Por Raphael Di Cunto | Valor Econômico
BRASÍLIA - Pressionado pelo desempenho fraco nas pesquisas em seu próprio território, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) finalmente decidiu dar atenção especial ao Estado, afirmam seus principais aliados, e encomendou um plano estratégico para tentar crescer no Estado e com isso impulsionar suas projeções de votos nacionalmente.
A estratégia é tornar mais conhecida sua candidatura e rivalizar com outro presidenciável, o deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ), o mostrando como alguém intolerante e de posições contraditórias na economia e muitas vezes próximas as do PT. Embora não vá deixar de viajar pelo resto do país para se tornar mais conhecido, a decisão de intensificar as ações em São Paulo decorre da avaliação de que é lá o maior potencial de crescimento na pré-campanha.
Alckmin tem repetido que só haverá mudanças expressivas nas pesquisas quando a campanha começar de fato, em agosto. Até lá, a população não prestará atenção o suficiente para alterações relevantes no quadro - que, aposta o tucano, repetirá a velha polarização PT x PSDB das últimas seis eleições, segundo relatou a deputados do partido esta semana.
A falta de apoio até em São Paulo, contudo, é um problema que o tucano avisou a aliados que precisa ser superado ainda na pré-campanha. Figurar atrás de Bolsonaro no Estado que ele governou por quatro mandatos é uma fragilidade que dificulta a formação de uma aliança mais ampla, que garanta o maior tempo de propaganda eleitoral na TV durante a campanha.
Pesquisa Ibope divulgada na semana passada pela Band mostra Bolsonaro a frente nas intenções de voto em São Paulo. "Esses votos do Bolsonaro são nossos", afirma o tesoureiro do PSDB e um dos principais aliados de Alckmin, o deputado federal Silvio Torres (SP). O deputado do PSL, com um discurso mais radical, conquistou os votos da direita e dos conservadores, que tradicionalmente votavam no PSDB como contraponto aos candidatos do PT. Se vender como o candidato mais forte para vencer os petistas é parte da estratégia para "recuperar" esses votos.
O objetivo é alcançar pelo menos 30% das intenções de voto em São Paulo, maior colégio eleitoral do país. Significaria dobrar os votos que têm hoje no Estado. Se conseguir, seriam 10 milhões de eleitores, cerca de 7% das intenções de voto totais, número suficiente para ultrapassar a barreira dos dois dígitos se somados os apoios em outras regiões do país.
Segundo Torres, pesquisas internas apontariam que a população paulista ainda não sabe que o ex-governador já deixou o cargo e é candidato à Presidência. A renúncia ocorreu no dia da prisão do ex-presidente Lula, fazendo com que outros acontecimentos fossem ignorados, e só agora o governador, Márcio França (PSB), começa a ser mais conhecido.
Alckmin confidenciou a bancada do PSDB na Câmara esta semana um problema adicional: sem o cargo, tem dificuldade de aparecer. A imprensa não dá mais tanto destaque a seus posicionamentos em relação ao período em que era governador e ele sumiu da TV - se as emissoras divulgarem suas agendas, teriam que fazer com todos os demais candidatos.
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