Uso do Sistema S para promover Skaf mostra riscos criados por falta de renovação de entidades
Sustentadas por contribuições compulsórias das empresas, as entidades do chamado Sistema S arrecadaram R$ 17 bilhões no ano passado. A maior parte do dinheiro foi aplicada em escolas, centros culturais e outros empreendimentos. Uma fatia não desprezível dos recursos serviu apenas para promover o emedebista Paulo Skaf.
Presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) desde 2004, ele dirige as seções estaduais do Sesi (Serviço Social da Indústria) e do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) sem nenhuma inibição.
Às vésperas das eleições de 2014, quando Skaf foi candidato ao governo do estado, elas investiram R$ 22 milhões para produzir e veicular anúncios em que o empresário exaltava as suas realizações à frente das duas entidades.
As inserções permitiram que ele alcançasse exposição maior do que a de celebridades e apresentadores de televisão na época, numa fase da campanha eleitoral em que os candidatos estavam impedidos pela legislação de fazer propaganda.
Skaf está novamente em campanha para governador neste ano e voltou a recorrer aos cofres do Sistema S para vender seu peixe. Levantamento feito por esta Folha mostra que o número de vídeos institucionais em que ele aparece se multiplicou no ano passado.
A seção paulista do Senai divulgou na internet 12 filmes em 2017, três vezes mais do que no ano anterior. Em todos, o dirigente-candidato é protagonista. A quantidade de propagandas veiculadas pelo Sesi mais do que dobrou.
Embora o objetivo declarado dos vídeos seja exibir o trabalho das entidades, alguns deles nem sequer disfarçam seu verdadeiro propósito. Há imagens de Skaf brincando com animais de estimação, aplaudindo um espetáculo musical e prometendo revelar uma tatuagem.
O caso chama atenção para os riscos que a ausência de renovação na cúpula de organizações como a Fiesp cria. Skaf exerce atualmente seu quinto mandato e já modificou os estatutos da entidade duas vezes para continuar no cargo.
Preocupa também a falta de rigor na fiscalização dos recursos controlados pelo Sistema S. Há três anos, ao analisar os anúncios da campanha de 2014, o Tribunal de Contas da União concluiu que não lhe cabia interferir se o material fora aprovado pelos conselhos de administração do Sesi e do Senai.
Espera-se tratamento menos complacente na próxima vez que o TCU se debruçar sobre o tema. O Ministério Público está examinando os filmetes produzidos no ano passado, em busca de possíveis infrações à legislação eleitoral.
Cabe aos órgãos de controle cuidar para que o dinheiro do Sistema S seja aplicado com eficiência —e não desviado para benefício pessoal de dirigentes como Skaf.
Nenhum comentário:
Postar um comentário