarmos definitivamente a presente crise e descortinarmos novos horizontes é central a construção de um novo ambiente político que privilegie o diálogo", propõe o manifesto.

Dois dos principais signatários, Cristovam e deputado Marcus Pestana (PSDB-MG) negam que o manifesto seja para favorecer o pré-candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, que, entre os postulantes do centro, é o que aparece em melhor posição nas pesquisas mais recentes. "Não é uma articulação pró-Alckmin. É um chamado pela unidade do centro político para evitar que a dispersão nos tire do segundo turno e para impedir o duelo do apocalipse, entre a catástrofe e o desastre", disse Pestana. "Se fosse um movimento parcial, pediríamos que os outros pré-candidatos do centro deixassem a disputa. A unidade deve ser em torno de quem estiver alinhado com os pontos do manifesto e despontar nas pesquisas", completou Cristovam.

Alckmin foca em SP para impulsionar intenções de votos

Por Raphael Di Cunto | Valor Econômico

BRASÍLIA - Pressionado pelo desempenho fraco nas pesquisas em seu próprio território, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) finalmente decidiu dar atenção especial ao Estado, afirmam seus principais aliados, e encomendou um plano estratégico para tentar crescer no Estado e com isso impulsionar suas projeções de votos nacionalmente.

A estratégia é tornar mais conhecida sua candidatura e rivalizar com outro presidenciável, o deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ), o mostrando como alguém intolerante e de posições contraditórias na economia e muitas vezes próximas as do PT. Embora não vá deixar de viajar pelo resto do país para se tornar mais conhecido, a decisão de intensificar as ações em São Paulo decorre da avaliação de que é lá o maior potencial de crescimento na pré-campanha.

Alckmin tem repetido que só haverá mudanças expressivas nas pesquisas quando a campanha começar de fato, em agosto. Até lá, a população não prestará atenção o suficiente para alterações relevantes no quadro - que, aposta o tucano, repetirá a velha polarização PT x PSDB das últimas seis eleições, segundo relatou a deputados do partido esta semana.

A falta de apoio até em São Paulo, contudo, é um problema que o tucano avisou a aliados que precisa ser superado ainda na pré-campanha. Figurar atrás de Bolsonaro no Estado que ele governou por quatro mandatos é uma fragilidade que dificulta a formação de uma aliança mais ampla, que garanta o maior tempo de propaganda eleitoral na TV durante a campanha.

Competência como problema: Editorial | O Estado de S. Paulo

O Brasil, ao que parece, não está pronto para uma gestão profissional e apolítica de suas empresas estatais. Sempre que uma estatal ou banco público começa a ter critérios racionais de administração, tornando-se infenso aos usos e costumes clientelistas e patrimonialistas, os grupos de pressão - sejam políticos, sejam sindicais - tratam logo de sabotar esses esforços. Donde se pode concluir que estatais, geralmente em nome de um obscuro "interesse nacional", jamais serão gerenciadas para manter seu equilíbrio financeiro e ter recursos para investir, pois só existem - é o que parece - para satisfazer objetivos estranhos ao seu negócio.

O recente caso da Petrobrás é apenas um exemplo. Como se sabe, a estatal chegou à beira da ruína depois de anos servindo aos projetos megalomaníacos dos governos de Lula da Silva e de Dilma Rousseff. Felizmente, o impeachment de Dilma interrompeu esse processo, pois o sucessor da petista, o presidente Michel Temer, tratou rapidamente de entregar a administração da empresa a Pedro Parente, um executivo com indiscutível capacidade administrativa. Nenhuma das qualidades de Parente, contudo, teria sido suficiente para salvar a Petrobrás se o presidente Temer não tivesse atendido às principais exigências do executivo para aceitar o cargo, isto é, total autonomia para definir os rumos da Petrobrás e garantia de que não haveria interferência política na sua gestão.

Mais competição no mercado de combustíveis: Editorial | O Globo

Além de ser necessária absoluta transparência na formação dos preços, no próprio setor é preciso que haja efetiva competição, para que ele reduza seus custos

A saída de Pedro Parente da Petrobras, em que esteve à frente de mudanças que levaram a estatal para a racionalidade, como uma política de preços reais dos combustíveis, derrubou o valor de mercado da empresa em vários bilhões. Com títulos em bolsa dentro e fora do país, muito natural que a Petrobras sofresse uma fuga de investidores, em função do longo passado de intervenções de cunho populista na empresa, feitas pelo seu maior acionista, a União.

Ações desvalorizadas são um alarme que chama a atenção dos administradores da companhia para as dificuldades que terão quando precisarem capitalizar a empresa no mercado e mesmo na obtenção de crédito no sistema bancário. O risco financeiro da Petrobras voltou a crescer.

Mas depende do governo reverter ou não a má impressão que ficou do entendimento a que chegou com os caminhoneiros, fazendo concessões cujo resultado é sobrecarregar o contribuinte, por praticar congelamento e controle de preço, instrumentos que já se deveria saber que não funcionam.

E ainda foi além, ao intervir no mercado de fretes, com a criação de valores mínimos a serem recebidos pelo transportador, vítima de uma política desregrada de incentivo à compra de caminhões, entre 2009 e 2015, com Lula e Dilma. Caso clássico de aumento de oferta (de transporte de carga) que superou a procura e fez com que o preço (o frete) caísse. Há incontáveis exemplos de como este tipo de tabelamento também não funciona.

Causa própria: Editorial | Folha de S. Paulo

Uso do Sistema S para promover Skaf mostra riscos criados por falta de renovação de entidades

Sustentadas por contribuições compulsórias das empresas, as entidades do chamado Sistema S arrecadaram R$ 17 bilhões no ano passado. A maior parte do dinheiro foi aplicada em escolas, centros culturais e outros empreendimentos. Uma fatia não desprezível dos recursos serviu apenas para promover o emedebista Paulo Skaf.

Presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) desde 2004, ele dirige as seções estaduais do Sesi (Serviço Social da Indústria) e do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) sem nenhuma inibição.

Às vésperas das eleições de 2014, quando Skaf foi candidato ao governo do estado, elas investiram R$ 22 milhões para produzir e veicular anúncios em que o empresário exaltava as suas realizações à frente das duas entidades.

As inserções permitiram que ele alcançasse exposição maior do que a de celebridades e apresentadores de televisão na época, numa fase da campanha eleitoral em que os candidatos estavam impedidos pela legislação de fazer propaganda.

Destino da política de preços da Petrobras é incerto: Editorial | Valor Econômico

O pedido de demissão de Pedro Parente da direção da Petrobras deixou um ponto de interrogação sobre o destino da política de preços da estatal. O fantasma do passado recente, do controle político de preços durante o governo de Dilma Rousseff, voltou a assombrar o presente, e há quem tema o retorno de uma estratégia danosa. O vislumbre dessa ameaça teria levado Parente a deixar o cargo. Desgastado politicamente com a paralisação dos caminhoneiros, Parente, ao ver a volta da gambiarra dos subsídios e movimentos à luz do dia dentro do governo para modificar a estratégia de preços da empresa, teria resolvido que era melhor ir embora.

Estatal, a Petrobras depende dos interesses de seu acionista majoritário, sejam eles virtuosos ou daninhos. Pedro Parente ascendeu ao comando da empresa para eliminar os resquícios de influência político-partidária que a colocaram no centro do maior escândalo de corrupção da história republicana, e pôr os negócios em ordem. Isso significava recuperar a rentabilidade da empresa, equacionar uma dívida gigantesca, revalorizar a estatal para os acionistas, redimensionar seu tamanho vendendo ativos, e maximizar suas receitas. A Petrobras foi profissionalizada sob sua gestão, sob a promessa de que a política de preços adotada sob sua direção não mudaria aos sabores das conveniências do Planalto.

O curto circuito da greve dos caminhoneiros pôs em xeque a autonomia da Petrobras em ditar seus preços, embalados pelo repasse imediato das variações das cotações do petróleo no mercado externo e da taxa de câmbio. A escalada dos preços tornou-se o alvo primeiro da revolta, que foi, no entanto, gerada por acúmulo de adversidades: ampliação excessiva, com subsídios, da frota de caminhões no governo Dilma, uma aguda recessão que fez desaparecer a demanda e a exasperantemente lenta recuperação que não a fez reagir.

Asa Branca - Auditório Ibirapuera

Carlos Drummond de Andrade: Brinde no banquete das musas

Poesia, marulho e náusea,
poesia, canção suicida,
poesia, que recomeças
de outro mundo, noutra vida

Deixaste-nos mais famintos,
poesia, comida estranha,
se nenhum pão te equivale:
a mosca deglute a aranha.

Poesia sobre os princípios
e os vagos dons do universo:
em teu regaço incestuoso,
o belo câncer do verso.

Poesia, sobre o telúrio,
reintegra a essência do poeta,
e o que é perdido se salva...
Poesia, morte secreta.